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''Um novo BRB está nascendo'', diz Henrique Costa, presidente do banco

Em entrevista ao Correio, dirigente comemora resultados positivos e coloca como prioridade mudanças de postura - com novo programa de integridade e estratégias de modernização - para retomar a confiança da população no banco

Alexandre de Paula
postado em 20/07/2019 06:00
homem de terno sentado Na Presidência do Banco de Brasília desde o início deste ano, Paulo Henrique Costa comemora resultados positivos no primeiro semestre à frente da instituição. A procura pelos principais serviços oferecidos pelo BRB aumentou, e a expectativa de crescimento superou as previsões. O avanço, porém, representa, na visão dele, apenas o primeiro passo de um processo de reconstrução da imagem da instituição, abalada, recentemente, por suspeitas de irregularidade e por um encolhimento do BRB.

Para reconquistar a clientela e impulsionar o crescimento do banco, ele aposta em mudanças de postura. O BRB, explica o presidente, precisa se modernizar tanto em aspectos tecnológicos quanto na capacidade de gestão. ;O banco vinha num processo de diminuição do seu tamanho. Ele vinha perdendo o protagonismo. Antes do início da nossa gestão, houve uma operação investigando irregularidades. Então, o ambiente que encontramos precisava de muita mudança;, explicou, em entrevista ao Correio.

A intenção da diretoria do banco é também fortalecer a imagem e evitar que as irregularidades se repitam. Um programa de integridade será implementado para coibir práticas ilegais e corrupção nas atividades da instituição. ;Queremos mostrar que há um novo BRB nascendo. É um ciclo de crescimento, modernização e fortalecimento que leva tempo, mas ele já nasceu e temos alguns desses resultados para apresentar.;

O BRB está passando por um processo de modernização? Como isso está sendo feito?
A marca desta gestão e a demanda que o governador Ibaneis Rocha nos passou foi que nos tornássemos um agente importante no desenvolvimento econômico, social e humano do Distrito Federal. Ou seja, que o BRB cresça, que o BRB se modernize, se torne mais ágil e participe de fato do dia a dia da população e do setor produtivo. Nesse sentido, a modernização é fundamental, em uma série de frentes.

Quais são essas frentes?
O primeiro elemento de modernização é a revisão dos nossos produtos e das nossas taxas visando a transformar o banco em uma instituição mais competitiva. O segundo eixo é a tecnologia. A população está cada vez mais acostumada a se relacionar com o banco digitalmente. Então, compramos máquinas mais potentes, iniciamos a revisão do nosso aplicativo. Também começamos a fazer mudanças na gestão. Modernizar não é só aplicativo, é preciso modernizar a cultura, a mentalidade. Além disso, estamos revisando o nosso portfólio. E essas mudanças que implementamos já começaram a ser percebidas.

De que maneira as mudanças foram notadas?
Com um aumento significativo no volume de negócios. Nas principais linhas, crescemos bastante. Em junho, fizemos quatro vezes mais consignados do que no mesmo período do ano passado. Produzimos três vezes mais cartões de crédito do que antes. No crédito rural, em junho, alcançamos o mesmo volume do ano passado e, no crédito para empresas, conseguimos, só em junho, chegar ao mesmo patamar do primeiro semestre de 2018. Esse protagonismo só acontece quando a gente se aproxima dos clientes.

O senhor esperava resultados assim já no início?
Não, para falar a verdade. Estamos revendo o orçamento do banco. Revimos uma vez e aumentamos a projeção de crescimento do crédito em relação ao que encontramos em quatro vezes e agora estamos refazendo para prever um novo crescimento. O que prevemos é que o banco cresça, ao todo, oito ou 10 vezes mais do que se esperava quando chegamos. A sociedade tem um vínculo emocional com o BRB, as pessoas gostam de fazer negócio conosco. É isso que, com as mudanças que implantamos, explica esse crescimento. O que me chamou a atenção positivamente foi a nossa capacidade de resposta. A equipe conseguiu responder em uma velocidade acima do previsto, procurou os clientes, se dispôs a entender o que eles desejam e a consequência é esse aumento dos negócios.

Pensando nesse cenário de crescimento e que há um concurso em andamento, qual a importância de aumentar o quadro?
É fundamental trazer mais profissionais. O projeto do banco é um projeto de crescimento. Vamos crescer o volume dos nossos negócios e aumentar a nossa presença. O BRB estará em mais cidades e ocupando um território no Centro-Oeste. Essas pessoas vão nos apoiar nessa agenda de crescimento e expansão e trazer novas habilidades e experiências. O banco passou muito tempo sem fazer concurso, e o mundo se tornou mais digital, há novas exigências e expectativas dos clientes.

Há um cronograma para essa expansão para outras cidades?
A ideia é que, nos dois primeiros anos, fortaleçamos nossa relação com clientes e o nosso posicionamento no DF. Nos dois anos seguintes, vamos fazer esse movimento de expansão. Quando se fala disso se pensa muito na presença física em outros lugares, mas a expansão também vai se dar de outras formas. Vamos lançar um banco digital, uma plataforma digital de investimento e um processo de contratação de crédito todo digital. E, quando se fala em banco digital, fala-se em crescimento nacional.

