postado em 29/06/2019 04:16
Em uma das piores epidemias de dengue registradas no Distrito Federal, o número de mortes causadas pela doença subiu para 31 neste ano ; duas a mais que o divulgado no último relatório, há duas semanas. Outros dois óbitos são investigados. O boletim epidemiológico de ontem apontou que houve mais de 31,1 mil notificações prováveis, e observou-se a maior incidência na Região de Saúde Norte (com 20,8% dos registros) ; Fercal, Sobradinho e Planaltina. A mesma área concentrou o maior número de mortes, com 10 casos (32,3%).
Os dados de 2019 colocaram o DF em destaque no país. Até 15 de junho, segundo o último boletim divulgado pelo Ministério da Saúde, o DF figurava em sexto lugar entre as unidades federativas onde o número de casos prováveis de dengue mais cresceu em comparação a 2018. Em relação ao número de mortes, a situação é pior: no Brasil, contabilizaram-se 388 óbitos provocados pela doença. Nesse índice, o DF ficou em quarto lugar, com 28 casos (7,2% do total).
Apesar de as taxas serem alarmantes, a Secretaria de Saúde afirmou que os números ;caíram significativamente;. Subsecretário de Atenção Integral à Saúde, Ricardo Ramos afirmou que as ações de prevenção da Vigilância Sanitária continuam. A pasta discute a contratação de médicos emergencistas e enfermeiros para reforçar o atendimento nas unidades de saúde, pois as atividades nas tendas de hidratação para pessoas com sintomas da doença acabam amanhã. ;A situação começa a ficar controlada. A tendência é de uma nova frente de atuação, principalmente no controle dos vetores;, declarou Ricardo.
Subsecretário de Vigilância à Saúde, Divino Valero Martins disse que a secretaria manterá atividades permanentes para contenção do avanço de ;processos endêmicos com características epidêmicas;. ;A epidemia não acabou, mas houve queda. Trabalhamos para acabar com ela por completo. Intensificaremos o uso do fumacê nas áreas onde os índices permanecem altos e adotaremos metodologias como distribuição de armadilhas e verificação da densidade populacional de mosquitos por bairros;, detalhou.
Atendimento
As tendas de hidratação para pacientes com sintomas da dengue na Estrutural, em São Sebastião e no Varjão foram desativadas, mas a população tem até domingo para recorrer aos serviços das unidades montadas em Brazlândia, Ceilândia, Guará, Itapoã, Planaltina, Samambaia e Sobradinho. Depois disso, os pacientes deverão procurar atendimento nas unidades de saúde da rede pública.
Nos últimos dias de funcionamento, houve grande movimentação na tenda de hidratação montada na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de Ceilândia. A todo momento pacientes com os sintomas da dengue buscavam o serviço. Moradora do Sol Nascente, a aposentada Maria José Lopes da Silva, 76 anos, era uma das pessoas que aguardavam o resultado do exame. ;Sinto muita dor de cabeça e no corpo. Estou com os sintomas há três dias. Fui à UPA, e me encaminharam para cá;, contou.
Enquanto muitos ainda procuravam pelo teste, outros, como o segurança Atail José do Santos, 39, faziam o acompanhamento da doença. Ele passou três dias internado na semana passada, após ser diagnosticado com o vírus. ;Estava tomando soro, mas minhas plaquetas estavam muito baixas, e eles me internaram. Recebi alta, mas ainda estou com os sintomas;, comentou o paciente, que foi à UPA para fazer novo exame.
Efeito da seca
Com a seca, a tendência é de que os números da doença diminuam, segundo o médico epidemiologista da Universidade de Brasília (UnB) Pedro Luiz Tauil. ;A dengue tem essa característica chamada de sazonalidade. Entre novembro e maio, há um aumento de registros, mas, depois, os números começam a diminuir. Este ano, tivemos muitos casos em junho porque as chuvas se prolongaram;, explicou.
Pedro Luiz acrescenta que a queda de notificações da doença não pode fazer com que as pessoas deixem de tomar cuidados básicos de combate ao mosquito. ;O ponto negativo na sazonalidade é que, quando os números começam a cair, ninguém mais presta atenção às atitudes de vigilância para que não haja novos criadouros;, observou Tauil.
O médico infectologista Leandro Machado alerta que seca e a diminuição dos números não significam o fim da epidemia. ;Só os próximos dados poderão confirmar isso. Se eles conseguirem suprir a demanda com a estrutura existente, não vejo problema em desativar as tendas;, comentou.
*Estagiária sob supervisão de Renato Alves