postado em 14/07/2019 04:28
Explosões, tiroteios, ameaças químicas e combate. Formosa, nos últimos dias, virou campo de guerra. A cidade goiana, distante 85km de Brasília, é palco de treinamento intenso da Marinha do Brasil até 17 de julho. A operação, que começou na última segunda-feira, reúne 1,9 mil militares para testes e simulações em todos os setores de atuação da força armada. Muitos dos que participam carregam histórias de superação, sacrifício e paixão pela missão de servir ao Brasil.
A tenente Liana Arduíno de Magalhães, 39 anos, é a única mulher a comandar um pelotão na Operação Formosa. Ela entrou para a Marinha em 2001. Fazia parte do corpo de músicos e tocava saxofone. Em 2018, passou para o quadro de oficiais e, neste ano, assumiu a função de comando. Segundo ela, a transição da vida ligada à música para o trabalho de campo foi intensa, mas valeu a pena. ;Eu estou tentando fazer da melhor maneira possível e vem dando certo;, diz.
Sob o comando dela, estão 44 homens. ;Eles me respeitam da mesma maneira que respeitariam um homem. Deixo bem claro que sou a comandante.; Liana ressalta a importância de que mulheres conquistem espaço em funções de chefia em todas as profissões e incentiva que meninas tentem um lugar nas Forças Armadas. ;O que eu falo para as outras mulheres é que, se elas querem, precisam tentar, se preparar, ter determinação e lutar pelo que desejam;, aconselha.
O comandante Luiz Carlos Costa, 69, está na reserva há 22 anos. Ainda assim, há 13, faz questão de participar da Operação Formosa. ;Não vou largar nunca. É superemocionante. Fiz 50 anos de Marinha em abril;, conta o diretor social da Associação de Veteranos dos Fuzileiros Navais da Marinha. Carioca, Luiz nasceu em Sumidouro, no Rio de Janeiro. ;Nasci e morei numa roça tremenda, estudei na roça também. Sempre quis servir e hoje estou aqui fazendo, há 50 anos, o que sempre quis. É uma alegria muito grande.; Luiz lembra com saudades do passado, mas reconhece os avanços da modernidade. ;Vemos aqui no treinamento ações que antes demorariam quatro, cinco dias e, agora, são feitas em horas;, observa.
O sargento Eulálio Ferreira, 40, sonhava em trabalhar com a desativação de explosivos. Há 16 anos, integra o batalhão de engenharia da Marinha, fazendo exatamente o que sempre quis fazer. Paraense, mora no Rio de Janeiro desde que entrou para a instituição e atuou em intervenções em favelas e morros. ;Temos uma rotina árdua. Precisamos estar sempre nos aprimorando e atentos a tudo. Até porque, com explosivos, só se erra uma vez;, alerta.
Longe do mar
O Forte Santa Bárbara, do Exército brasileiro, é o espaço onde os militares se alojam para as atividades, em Formosa. O local tem dimensões amplas, razão pela qual foi escolhido para o treinamento. São 58km de comprimento por 30km de largura. ;Então, aqui conseguimos fazer a operação como se estivéssemos realmente em um campo de batalha, utilizando munição real e todo o poder dos equipamentos;, revela o almirante Leonardo Puntel, comandante de operações navais da Marinha.
Pode soar estranho que Formosa seja o local escolhido para um treinamento da Marinha, uma vez que o Planalto Central fica muito distante da costa brasileira. Mas o almirante Puntel explica que o forte é usado, na operação, como se fosse uma cabeça de praia ; posição ocupada em território litoral inimigo para garantir acesso, avanço ou desembarque. ;É como se os fuzileiros tivessem acabado de desembarcar, descessem do navio e se estabelecessem ao redor da praia. É esse ambiente que simulamos;, detalha.
O amplo espaço permite aos fuzileiros simularem situações que poderiam acontecer, de fato, em situações de guerra, missões humanitárias e nas intervenções em que as forças armadas atuam ; como ocorre na cidade do Rio de Janeiro. Os militares convivem, assim como enfrentariam em uma operação para valer, com poeira forte, instalações improvisadas e condições adversas.
Em uma das simulações da Operação Formosa, os fuzileiros encenaram a reação a um ataque químico. Em meio ao confronto com um grupo inimigo, um dos oficiais brasileiros se intoxica ao cair em uma armadilha. No teste, o grupo que acompanhava o militar atacado agiu para socorrê-lo. Um hospital de campanha e um espaço de desintoxicação foram montados, e o fuzileiro passou por um processo, de várias etapas, para eliminar resquícios da arma química.
As explosões também são comuns na operação. Simula-se tanto situações em que os militares brasileiros atacam inimigos com bombas quanto momentos em que os inimigos é que se valem da estratégia para atacar. Em um dos testes, um robô entrou em ação para desativar um explosivo improvisado. A distância, os fuzileiros o controlavam. O drone retira o armamento e permite que ele seja detonado em um local seguro. Outros testes utilizam lançamento de foguetes, que podem alcançar alvos que estão a 30km de distância.
Tecnologia
Além do treinamento com equipamentos com os quais os militares estão acostumados a lidar, a Operação Formosa, deste ano, conta com o maior teste do novo sistema informatizado de operação e controle, adquirido recentemente pela Marinha e que deve estar em operação na prática até novembro. Com isso, monta-se uma central digital, em áreas de combate, para monitoramento em tempo real.
As ações do fuzileiros em campo são acompanhadas com auxílio de câmeras, satélite e outros equipamentos, quase todos integrados por sistemas sem fio. Assim, é possível orientar quem está na batalha com mais precisão e monitorar melhor as reações dos inimigos. ;A grande vantagem é que temos mais consciência da operação de fato e informações mais rápidas para transmitir para quem está no terreno. É mais seguro e eficaz;, explica o capitão Cícero Lima, um dos responsáveis pelo projeto.
"Vemos aqui no treinamento ações que antes demorariam quatro, cinco dias e, agora, são feitas em horas;
Luiz Carlos Costa, diretor social da Associação de Veteranos dos Fuzileiros Navais da Marinha