O BRB sempre teve uma relação muito próxima do servidor público local. Como expandir a gama de clientes sem deixá-los de lado?
O servidor público é nosso principal cliente, é a base de tudo, é a razão de trabalharmos todos os dias. Mas precisamos avançar, precisamos nos aproximar do setor privado, das empresas, do setor produtivo e desses clientes que não são servidores. Nossa estratégia é melhorar o produto, ter taxas competitivas e o canal digital funcionando a contento.

Essa estratégia fará o cliente se aproximar do banco?
Sim. O cliente precisa perceber também que tem benefícios ao estar conosco, porque, além dos serviços, o BRB patrocina o esporte, a cultura, está presente na vida dele de um jeito que os outros bancos não podem estar. Se você tem condições iguais de competitividade, fique com o banco da sua cidade, com o seu banco, o único em que tudo que é produzido continua investido na própria cidade.

Desde a campanha, o governador Ibaneis defendeu que o BRB deveria estar mais perto das ações do governo, ser um banco de fomento. Isso está sendo feito?
O BRB, nos últimos anos, teve uma ação muito tímida nas ações de fomento e desenvolvimento econômico e regional. Uma linha central do papel do banco público é que ele precisa atuar de uma maneira articulada com todos os entes do governo para viabilizar a implantação de programas e produtos financeiros avançados. É o que temos feito. O banco precisa estar muito próximo de todas as secretarias. Fizemos parceria com as secretarias de Turismo, Esporte, Cultura. Vamos assinar um termo de cooperação com a Secretaria de Educação para doar 1,5 mil computadores às escolas públicas. Também vamos passar atuar em habitação popular e infraestrutura. Banco público não pode simplesmente replicar o comportamento de um banco privado, precisa ir além para promover desenvolvimento.

Como tem sido a relação com o setor produtivo?
Estamos trabalhando na articulação com as secretarias para captar investimento. Estamos oferecendo pacote de investimento e apoio para todos os empresários que venham se instalar no DF e atuando de maneira firme na concessão de créditos para empreendedores, para a construção civil e ao agronegócio. Para coordenar tudo isso, fizemos várias parcerias, com a Fecomércio, Sinduscon, Ademi, Abrasco. São órgãos que representam o setor produtivo e vão ser porta de entrada para isso.

Existe um potencial nessa área que estava deixado de lado no BRB?
Cada momento do tempo tem suas circunstâncias e condições, mas olhando para o que temos hoje nas mãos vejo muita oportunidade de crescimento, de aumentar o protagonismo do BRB. É curioso que conversamos com empresários e todos têm sempre uma boa lembrança do BRB. Queremos retomar esse sentimento de que o BRB é o banco que a população e os empresários podem contar. O BRB tem que ser um indutor da realização de sonhos dos brasilienses, da melhoria da qualidade de vida.

Qual foi a situação encontrada quando o senhor assumiu? Já havia um cenário positivo para esse crescimento registrado ou foi preciso mudar muito?
O BRB vinha num processo de diminuição, perdendo protagonismo. Antes do início da nossa gestão, houve uma operação da Polícia Federal, a Circus Maximus, investigando irregularidades. O ambiente que encontramos precisava de mudança. A sociedade questionava a existência do BRB. Mas o que encontramos de bom quando chegamos foram as pessoas. A maioria dos trabalhadores daqui é sério, honesto, tem compromisso com a sociedade e quer ver o BRB crescer.

O BRB está lançando um programa de integridade para coibir as irregularidades. Como ele funcionará?
Implementamos várias ações para evitar que situações que como as que ocorreram no passado se repitam. Uma delas é o lançamento desse programa de integridade. A alta administração firmou um compromisso em implantar e aderir as práticas. Lançamos um código de ética, um código de conduta, um conjunto de práticas e relacionamento com fornecedores, uma política de prevenção e combate à corrupção. Estamos revisando o estatuto. Tudo isso gera um arcabouço importante para proteger o banco, direcionar e deixar claro os comportamentos que esperamos nas nossas relações.

Na prática, isso evita que essas irregularidades se repitam?
Sim. A gente está criando um programa de capacitação e certificação interna, em que os empregados vão passar por treinamento constante. Vamos ter um guia de integridade, vamos fazer eventos, porque isso precisa ser uma coisa do dia a dia e as pessoas precisam entender a necessidade desse programa. Vamos criar uma corregedoria para acompanhar e apurar problemas e um canal independente de denúncias para que asseguremos anonimato para quem quiser denunciar.

Esse programa também se encaixa nas ações para retomar a confiança da população?
Com certeza. Queremos mostrar que há um novo BRB nascendo. É um ciclo de crescimento, modernização e fortalecimento que leva tempo, mas ele já nasceu e temos alguns dos resultados dele para apresentar.

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