Ana Maria da Silva*
postado em 09/07/2019 20:00
Muito além de saúde física, a pandemia tem afetado o estado emocional das pessoas. Em entrevista ao CB. Saúde, edição especial do programa CB. Poder ; parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília -, a psicóloga e diretora de Atenção à Saúde da Universidade de Brasília (UnB) Larissa Polejack explicou que um aspecto fundamental para tranquilizar as pessoas é a boa comunicação.
De acordo com Larissa, ao falar sobre saúde mental diante da pandemia, um dos aspectos importantes é compreender o que estamos vivendo e qual tipo de precaução ou comportamento deve-se ter para maior segurança e resguardo da saúde. ;Quanto mais eu entendo o que está acontecendo no cenário e tenho elementos para reagir a isso, mais me sinto seguro e confiante, sabendo que estou fazendo o que é pedido para aquele momento;, diz.
A especialista ressalta que ao compreender etapas, o indivíduo se sente mais instrumentalizado para responder adequadamente a situação. ;Quando a informação é confusa, muitas dúvidas são geradas. Afinal, devo ficar em casa ou ir para a academia? Devo me cuidar ou posso ir paro o parque com o equipamento que todos estão usando? Esse tipo de informação contraditória pode gerar mais ansiedade;, adverte.
Segundo a psicóloga, as informações trocadas ajudam nas crises de ansiedade e são enxergadas, por muitos cidadãos, como ameaça. ;As informações contraditórias afetam a saúde mental. Ao mesmo tempo que temos informação do estado de calamidade pública e que os leitos já não estão disponíveis, temos também informações contraditórias de volta das academias, das aulas;, reforça.
A diretora diz que essa ameaça, ocorre devido a retirada de autonomia e autocontrole que surgiu com a pandemia. ;Nós estamos vivendo uma realidade em que todos foram colocamos como vítimas ao mesmo tempo, pois há um agente externo que ameaça e nos obriga a ficar em casa, rever a relação com o trabalho, com os nossos afetos e familiares;, diz Larissa. De acordo com ela, há dificuldade para compreensão, uma vez que são muitas demandas para a própria saúde mental. ;Para nos acostumarmos com isso, é preciso conseguir entender quais são as ameaças mais próximas e o que podemos evitar. Quanto mais eu sinto que posso exercer algum tipo de controle sobre uma ameaça, menos eu fico ansioso;, completa.
Falta de cuidado mental
A presença de psicólogos nos hospitais aumentou nos últimos anos, e com a pandemia não tem sido diferente. O cuidado mental com os pacientes e profissionais que trabalham na linha de frente tem sido fundamental. Todavia, Larissa Polejack afirma que o cuidado ainda é pouco, e que as queixas de adoecimento psicológico são grandes. ;Temos ouvido muitas reclamações sobre não aguentar ver tanto sofrimento e perder tanto paciente. É importante que dentro do plano de ação do governo exista o eixo do cuidado psicológico com os profissionais da saúde;, alerta.
Na avaliação de Larissa, do ponto de vista geral, há atraso nas ações de saúde mental, e o preço será alto. ;Se aprendermos com a realidade dos outros países, que estão um pouco mais a frente na situação, alguns artigos vão dizer que eles estão vivendo a quarta onda, que é a da saúde mental;, diz. ;São os efeitos de como vivemos isso, com pressão, estresse, angústia, e sem o cuidado necessário;, completa.
Para evitar o futuro preocupante, Larissa diz que ações de prevenção e promoção da saúde têm sido fortalecidas para criar condições e dar estrutura para que as pessoas não adoeçam mentalmente. ;Tudo é feito com base na ciência, na leitura sobre saúde coletiva, nos estudos realizados em outros países. A ciência vem em nosso favor para que comecemos antecipadamente a dar respostas para problemas que vislumbramos o acontecimento;, acredita.
Assista à íntegra da entrevista:
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