Juliana Andrade
postado em 07/07/2019 08:00
Imagine ter um ipê na mesa de trabalho, na estante de casa ou até mesmo em uma caixinha de joias. A beleza das flores que colorem Brasilia na época da seca não só encanta, mas também inspira os moradores da cidade. Galhos secos, lã e até mesmo ouro e prata se transformam nas árvores que, pelas mãos humanas, se tornam sinônimo de criatividade.
No Lago Norte, o Centro Cultural Dançar é Arte uniu a delicadeza do balé aos detalhes do artesanato e de um projeto que oferece aulas gratuitas de dança para meninas do Distrito Federal. Enquanto elas capricham nos passos na ponta dos pés, as mães trabalham na confecção de ipês feitos com TNT e galhos. ;A ideia do artesanato surgiu da necessidade de dar sustentabilidade ao nosso projeto e às famílias que participam. Foi um conjunto de fatores;, comenta Kátia Moraes, idealizadora do Dançar é Arte. A bailarina conta que o projeto vai receber, até fevereiro de 2020, apoio financeiro do Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente (CDCA-DF), mas ainda precisa dos recursos do ipê para manter as contas em dia.
Batizada como Mãos em movimento, a atividade foi além da arrecadação de recursos para o Dançar é Arte. Hoje, o aprendizado se tornou fonte de renda para mães como Maria da Conceição Sousa, 50 anos, que participa do projeto há sete anos. Além de ajudar a confeccionar os objetos como uma iniciativa social, ela decidiu usar as técnicas para produzir os próprios artesanatos. ;Eu acho maravilhoso. Como não estou trabalhando, as encomendas de ipês me ajudam a pagar as contas;, afirma. Prislane Alves, 29, também participa das oficinas. Ela vem do Itapoã de van disponibilizada pelo projeto, acompanhando a filha de 9 anos. ;É benefício para nós duas. Antes, eu ficava em casa, sem fazer nada. Agora, posso ter esse aprendizado e experiência;, garante.
O Dançar é Arte atende a 245 famílias do Itapoã, do Paranoá, do Varjão, da Ceilândia, da Estrutural e da Granja do Torto, com o apoio do CDCA, além da comunidade do Recanto das Emas, com o auxílio da Igreja Metodista. Os ipês fabricados são vendidos em feiras, exposições e pelas redes sociais a partir de R$35. ;A gente escolheu algo que representasse Brasília e o Brasil como um todo;, destaca Kátia.
Memória afetiva
Se o ipê é sinônimo de solidariedade no Lago Norte, para a vendedora Eliane Tabajara, 44, moradora do Paranoá Parque, a vegetação traz lembranças da infância. Ela conta que, quando morava no Piauí ,havia um ipê próximo à casa dela e, quando veio para Brasília, em 1995, se encantou com a quantidade de árvores da espécie espalhadas pela capital. ;No percurso do trabalho, há vários deles pelo caminho. Sempre que eu via, lembrava daquele pé de ipê do Piauí. Eu sou apaixonada pelas cores deles e fico desejando ter um na minha casa;, diz.
Na residência de Eliane não é possível ter uma árvore de verdade, mas tem espaço de sobra para os mini-ipês confeccionados por ela mesma. ;Eu fiz um teste e ficou bonitinho, então, decidi investir na ideia. Comecei a postar nas redes sociais e as pessoas sempre elogiavam;, conta. Os comentários dos amigos da vendedora eram um sinal de que os ipês feitos de algodão, arame e argila poderiam ajudar no orçamento do mês. Há cerca de um ano, Eliane começou a fabricar o artesanato em casa, nas horas vagas, para comercializar. Cada um custa R$ 70, dinheiro que faz toda diferença na hora de pagar as contas.
Uma joia do cerrado
O ipê também tem conquistado as produções de luxo. A designer Juliana Lobão, 36, trabalha na confecção de joias desde 2013. Em 2017, ela lançou uma coleção inspirada na árvore. A ideia veio no casamento dela, que foi decorado com flores de ipê. ;Fiz algumas peças para dar de presente para as minhas madrinhas. Decidi estudar mais sobre a árvore e vi que ela tem uma folha única, diferente das outras. As pessoas sempre olham para o ipê florido e não reparam como a árvore também é bonita fora da época da floração. Então, eu resolvi pegar essa folha verde e mostrar para as pessoas;, ressalta.
As lembrancinhas foram um sucesso, e Juliana decidiu lançar uma coleção fixa, com colar, brinco e prendedor de dinheiro. ;Até hoje é uma das peças que eu mais vendo. Ela tem dois anos e continua saindo como no lançamento. As pessoas se identificam com a árvore e com essa época, que é muito característica da nossa cidade;, destaca a designer.
#missãoipêcb
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