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Comércio começa a planejar fim de ano

Perspectiva de liberação de saques do FGTS e do Pis-Pasep, além do depósito do 13º salário, levam comerciantes do DF a se preparar para a compra de itens que vão abastecer as vitrines no período do Natal. Expectativa é de que os estoques aumentem em relação a 2018

postado em 19/07/2019 04:06
Dona de uma loja de roupas infantis, a empresária Bernadeth Martins já começou a fazer pedidos para as fábricas com foco nas festas de fim de ano




A cinco meses do Natal, os comerciantes deram largada para as compras dos itens que abastecerão as vitrines. Esse período é considerado o mais lucrativo para o setor, de acordo com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio/DF). Além do depósito do 13; salário, a expectativa de melhora das vendas aumentou em 2019, após o anúncio da possível liberação de saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do Pis-Pasep.

;Estou otimista. Tenho de estar. Esperamos um aumento considerável nas vendas, mas ainda aguardamos para ver como o mercado vai reagir de agora para frente;, comenta a empresária Bernadeth Martins, 59 anos. Dona de uma loja de roupas infantis no Jardim Botânico, ela acredita que o recente pagamento de restituições do Imposto de Renda deu um alívio para o setor e vai ajudar no aumento dos lucros de fim de ano. ;No primeiro semestre, as pessoas pagam dívidas, colégio, impostos. No segundo, começa a sensação de que dá para voltar a comprar;, compara a lojista, que começou a encomendar itens para as festas de fim de ano.

No ano passado, 49,8% dos comerciantes disseram que aumentariam os estoques para se preparar para o Natal, segundo a Fecomércio/DF. A taxa foi inferior a 2017, quando esse número chegou a 52,6%. A queda, segundo o presidente da entidade, Francisco Maia, decorreu da falta de confiança pelas mudanças de governo. ;Em 2018, a crise estava muito grande, e o governo, desacreditado; por isso, tivemos um Natal muito fraco;, afirma o dirigente.

A chance, segundo ele, é de crescimento em relação a 2018. A começar pelo segundo semestre. ;As perspectivas estão melhores do que no ano passado. Se o comerciante sabe que não vai ter um Natal bom, ele não compra para abastecer o estoque. O governo precisa movimentar a economia, e estão criando possibilidades. Neste ano, teremos injeção de dinheiro;, acredita Maia.

Cautela

Professor de finanças públicas da Universidade de Brasília (UnB), Newton Marques não recomenda aos comerciantes contar com a liberação dos saques do FGTS e Pis-Pasep. Ele ressalta que não está definido como será a medida, nem se os consumidores usarão o dinheiro extra para pagar contas, gastar ou poupar. ;Também é necessário saber qual será o montante liberado. Ainda não dá para termos uma dimensão dos efeitos. Precisamos descobrir quais serão essas medidas para sabermos se terão impactos no consumo;, analisa.

A dica para os lojistas, segundo Newton, é trabalhar com 50% de otimismo e 50% de pessimismo: ;A ideia é acreditar que metade das vendas em relação ao ano passado vai acontecer e que a outra metade pode acontecer. Ou o comerciante trabalha com mais encomendas e corre risco ao empatar o dinheiro, ou ele corre o risco de não comprar, ter muita demanda e não lucrar;, explica o professor.

Dono de uma loja de colchões há décadas no mercado, Sebastião Abritta, 49, está otimista em relação ao Natal, mas não espera muita diferença caso os saques sejam disponibilizados. ;A proposta entra em um momento bom, mas não sei se vai se converter muito em vendas. A princípio, acho que será mais usado para pagar dívidas. Mas, mesmo assim, isso facilitaria as próximas compras para quem estiver com créditos tomados;, pondera.

Apesar do tempo que ainda falta para o período, o empresário se prepara com o objetivo de oferecer novidades aos consumidores. ;Estamos negociando com as fábricas alguns modelos de colchões, edredons e poltronas. Com o dinheiro do 13; salário, muita gente deixa para trocar o enxoval no fim do ano. Normalmente, circula mais dinheiro;, comenta Sebastião. ;Os lucros nos últimos anos estão achatados, com a queda do poder aquisitivo e o aumento das tarifas públicas, mas estamos com perspectiva de melhora e fazendo apostas.;

Conjuntura

Presidente do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista/DF), Edson de Castro afirma que a preparação com antecedência é comum no setor, especialmente por causa do tempo até a entrega dos produtos. ;Há compras maiores para o estoque justamente para que sobre. Isso gera uma espécie de programação para as fábricas. Os comerciantes precisam receber em setembro, outubro e novembro. Principalmente confecções, sapatos e brinquedos, que são bastante vendidos no fim do ano;, detalha Edson.

Empresária no ramo de roupas femininas, Cristiane Moura, 50, precisa de planejamento em dobro, para a produção e as vendas: ;Fabricamos tudo o que vendemos em nossas cinco lojas. Já estamos nos organizando. Estou trabalhando com duas estoquistas que, em outubro, serão vendedoras;. Ela também conta que contratou um consultor para preparar a equipe de vendas. ;Esperamos que este ano seja melhor que 2018 e aumentamos a produção para termos um crescimento de 8% a 12% nas vendas;, estima Cristiane.

Presidente da Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra), Jamal Jorge Bittar explica que o setor industrial não reage, necessariamente, com base na demanda dos lojistas. A expectativa de impactos depende mais da conjuntura econômica do país do que das datas comemorativas. ;Ainda é muito cedo para falarmos sobre os efeitos. Ramos específicos da indústria têm diferenciação, sim, e se preparam em função do fim de ano e de feriados. Mas, até o momento, não tivemos nada que indicasse um resultado mais robusto. A aprovação de reformas, como a da Previdência (Social) e a tributária, deixa-nos mais otimistas;, considera.

Incentivo

Na quarta-feira, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) anunciou que o governo federal deve liberar, em breve, recursos de contas do FGTS e do PIS-Pasep para saque. O anúncio das regras, porcentagens e modalidades deve ocorrer na semana que vem. A estimativa é de que, neste ano, a soma dos montantes chegue a R$ 63 bilhões.

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