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Um nobre cartão-postal

Criado em 1964 e tombado pelo Iphan, o Clube de Golfe de Brasília possui um dos melhores campos da América do Sul e reúne pessoas das mais variadas gerações para a prática do esporte

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 06/07/2019 04:22
Caroline Versiani com os filhos Henrique e Arthur: a família descobriu o esporte no clube

Um extenso campo verde, com grama bem aparada, ladeado por flores e pinheiros, que proporcionam uma sombra refrescante, numa das áreas mais nobres do Plano Piloto. Esse é o espaço ideal para os praticantes de um dos esportes mais difíceis: o golfe. Às margens do Lago Paranoá, bandeiras azuis, amarelas, vermelhas e brancas indicam os 18 buracos que compõem o campo do Clube de Golfe de Brasília (CGB). Fundado em 11 de março de 1964, o clube faz parte da memória afetiva da capital. Muito antes de ser inaugurado, em 1957, o arquiteto e urbanista Lucio Costa havia indicado o local exato do campo no plano original da cidade.

Coube ao famoso arquiteto norte-americano Robert Trent Jones ser o designer do espaço. Em toda a América Latina, somente dois campos de golfe foram projetados por ele, e Brasília é o único do país. A estrutura é considerada de alta técnica. O buraco 8, por exemplo, é um dos mais difíceis e de constante desafio para os golfistas.

Os primeiros sócios do clube foram oriundos de embaixadas. Eles vieram para Brasília em decorrência da mudança da capital do Rio de Janeiro para o Planalto Central. ;Os imigrantes são muito ligados ao golfe, então tinha que ter um atrativo para eles;, explica Atílio Rulli, presidente do clube. Com uma média de mil associados, o CGB foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).



Para poucos?

O golfe está na lista de um dos esportes mais caros para ser praticado. Um conjunto de tacos pode chegar a custar entre R$ 2 mil e

R$ 14 mil, dependendo da marca e do modelo. Por isso, muitas pessoas o consideram elitizado. Entretanto, o Clube de Golfe de Brasília quer desmistificar essa ideia. No comando da entidade pela primeira vez, o empresário Atílio Rulli rebate a concepção de que o golfe foi feito para pessoas de classe alta. ;Aqui, nós temos escolinha para crianças gratuitamente, onde elas podem vir e aprender com treinadores requisitados. Muitas saem daqui profissionais. Além disso, temos uma área reservada para quem quer treinar de graça. Basta alugar as bolinhas;, afirma. A área a que ele se refere fica em frente aos restaurantes Le Jardin e Oliver.

Há 15 anos, o empresário Rulli começava a inserção no esporte, em São Paulo. A influência veio dos amigos. ;Durante o evento de uma empresa em que eu trabalhava, os vi jogando e aquilo me despertou o desejo de testar. Quando me mudei para cá, confesso que dei uma pesquisada para saber se tinha campos de golfe. Se não tivesse, talvez eu não teria vindo;, conta.

Diferente de outros esportes, Rulli acredita que o golfe tem uma peculiaridade: a democracia. ;A modalidade permite que uma pessoa de 90 anos, por exemplo, compita com uma criança ou com um jovem. Todas no mesmo nível;, afirma.



Esporte que ensina

Colocar o filho em uma escolinha esportiva para que ele desenvolva suas habilidades motoras e sociais é até comum, mas quando a paixão do pequeno é o golfe, a história é outra. Embora a prática com o taco não seja preferência de muitos garotos pequenos, Henrique Versiani, 10 anos, escolheu esse esporte. Há quatro anos ele frequenta as aulas da escolinha do clube. ;Comecei a jogar quando ficava brincando em casa com meu irmão, e minha mãe me incentivou a praticar na escolinha. Hoje, isso é parte da minha vida;, diz, orgulhoso.

Para ele, o golfe é mais do que só um esporte. ;Praticar me traz paz, ainda mais porque venho para um ambiente perto da natureza como o do clube; isso me faz feliz. Também fiz muitas amizades por conta disso e aprendi a ser mais honesto com os outros. No golfe, a gente precisa de muita honestidade;, conta. A dedicação de Henrique o levou a ocupar muitos pódios, ganhou mais de 20 torneios no Brasil e no mundo, como em Berlim e na Flórida.

