postado em 03/07/2019 07:00
;Olha, avançou mais!” Com óculos escuros e um vidro especial, de máscaras de proteção para trabalhar com soldas, Lucas Franklin Santos, 9 anos, acompanhava o eclipse solar, na Praça do Cruzeiro, na tarde de ontem. O fenômeno, que ocorre quando Lua e Sol se alinham e um se sobrepõe ao outro, foi visto por centenas de brasilienses em diversos pontos da capital, entre 17h11 e 17h49. O próximo fenômeno como esse deve ser visto de Brasília apenas em agosto de 2045.
Em mais de 30 minutos de observação atenta, Lucas presenciou o fenômeno pela primeira vez. ;Eu estudo pelos livros, mas é bem mais legal quando a gente consegue ver com nossos próprios olhos;, garante. Quem ia explicando na prática os conceitos para o garoto era a irmã mais velha, Eduarda, 13. Juntos, eles já viram a passagem do telescópio espacial Hubble, as constelações e planetas como Marte e Júpiter. Para ela, o eclipse de ontem teve um gostinho especial. ;Ele acontece 100 anos depois do eclipse em Sobral, quando os cientistas comprovaram a teoria da relatividade.;
De fato, o fenômeno acompanhado por comitivas internacionais de astrônomos e cientistas, na pequena cidade do Ceará, foi uma espécie de rito de passagem, quando as ideias absolutistas de Isaac Newton deram lugar ao relativismo defendido por Albert Einstein. ;A teoria diz que qualquer massa no espaço-tempo vai acabar criando uma distorção no mesmo. Quando foram comparadas as fotos durante o eclipse em Sobral com outras que não tinham a interferência do Sol, observaram que as estrelinhas estavam mais juntas e a luz também sofreu distorção;, explica a estudante do 8; ano do ensino fundamental.
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O fascínio pelo céu e o espaço também é compartilhado por Davi Braúna Nascimento, 8. ;Eu aprendo muita coisa na internet e vou atrás para ver ao vivo. São experiências que a gente tem que acumular, guardar na memória e compartilhar com as outras pessoas.; O espírito de partilha foi exercido pelo menino, que acabou dividindo as lentes escuras que permitem ver a Lua encobrir o Sol. ;A gente trouxe de sobra e deu para quem não tinha;, conta.
Foi Davi quem pesquisou a data, a hora, o melhor local de Brasília para acompanhar o evento e avisou à mãe, Camila Braúna, 41, e ao namorado dela, Cristian Barreto, 41, sobre a necessidade de comprar vidros especiais para proteger os olhos. ;Ele é completamente ligado. Se não fosse por ele, acabaríamos perdendo experiências marcantes e bonitas e não estaríamos tão preparados para ver o eclipse;, admite Camila.
Mesmo quem não tinha em mãos as lentes de proteção usou a criatividade para ver o Sol sendo encoberto aos poucos. ;Trouxe uma placa de radiografia e óculos para dar conta de olhar diretamente para a luz. Foi muito divertido e diferente ver o Sol faltando um pedaço;, afirma Thomás Lustosa, 11.
À medida que era ocupado pela Lua, o astro também ia se pondo. Em outras palavras, ;o Sol vai descendo e fica cada vez mais mordido;, explica Gabriel Abib, 6. Foi o avô, Osvaldo Abib, que o levou, com o irmão, Matheus, 4, para acompanhar o evento. ;Antes de vir para cá, peguei o globo terrestre e fui ilustrando o que ia acontecer. Então, chegaram aqui já entendendo alguma coisa. Foi perfeito, adoraram. E sinto que temos que estimular cada vez mais essa vivência. Curtir o mundo aqui fora, que tem tanto para oferecer.;
Parcial
Ao final do eclipse, mais de 200 pessoas que se juntaram na Praça do Cruzeiro agradeceram com uma salva de palmas o presente do céu, mesmo que, do Brasil, apenas 20% do Sol tenha ficado encoberto. Somente quem estava na Argentina e no Chile, por questões geográficas, conseguiu contemplar o evento astronômico em sua totalidade.
A brasiliense Juliane Roitmann, 27 anos, mora na Argentina há 9 meses e fez questão de se preparar para acompanhar o evento. ;É um hobby legal. Na última luna roja, teve evento no planetário daqui e pudemos observar. Foi incrível!” Fã de astronomia desde pequena, ela estava ansiosa para acompanhar seu primeiro eclipse solar total. ;Foi uma experiência nova! Não consegui ver o anel de diamante, mas valeu muito a pena;, conta.
O fenômeno, no entanto, não é tão raro assim. Segundo o especialista e professor de física da Universidade Católica de Brasília (UCB) Diego Nolasco, eclipses solares ocorrem, aproximadamente, a cada 18 meses. O próximo, em 26 de dezembro de 2019, será anular, ou seja, os observadores verão ;as bordas; do Sol ao redor da Lua. Mas ele não poderá ser visto no Brasil. ;Um eclipse solar total visível no Brasil, mais especificamente no Norte do país, acontecerá em 12 de agosto de 2045. Precisamos ter paciência.;
O professor e membro do Clube de Astronomia de Brasília (CAsB) Adriano Leonês, 32 anos, acompanha eventos como este há 9 anos. Todos os anos, juntamente com o clube, ele se organiza para acompanhar os principais fenômenos e estar nas áreas de observação.
O interesse do Adriano pelos astros aconteceu ainda na universidade, quando estava estudando para ser professor de ciências. ;Minha vontade aumentou quando vi um telescópio pela primeira vez sendo levado para a atividade de observação do céu. Nasceu uma expectativa de poder aprender ainda mais sobre o espaço;, conta o brasiliense, que hoje leva a observação do espaço como estilo de vida.
Acompanhando o fenômeno de Planaltina, onde mora, a expectativa do professor era poder ver o disco solar sendo mordido, que é a aparência de um eclipse parcial solar. Ao final do evento, ele comemorou ao conseguir registrar a ação esperada. ;Precisei fazer uma máscara de solda com vidro usado e um binóculo, mas foi suficiente para ver o eclipse. Foi lindo;, afirma Adriano, que já se programa para o próximo: um eclipse lunar parcial, em 16 de julho.
* Estagiária sob supervisão de Mariana Niederauer
; Colaborou Thays Martins