Roberto Fonseca
postado em 28/06/2019 06:00
Todo brasiliense tem uma história para contar sobre a Rodoviária do Plano Piloto. Nascido e criado aqui, sempre circulei por um dos monumentos-símbolos da capital federal. Além de ser o principal ponto de encontro urbano de Brasília, concentra serviços públicos fundamentais para o dia a dia da população. Tanto que a notícia da interdição de parte da plataforma superior por conta de um risco de desabamento iminente assusta e causa preocupação.
Da época de estudante, em meados dos anos 1980 e 1990, lembro da Rodoviária como ponto de passagem. Usava para para ir ao colégio/universidade ou para um lanche rápido, o tradicional pastel com caldo de cana. Já na vida adulta, estive muito por ali para usar serviços do Na Hora ou resolver pendências do alistamento militar. Com o uso do carro, diminui muito a frequência, mas sempre permaneceu a sensação de que o terminal, por onde circulam 700 mil pessoas diariamente, havia parado no tempo.
A estrutura é a mesma praticamente desde a época da inauguração da Rodoviária, ocorrida em setembro de 1960. Reformas pontuais sempre foram feitas aqui e ali. A mais recente delas começou há cinco anos, com a troca de instalações elétricas, hidráulicas, eletrônicas e a gás, além de um novo sistema contra incêndio.
Mas o problema era ainda mais grave. Trecho de um laudo da Novacap, tornado público na quarta-feira, aponta que os engenheiros identificaram na laje de cobertura da plataforma inferior "o rompimento de cabos por corrosão; movimentação anormal com abertura de frestas em vigas de encabeçamento do caixão perdido da plataforma superior; problemas de infiltração; problemas com estrutura do reservatório de incêndio; e corrosão nos guarda-corpos dos viadutos, fissuras de vigas e lajes".
É muito triste ver uma cidade nova, prestes a completar 60 anos, com tão graves problemas estruturais e cada vez mais distante de jorrar leite e mel, como sonhou o padre italiano Dom Bosco. A lembrança do viaduto da Galeria dos Estados, que desabou perto dali em fevereiro do ano passado, torna-se, então, inevitável, até porque uma eventual ruptura da estrutura da Rodoviária tem um potencial trágico muito maior. Antecipar-se aos problemas faz parte da tarefa de qualquer governo. Os transtornos causados pela interdição do trânsito aparentam ser temporários, mas a solução precisa ser definitiva. Não dá mais para o medo continuar a rondar pelo terminal. Basta.