Jéssica Eufrásio
postado em 15/07/2019 06:00
Engajar, incentivar e despertar o interesse de estudantes nem sempre é tarefa fácil para educadores. Motivado por esse desafio, o professor Ricardo Fragelli, do curso de engenharias do câmpus Gama da Universidade de Brasília (UnB), criou o projeto Eight. A proposta alia aprendizado, crescimento individual e soluções para problemas enfrentados pelas comunidades nas quais os alunos estão inseridos. A ideia do goiano deu tão certo que avançou para instituições de ensino de diferentes partes do país.
A metodologia surgiu no primeiro semestre do ano passado e alcança cerca de 130 universitários do primeiro semestre de engenharias a cada seis meses. As atividades ficam a cargo dos próprios estudantes e incluem talk shows, visitas técnicas, intervenções acadêmicas e sociais, além de um evento final intitulado Eight. Nele, os alunos fazem apresentações de até oito minutos, inspiradas no modelo de palestras do TED (sigla para Tecnologia, Entretenimento e Design, em inglês). Tal como a proposta principal da conferência, os estudantes compartilham, em encontros abertos e gratuitos, ideias e histórias de vida que merecem ser disseminadas.
Um dos objetivos do projeto, segundo explica Ricardo, é fazer com que os frutos da metodologia alcancem mais pessoas. ;Costumo trabalhar com metodologias ativas, e o Eight envolve deixar a matéria mais empolgante e estimulante para o aluno, para que ele tenha mais engajamento em sala.;
As ações desenvolvidas também requerem um olhar sobre a comunidade. Um suporte para encaixe de guarda-chuva ou guarda-sol em cadeiras de rodas; instalação de armários no câmpus; criação de uma área de jogos em asilos para idosos; ou colocação de redes em árvores para que os universitários tenham um espaço de lazer. Todas essas medidas foram propostas ; e executadas ; por meio do Eight. Não é necessário que a solução tenha elevado grau de complexidade, mas é fundamental que a iniciativa continue após o fim do semestre, independentemente da presença dos estudantes no local.
Prestes a começar o segundo semestre de engenharias, Adriele Lopes, 24 anos, conheceu o método com o professor Ricardo, na disciplina de Introdução à Engenharia. Interessada em seguir na carreira aeroespacial, ela ampliou o leque de opções ao participar dos talk shows promovidos. ;Não imagino uma matéria de engenharia sem isso. No quarto semestre, precisamos ter definida a área em que queremos seguir, então é bom participar desse projeto;, comenta.
Professora do curso de enfermagem na Faculdade de Saúde do câmpus Darcy Ribeiro, a mulher do professor, Thaís Fragelli, também levou a proposta para a sala de aula, na disciplina de Tecnologia de Educação em Saúde. Ela e a turma foram finalistas em um prêmio de educação empreendedora do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). ;Com essa experiência, eles tiveram ganhos de competências, como liderança, planejamento, comunicação;, analisa.
A prática desse princípio inspirou o estudante de enfermagem João Guilherme Alves, 23, a desenvolver interesse pelo ensino na área de saúde. Ele conta que o trabalho com o método permitiu que sentisse mais entusiasmo com a parte teórica da faculdade. ;Na universidade, faltam professores que motivem. Temos vários que apontam o erro, cobram. Mas tirar o melhor do estudante é o diferencial dessa metodologia;, avalia.
Repassando conhecimento
Docente e coordenadora do curso de fisioterapia Centro Universitário de Lavras (Unilavras), em Minas Gerais, Luciana Lunkes conhecia outras ferramentas desenvolvidas pelo professor Ricardo Fragelli, mas adotou o Eight na disciplina de Terapias Manuais. O grupo de alunos responsável por tocar o projeto com foco na comunidade visitou um orfanato feminino, no qual desenvolveu um jardim sensorial e distribuiu materiais informativos sobre postura e alongamento.
;O envolvimento, o compromisso e a criatividade deles foi surpreendente. As apresentações no evento final foram emocionantes, com diversas falas de superação e agradecimento. Com certeza, a aplicação da metodologia trouxe resultados muito melhores em relação à turma anterior, aplicada no método tradicional. Tanto no quesito notas e percentual de aprovações quanto na satisfação dos alunos e na minha também;, relata Luciana.
A iniciativa também chegou ao Paraná. A professora Dinalva Batistão, da Escola Estadual Presidente Abraham Lincoln, no município de Colombo, trabalhou o conteúdo de química orgânica durante um trimestre com turmas do 3; ano do ensino médio. O tema que norteou as atividades foram as drogas. ;Levei os alunos para visitar o museu do IML (Instituto Médico-Legal); e, depois, uma clínica de reabilitação, na qual dependentes químicos relataram suas histórias de vida. Para o talk show, convidei um farmacêutico, um biomédico e um policial, que deram palestras e tiraram dúvidas dos estudantes;, detalha.
O grupo também ensinou aos pacientes da casa de recuperação como produzir sabão em barra para que eles possam ter uma fonte de renda. ;No fim do ano passado, no dia da formatura, alguns alunos vieram me agradecer pelo trabalho que fiz com eles. Quem assistiu à palestra gostou muito e ficou encantado com o funcionamento e a liberdade dos alunos. Agora, as turmas do 2; ano também estão me cobrando;, conta Luciana.
Inscrições abertas
No meio do ano passado, Ricardo Fragelli deu início ao curso on-line para professores interessados em aplicar o projeto. Neste semestre, ele abrirá mais 30 vagas para educadores do ensino básico e superior. As inscrições para participar do processo seletivo vão até sexta-feira. O curso é gratuito e as aulas duram um mês. Inscrições pelo site: fantasticalizando.com/cursos. Informações: facebook.com/prof.ricardo.fragelli ou instagram.com/ricardofragelli.