Cidades

Câmara voltou atrás em temas polêmicos

Decisões da Mesa Diretora foram revertidas depois de críticas e da mobilização da sociedade. Entre os recuos estão a compra de carros oficiais para a cúpula da Casa, a construção de restaurante e o pagamento de diárias e passagens

postado em 30/06/2019 04:21
Renovação de dois terços da CLDF ainda não resolveu problemas antigos do Legislativo local

Compras de carros oficiais, denúncias de falsificação da folha de presença, tentativa de volta do pagamento de diárias e de passagens e supostas irregularidades na licitação foram temas que geraram repercussão no primeiro semestre da Câmara Legislativa. O deputado distrital Robério Negreiros (PSD) foi acusado, em maio, de falsificação ideológica por, supostamente, adulterar a folha de ponto. Havia registros de assinatura do parlamentar em sessões que ocorreram quando Negreiros estava em viagem para o exterior, em novembro do ano passado. Ele nega que tenha havido má-fé e destaca que sempre defendeu o ponto eletrônico da Casa.

Após representação do Instituto de Fiscalização e Controle (IFC), abriu-se um processo de cassação do mandato do distrital. Depois de parecer da Procuradoria-Geral da Casa, a Mesa Diretora arquivou a denúncia. O caso, porém, continua sob investigação do Ministério Público de Contas do DF (MPC/DF). Depois das denúncias, Negreiros passou um mês afastado por atestado de licença médica.

Outra polêmica foi a tentativa da Mesa Diretora de comprar cinco veículos oficiais para uso em atividades parlamentares e administrativas. Os carros, do tipo sedan médio, custariam, no total, R$ 446 mil. A ideia, no entanto, gerou embates e reclamações da socie- dade e até de deputados. Com o desgaste, a Mesa Diretora optou por cancelar a licitação. Os valores serão destinados integralmente para a compra de medicamentos para o Instituto Hospital de Base. Segundo nota divulgada à época, os deslocamentos necessários passaram a ser custeados pelo uso da verba indenizatória ou de veículos próprios dos distritais.

Outra licitação que gerou controvérsia era destinada à construção de um restaurante no prédio da Câmara Legislativa. O estabelecimento teria convênio com o Sesc para que funcionasse no modelo restaurante-escola e ofertasse preços mais acessíveis. A previsão inicial era de que a obra custasse R$ 2,1 milhões, mas levantamento do gabinete da deputada distrital Júlia Lucy (Novo) detectou sobrepreços em alguns itens que constavam no edital. Depois do questionamento, a Comissão Especial de Licitação da Câmara Legislativa suspendeu a licitação e colocou o texto para reavaliação.

Distritais também cogitaram trazer de volta um gasto extinto em 2016: o pagamento de diárias e passagens. À época, a Casa informou que a economia seria de R$ 300 mil ao ano. Proposta do vice-presidente da Casa, Rodrigo Delmasso (PRB), propunha a volta do benefício sob o argumento de que boas oportunidades teriam sido perdidas por falta dos recursos. Por causa da repercussão negativa, o deputado recuou e desistiu da iniciativa, que, segundo ele, teria sido mal interpretada.

Executivo
A nova legislatura começou com uma dança das cadeiras. Dois parlamentares de primeiro mandato preferiram o Executivo. Distrital mais votado, Fernando Fernandes (Pros) assumiu a Administração Regional de Ceilândia em janeiro. Daniel Donizet (PSDB) foi empossado administrador do Gama em maio. Nos lugares deles, assumiram, respectivamente, Telma Rufino (Pros) e Kelly Bolsonaro (PRP).

Ao longo do semestre, estreantes e veteranos usaram uma antiga artimanha para driblar o sistema de controle da Casa. Em pelo menos 20 das 58 sessões ordinárias parlamentares, desceram ao plenário para assinar a lista, mas não partici- param das votações. Conforme o regimento interno da Câmara Legislativa, às terças, quartas e quintas-feiras, a presença na deliberação é obrigatória. Caso o deputado falte e não justifique a ausência no prazo de 48h, há desconto no contracheque.

A tradição de votações somente às terças-feiras também permaneceu e, em diversas oportunidades, as sessões foram encerradas por falta de quórum. A presença dos parlamentares em plenário, porém, é atestada pela folha de ponto. Em 25 de abril, por exemplo, não houve quórum para dar continuidade à sessão. Entretanto, somente João Cardoso (Avante) e Reginaldo Sardinha (Avante) não haviam assinado a lista de presença.

Com o corte de 40% do valor disponível em cota parlamentar, estabelecido em maio do ano passado (leia Para saber mais), os distritais reduziram os gastos com verba indenizatória.

O montante diminuiu, ainda, porque nove deputados abriram mão do benefício. Nos quatro primeiros meses de 2019, gastaram R$ 391,3 mil ; no mesmo período de 2018, a cifra chegou a R$ 715,6 mil. Porém, as despesas com imóveis, aluguel de carros e combustível tiveram acréscimo.

No primeiro quadrimestre do ano, as contas com aluguéis de espaços para a implementação de escritórios parlamentares ultrapassou a cifra de R$ 58 mil, contra os R$ 35 mil desembolsados em 2018. Com veículos, os deputados gastaram R$ 165,4 mil entre janeiro e abril. No ano passado, o valor foi de R$ 144,1 mil (veja Gastos).



Para saber mais

Limites para o benefício

As despesas com aluguel de imóveis e carros, compra de material e de combustível e contratação de consultoria jurídica não podem ultrapassar 40% do valor mensal da verba indenizatória. Os gastos com consultoria especializada e divulgação da atividade parlamentar também não devem ser superiores a 60% do total da cota. No ano passado, por causa da pressão popular, a Câmara Legislativa chegou a debater o fim do benefício. O projeto de resolução que tratava sobre o tema foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa, em fevereiro, por unanimidade. Cogitou-se aprovar outros benefícios, como a criação de um cartão-combustível ou a garantia dos serviços de uma gráfica, para que fosse possível aprovar a proposta. Mas, ao fim do debate, os deputados desistiram de abrir mão da verba anual. Em contrapartida, reduziram o valor em 40%, e a verba caiu de R$ 25.322,25 para R$ 15.193,35 mensais.



Gastos

Nos quatro primeiros meses do ano, os deputados gastaram R$ 391,3 mil em verba indenizatória. Confira:

Imóveis R$ 58.397,12

Veículos R$ 165.476,57

Combustível e lubrificante R$ 57.743,05

Assessoria/Consultoria especializada R$ 12.550

Assessoria jurídica R$ 12 mil

Divulgação de atividade parlamentar R$ 84.748

Máquina e equipamento R$ 340

Aquisições R$ 138



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