O sonho do garoto é poder se tornar um atleta profissional, mas ele sabe que trilhar esse caminho exigirá persistência. ;Tem projetos na escola que, às vezes, não dá certo, e vejo meus colegas desistindo, mas eu falo: ;Não vamos parar agora. Vamos refazer e improvisar. Não sou de desistir fácil;;, afirma. E não pense que competir com pessoas mais velhas o intimida. ;Não me apavoro. Levo aquilo numa boa, como se fosse uma brincadeira.; O irmão mais novo, Arthur Versiani, 7, se inspira e admira. ;Quero seguir os passos do Henrique;, diz.

A dupla é o orgulho da mãe, Caroline Versiani, 40. Ela conta que não imaginava que os filhos fossem se desenvolver tão bem no esporte. ;Quando vi a dedicação deles, me trouxe uma imensa emoção. Fico feliz por saber que meus ensinamentos estão fazendo efeito;, brinca. Segundo ela, o legado que deixa para os filhos é agradecer todos os dias. ;Falo para eles que estamos aqui de passagem e que um dia partiremos. Por isso, temos de ser melhores um dia após o outro;.

Recém-chegado a Brasília, o paraense Rodolfo Tonin, 29, está adaptado à capital do país. ;Sempre falo que nenhuma cidade se compara a Brasília. As pessoas são receptivas e o clima é atraente e gostoso;, elogia. Ele conheceu o Clube de Golfe por meio de um amigo, logo na primeira semana em que se mudou. ;Fiquei maravilhado com o verde da natureza e o imenso espaço. Tudo muito tranquilo e agradável.;

O médico relata que, antes de se interessar pelo golfe, observava os amigos jogando e achava o esporte bobo e preguiçoso, mas mudou de opinião com o tempo. ;Cheguei à conclusão de que é preciso ter muita técnica e estratégia. Fora isso, percebi que me tornei uma pessoa melhor, porque jogar exige que você seja justo, tenha respeito e educação;, argumenta. Outra vantagem, segundo ele, é a oportunidade de evitar o estresse e tirar um tempo para si mesmo. ;Posso jogar sem precisar de um grupo de pessoas. Então, é um momento de paz, até porque nem celular se pode utilizar. Eu me desconecto;, diz.

Um lugar meu

A economista Maria Musa, 66, é uma das poucas mulheres praticantes no Clube de Golfe. Depois de tantas experiências em diversas modalidades esportivas (esgrima, tênis, natação e musculação), ela se encontrou no golfe. Nem mesmo a idade a impediu. Aos 60 anos, ela iniciou a atividade. ;No início, foi um desastre total. Meu treinador explicou passo a passo, mas achei tudo muito difícil;, comenta. Mas os desafios só serviram como motivação para continuar. E foi no clube que ela se superou. ;A beleza do campo é o principal. Ainda mais nessa época, que o gramado fica rodeado de ipês-brancos. É uma das coisas que me agrada e me traz tranquilidade. Além disso, fiz muitas amigas que levarei para toda a vida;, conta ela, que também é educadora física.

Para Maria, o motivo de ter poucas mulheres na modalidade envolve dois fatores. ;Tem a questão do sol. Uma partida de golfe é demorada e você fica com a pele queimada, então imagino que as mulheres se preocupam com a estética. Isso faz com que não haja tanto interesse. Mas aqui no clube, os treinadores nos tratam com muito carinho e com respeito. É um lugar nosso também;, afirma.

*Estagiária sob supervisão de José Carlos Vieira

Como se associar
Há três formas de se associar: sócio-proprietário, sócio-temporário e visitantes. O valor do título para sócio-proprietário custa R$ 12 mil (pago uma única vez) e mensalidades de R$ 540. Para sócio-temporário, o valor é de R$ R$ 1.500 (joia anual) e parcelas de R$ 584. Para visitantes, a taxa é de R$ 120 durante a semana e R$ 180 aos fins de semana. A escolinha de golfe para crianças é de graça, e as inscrições podem ser feitas na sede do clube, em frente ao CCBB. Quem preferir jogar na área reservada, que é gratuita, é preciso alugar as bolas e o taco, que varia entre R$ 10 e R$ 150.

Clube de Golfe de Brasília (CGB)
O campo possui 6.788 jardas
Associados: 1 mil
Idade: 55 anos


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