postado em 21/07/2019 04:06
Ariano Suassuna
Ariano Suassuna era um personagem em busca de um autor ou de autores que o apresentassem às crianças. Não é mais. Ele encontrou a escritora Lucília Garcez e o ilustrador Jô Oliveira, uma mineira e um pernambucano que se rebrasileirizaram em Brasília. Eles escreveram uma encantadora biografia de Ariano para as crianças, mas, que, como toda obra de qualidade pode ser lida por pessoas de qualquer idade.
A narrativa de Lucília e Jô evolui como um cortejo de maracatu, numa sintonia perfeita entre palavra e imagem. Joga-nos, de maneira sensorial, no mundo de Ariano: o cotidiano em Taperoá, cidadezinha do sertão da Paraíba; as feiras, as festas populares, os teatrinhos, as cantorias, a chegada do circo. Na precariedade, era possível garimpar um universo cultural muito rico. Ariano puxou o fio da tradição medieval transplantada para o Nordeste brasileiro.
Como bem diz Flávia Suassuna na apresentação: a biografia revela não apenas os elementos que fizeram Ariano ser Ariano, mas, também, as formas, os sons e as cores. É, ao mesmo tempo, uma biografia e uma fábula.
Ele parece um personagem saído diretamente de um folheto de cordel para a realidade.
Quando era garoto, quis fugir com o circo e só não o fez porque levou uma tremenda bronca da mãe. Ficou a frustração de ser ator, mas, na fase final da vida, Ariano realizou a vocação plenamente com as suas aulas-espetáculos, em que mistura a erudição de professor com a verve João Grilo paraibano. Ao arrancar o riso das plateias, ele ficava com o brilho nos olhos de menino extasiado.
Antonio Candido disse que os grandes homens desapareceram, pois eles dependem das utopias. E Ariano é dessa linhagem, é um quixote paraibano de múltiplos talentos, mas, antes de tudo, poeta. O Quixote é um herói moral, tem um ideal tão alto que as derrotas não o desmerecem; as derrotas o engrandecem.
A biografia escrita por Lucília e ilustrada por Jô nos revela que a história de Ariano se entrelaça de maneira indivisível com a história brasileira e com a história da cultura popular nordestina. Ele é um personagem épico. E, neste momento, nós estamos precisando, dramaticamente, de brasileiros que nos engrandeçam.