Cidades

PM de folga mata jovem a tiro em bar

Sargento alega que disparo ocorreu em uma tentativa de roubo, mas testemunha afirma que tiro foi efetuado em meio a uma confusão entre amigos

postado em 29/06/2019 04:16
A vítima
Ithallo Matias Gomes, 20 anos

» Natural de Poranga (CE), 
fixou-se em Brasília há dois anos
» Morava no Itapoã
» Trabalhava como mecânico e pintor de parede
» Morreu com um tiro disparado por um PM de folga, em um bar


A Polícia Civil investiga a morte de um jovem de 20 anos, em um bar do Itapoã, na madrugada de ontem. Ele levou um tiro de Carlos Eduardo Lopes Vidal, 45, sargento da Polícia Militar, que não estava em serviço. Atingido no peito, Ithallo Matias Gomes foi levado ao Hospital Regional de Santa Maria (HRS) em estado grave, mas não resistiu aos ferimentos. Duas horas após o disparo, o militar foi à 6; Delegacia de Polícia (Paranoá) registrar ocorrência, por isso não foi preso em flagrante.

Em depoimento, Carlos Eduardo alegou ter reagido a uma tentativa de roubo. Ithallo teria conseguido pegar a arma do PM, que estava presa à cintura, quando ele deixava o bar. Ainda de acordo com o militar, os dois teriam disputado a arma e ;a pistola acabou disparando;. O sargento afirmou não saber quem acionou o gatilho, porque ;ambos puxavam a pistola de cada lado;. No entanto, testemunhas deram outra versão, também em interrogatório na delegacia.

O médico que atendeu Ithallo no HRS disse que o jovem chegou consciente à sala de cirurgia e relatou que havia ;trombado com uma pessoa no local e, imediatamente, fora alvejado;. Uma mulher que declarou ter um caso extraconjugal com Carlos Eduardo e afirmou estar com ele no momento do disparo contou outra versão. De acordo com ela, o tiro foi motivado por uma briga entre o sargento e dois homens que faziam parte de um grupo de amigos dela. Eles desconheciam a relação entre a amiga e o PM.

Aos investigadores, ela disse que os colegas ;foram tirar satisfação; com o PM quando ele a abraçou, por acharem que estava ;dando em cima; dela de forma forçada. Segundo a mulher, o sargento estava acompanhado de dois amigos ; um deles, agente penitenciário. Na confusão, Carlos Eduardo levou um soco no rosto e avançou sobre o militar, dizendo que estava armado. A mulher conta que tentou segurar o braço do sargento, mas foi empurrada por ele. Então, o amigo dela teria saído correndo e sido perseguido pelo militar, com a arma em mãos.

;O Ithallo imaginou que o PM estava tentando forçar uma relação com a mulher e isso iniciou a briga. Os dois se empurraram, trocaram ofensas e começaram uma discussão generalizada. Nisso, o garoto deu um soco no policial, que teria sacado a arma e atirado no pescoço dele;, descreveu a delegada Jane Klébia, da 6;DP. A vítima chegou a ser levada com vida para o Hospital Regional do Paranoá (HRP), mas não resistiu aos ferimentos. Segundo o dono do estabelecimento, não houve discussão, e Ithallo havia tentado roubar a arma do sargento. Mas outras testemunhas ainda estão sendo ouvidas para chegar a uma conclusão da dinâmica sobre a morte.

Ainda de acordo com a mulher, quando o PM atirou, o homem que lhe havia dado um murro estava sendo imobilizado no chão pelo agente penitenciário. Logo à frente, Ithallo estava sangrando, encostado em uma parede. A mulher afirmou ainda que não conhecia Ithallo e que o sargento ;não era ciumento com ela e nunca demonstrou sinais de agressividade;. Entre os envolvidos, apenas o militar tem ficha criminal, por agressão, ameaça e injúria, ocorrências de 2004 e 2006. O sargento trabalha no 20; Batalhão da Polícia Militar (Paranoá) há três meses.

;O militar foi o primeiro a trazer a notícia do crime. Ele se apresentou dizendo que foi vítima de uma tentativa de assalto e reagiu dando um tiro no suspeito. Essa versão foi colocada no papel e começamos as apurações para saber o que havia acontecido. As investigações ainda estão no começo, mas já mostram elementos que consideramos estranhos. O que temos de concreto é que um garoto de 20 anos foi morto;, observou Jane. Ao chegar ao bar, a polícia se deparou com a cena do crime já desfeita. O dono do estabelecimento havia limpado o sangue e todos os outros elementos que seriam analisados na perícia. ;Essa é uma ação criminosa, que interferiu no nosso trabalho e também será investigada;, ressaltou a delegada.

;Se confirmada a versão da mulher, o acusado vai responder pelo homicídio, que tem pena de 6 a 12 anos, e qualificado pela motivação fútil e impossibilidade de defesa da vítima, o que aumenta a detenção para 12 a 30 anos. Esse caso não vai ser apurado como crime da Justiça Castrense, pois ele não estava em exercício policial. Então será investigado pela Justiça comum;, explicou Jane Klébia.



Trabalhador

Nascido em Poranga, no Ceará, Ithallo Matias veio para Brasília quando tinha 3 anos. Entre idas e vindas do estado nordestino, decidiu ficar de vez no Distrito Federal após completar a maioridade e não conseguir emprego na terra natal. Na capital, ele dividia um barraco com uma amiga e era admirado por vizinhos. ;Nos conhecemos desde a infância, e ele sempre foi uma pessoa muito tranquila, um cara legal com todo mundo. No Ceará, o Ithallo trabalhava de mecânico, mas aqui viu que tinha muito talento pintando lojas e fez vários trabalhos em comércios;, contou um amigo, que pediu para não ter o nome publicado. O jovem começou há uma semana e fazia planos para tirar a carteira de habilitação. Os pais de Ithallo, que moram no Ceará, ficaram sabendo da notícia por telefone. A família procura assistência social para realizar o enterro no Nordeste.

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