Cidades

Celular expõe Brasília a assaltos violentos

No ano passado, 16 pessoas morreram na capital federal em ações de bandidos que visavam smartphones. Valor alto, facilidade na revenda e grande quantidade de aparelhos fazem com que o brasiliense fique vulnerável a latrocínios

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 24/07/2019 04:07
Aparecida morreu ao sofrer um assalto no Itapoã 2: suspeitos que atiraram na vítima queriam o celular dela


O celular foi a causa de cerca de 16 mortes em roubos no Distrito Federal no ano passado. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, 60% dos latrocínios registrados em 2018 ; no total, houve 27 ;, tinham como motivação o smartphone da vítima ; se somados os assaltos com óbito registrados nos anos 2017 e 2018, a porcentagem sobe para 80%. O valor alto dos equipamentos, aliado à facilidade de revenda e à grande disponibilidade de aparelhos, são alguns fatores que despertam o interesse dos criminosos, segundo especialista. A falta de atenção ao usar o telefone também colabora para que a prática seja visada por bandidos (veja Previna-se).

A Secretaria de Segurança Pública produz relatórios de inteligência para estudar e coibir os crimes relacionados a roubos de celulares no DF, seja nas ruas, seja no comércio. ;Há aparelhos que podem custar R$ 8 mil. Isso realmente chama a atenção do mundo do crime. Temos políticas direcionadas para isso, principalmente de investigação para acabar com essas quadrilhas;, disse o secretário de Segurança Pública, Anderson Torres, em entrevista ao programa CB.Poder, parceria do Correio com a TV Brasília.

Aparecida Pereira da Silva, 40 anos, foi uma das 16 vítimas mortas em roubos de celular. Em 3 de dezembro do ano passado, ela esteve com o namorado, o pedreiro Gildemar Pereira Dias, 46, em um bar do Itapoã 2. Após tomar duas cervejas e dançar, o casal deixou o estabelecimento e caminhou até o carro. No curto trajeto, três suspeitos os abordaram e anunciaram o assalto: queriam o celular da mulher. Surpresa, ela enfrentou os criminosos, mas foi atingida por um disparo na testa. Gildemar acionou o Corpo de Bombeiros, mas não houve tempo para salvá-la.

Os suspeitos fugiram com o celular e a carteira de Aparecida. Dois deles foram presos, mas um continua foragido. O caso, tratado como latrocínio, é investigado pela 6; Delegacia de Polícia (Paranoá). Sete meses após o crime, Gildemar segue em luto. ;Ainda hoje, falar sobre isso é muito complicado. Estávamos juntos há pouco mais de um ano, e ela faz muita falta para mim. Continuo sem chão;, desabafou o pedreiro.

Aparecida deixou uma filha e uma neta. ;Conheci Aparecida na rua. No dia em que a vi, puxei assunto. Essas conversas duraram cinco anos, até que fomos nos ajeitando;, lembrou Gildemar. Sobre o crime, o pedreiro ressaltou que só resta querer justiça. ;Espero que quem tenha feito isso pague. Nada no mundo a trará de volta;, lamentou.




Tentativa

O número de latrocínios no DF caiu cerca de 14% no primeiro semestre de 2019, comparado a igual período do ano passado. Em 2018, a Secretaria de Segurança Pública registrou 14 crimes dessa natureza, contra 12 casos, de janeiro a junho de 2019. Entretanto, as tentativas de latrocínio cresceram 12%, passando de 91 para 102 no intervalo avaliado. Na madrugada de ontem, o auxiliar técnico Cristiano Gomes da Silva, 41, entrou para essa estatística.

Ele e o colega de trabalho Lucas Bruno Rodrigues de Oliveira, 27, trabalhavam na manutenção de radares de trânsito do Recanto das Emas quando foram surpreendidos por um adolescente. O jovem de 17 anos esfaqueou Cristiano pelas costas e fugiu com três celulares das vítimas. ;Estava em cima da máquina, trabalhando. Ele (o agressor) não anunciou assalto e chegou enfiando a faca no meu colega. Na hora, pensei que a agressão continuaria e ainda tentei procurar algum pedaço de ferro ou madeira para tentar espantá-lo. Porém, ele fugiu;, contou Lucas. Desesperado, ele colocou Cristiano no veículo da empresa e seguiu para um hospital particular de Samambaia. A vítima não corre risco de morte.

Pouco tempo após o ataque, policiais militares localizaram o adolescente, ainda no Recanto das Emas. Ele estava com a faca usada no crime e os três aparelhos celulares. ;Outra equipe do meu trabalho também foi assaltada há pouco tempo. A situação é complicada, e o que nos resta é trabalhar com medo;, lamentou.


Índice alto

De acordo com dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), há 4.396.284 linhas de serviços móveis ativas no DF. O número, de maio de 2019, representa 1,47 celular por habitante. É o maior índice do país. Em São Paulo, a média é de 1,39 aparelho por pessoa.

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