postado em 05/07/2019 04:23
As autoridades desconversam, mas o fato é que a devastação das matas brasileiras segue em ritmo avassalador. Governos da Alemanha e da Noruega ameaçam retirar doações que fazem para que o Brasil cuide da Amazônia, insatisfeitos com os rumos da política de meio ambiente, que promove uma flexibilização e um desmonte na fiscalização. Os mesmos fatores que levaram aos desastres de Mariana e Brumadinho.
Meu pai, também de nome Severino Francisco, era um pernambucano de imaginação delirante, parecia saído diretamente de um folheto de cordel para a realidade. Era poeta popular, mas lia os livros de ciência. Com isso, assimilou uma consciência ecológica aguda. Falava, praticamente, em versos.
Na década de 1950, ele já registrava a devastação das matas brasileiras em versos épicos e pungentes, que parecem escritos em 2019: ;SOS para quem?/Onde está consciência?/Onde andam os governantes?/O que é feito da presidência?/A fauna, a flora e o clima/ninguém olha com clemência/para a grande devastação/É o maior atentado/do homem sem coração/Quem comete tal delito/terá seu nome maldito pela próxima geração;.
Duzentos anos depois
que o Brasil foi descoberto
havia riqueza imensa
mesmo no solo deserto
nosso sertão brasileiro
era de mata coberto
sendo filho do sertão
admiro a floresta
ver a natureza em festa
foi sempre foi a minha paixão
mas alguém estendeu a mão
e devastou o meu país
deixando o solo infeliz
queimado como carvão
homem sem coração
que lanças mão do machado
porque não usas o arado
que dá melhor plantação
melhor adubação
e a colheita é duplicada
deixa a floresta copada
ela pertence à nação
não há fiscalização
e a lei não dá punição
castigando o infrator
que derruba sem amor
a nossa selva bravia
deixando sem alegria
a obra do Criador
Faz dó a devastação
da nossa flora invejada
transformando em invernada
as matas do meu sertão
quem comete tal pecado
não sei se terá perdão
primeiro uma machadada
e a árvore bela copada
continua resistindo
depois começa a rangir
como cana na esteira
e na hora derradeira
ainda se houve um estalo
a queda a morte o abalo
e adeus mata brasileira.