postado em 08/07/2019 04:20
Declaração de amor
Nunca fui boa com declarações de amor. Mas ele tem transbordado nos últimos dias. Nos gestos diários de carinho. Nos detalhes. Na vida que cresce no ventre. Nos poemas coloridos escritos pelos ipês espalhados na cidade.
A vida se renova cada vez que o coração pulsa embalado pela trilha sonora desse sentimento. Puro. Altruísta. Generoso. Será o frio que nos faz ter vontade de ficar mais próximo, abraçar, se aconchegar num colo seguro?
Até a comida quentinha de festa acaricia com delicadeza incomum. Um bolo de vó com bastante cobertura e recheio. Os docinhos que enfeitam as mesas de casamento. A sopa para aguentar as temperaturas mais baixas no fim do dia.
Os raios de sol do amanhecer aquecem também a alma. Atenuam a brisa gelada e a transformam em frescor. Passear no parque mais parece flutuar sobre uma avenida tomada por correnteza leve ; lava e leva o que ficou para trás.
Feche os olhos. Que sensação dá o toque da luz na pele? Que significado têm os sons ao redor? O barulho das árvores é um eterno tilintar de folhas arrastando uma nas outras, interrompidas, vez ou outra, pelo pouso das aves.
Qual é o Plano da cidade-avião? Unir casais apaixonados? O mês dos namorados passou, mas a atmosfera que cobre os eixos agora prova ser desnecessário marcar data para celebrar. As comemorações não cessam, muito menos os motivos.
Sinto o privilégio de ser bombardeada por essa avalanche de alegrias. Farra julina maior impossível. Um caminho repleto de erros se coloca no passado. Sigo pronta para cometê-los quantas vezes forem necessárias, até finalmente aprender.
E essa minha declaração desajeitada, em poesia despretensiosa travestida de crônica, vai para todos que constroem comigo esse aprendizado. Àqueles que são referência etérea e aos que nem percebem a potência do amor distribuído.
Queria poder guardar os momentos compartilhados com vocês em um pote de doces no armário da cozinha para aproveitar em doses homeopáticas o abraço aconchegante nessas noites de frio.
Deve ser para isso mesmo que inventamos os álbuns de fotografia. Folhear o passado para, a cada futuro, reencontrar uma emoção escondida. Sensação eternizada num clique lembra as palavras de conforto que valem tanto quanto um ;Eu te amo;.