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Após 54 dias sem chuvas, Brasília entra no período mais crítico da seca

Em agosto e setembro, a estiagem atinge o momento de pico no Distrito Federal. À medida que as temperaturas sobem, a umidade relativa do ar cai. São necessários cuidados com a saúde nesse período para evitar doenças respiratórias

Mariana Machado
postado em 27/07/2019 07:00
Elias Pudeulko e Ana Paula Simões, no Parque da Cidade: dupla prefere correr no início da manhã, quando está menos quente e mais úmidoA dificuldade de respirar e a pele rachando não deixam ninguém esquecer: estamos no período de seca de Brasília. Neste sábado (27/7), completam-se 54 dias de estiagem ; o último registro de chuva aconteceu em 3 de junho. E o brasiliense pode se preparar, porque, em agosto, entramos na fase mais intensa. Até setembro, a umidade relativa do ar cairá constantemente dos 30% e as temperaturas passarão dos 30;C, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

;Não há previsão de chuvas a curto e longo prazos. A estação delas só começa na segunda quinzena de setembro, mas, até lá, não descartamos possibilidade de que ocorra em agosto;, explica o meteorologista Mamedes Luiz Melo. Ele lembra que isso ocorreu no ano passado. A média de umidade para agosto é de 46,8% e o instituto emite alertas a partir dos valores diários previstos. Abaixo de 12%, é classificado grande perigo, uma vez que a umidade é muito baixa. Nesses casos, há riscos para a saúde.

Professor de vôlei de praia no Parque da Cidade, Leander Gonçalves, 42 anos, diz que ele e os alunos começaram a notar a diferença no clima. ;Nas últimas semanas, estava muito frio, mas ainda tinha umidade, então, quando a gente chegava para jogar de manhã, a areia estava muito gelada. Agora, a secura aumentou;, observa.

Com isso, é preciso fazer adaptações com as turmas. ;O cansaço vem mais rapidamente. Uma série que antes tinha 10 repetições, agora, fazemos seis. Você puxa o ar e ele não vem. É como a sensação de engasgar. Mas, com calma, dá para fazer tudo;, garante Leander.

Quem gosta de correr aproveita o início da manhã, quando está mais frio. É o caso da médica Ana Paula Simões, 48. ;Neste ano, como ainda teve chuva em junho, a gente sentiu menos os impactos. Ainda assim, a pele fica ressecada e é mais difícil respirar;, pondera. Natural de Curitiba, o servidor público Elias Pudeulko, 45, enfrenta a seca da capital federal pela primeira vez. ;Confesso que achei que teria mais dificuldades. Faço remo, e é ruim nessa época, porque venta muito e isso atrapalha;, conta o paranaense.

Precaução

A baixa umidade combinada com o frio do inverno contribuem para a ocorrência de doenças respiratórias, como resfriados, gripes, sinusite, faringite e pneumonia, ressalta a pneumologista do Hospital Brasília, Lícia Stanzani. Elas podem ser causadas por vírus ou bactérias. ;O ar frio e seco é irritativo para vias aéreas, havendo também maior concentração de poluentes no ar. Além disso, as aglomerações que se formam em ambientes fechados, quando a temperatura está mais baixa, facilitam a disseminação dos agentes causadores;, explica a especialista.

Lícia lembra que, especialmente nesta época, é importante manter o organismo hidratado e alimentar-se bem. Além disso, ela recomenda evitar ambientes com fumaça ou poeira e aglomerações. Casas devem ficar arejadas e livres de tapetes, cortinas, bicho de pelúcia e tudo que tenha pelos. Para idosos e crianças, os cuidados são dobrados. ;É importante a imunização contra gripe para prevenção de infecções virais;, afirma a médica.

O estudante Matheus Valadares, 24, contraiu pneumonia em maio. ;Eu trabalhava em um ambiente fechado, em uma sala no subsolo e com ar-condicionado. Comecei a tossir muito, tive febre e a cabeça explodia de dor;, lembra. No hospital, o exame de raios x mostrou a infecção causada por uma bactéria. Ele tomou antibióticos por cinco dias. ;Mesmo depois do tratamento, passei ainda um mês inteiro tossindo muito, o que o médico disse que é normal;, recorda Matheus.

Dados:

96,5%: Nível do reservatório do Descoberto, nesta sexta-feira (26/7);

99%: Índice da água na barragem de Santa Maria, nesta sexta-feira (26/7);

Mais de 2 mil incêndios: Sem as chuvas, o momento torna-se mais propício para queimadas no cerrado. Desde maio, quando começou a estiagem, o Corpo de Bombeiros atendeu a 2.232 ocorrências de incêndios florestais no Distrito Federal. Na seca do ano passado (de maio a setembro), foram 6.082 chamados;

Estiagem

Confira os anos mais secos da história do DF:

1963 164 dias sem chuva
1966 131 dias sem chuva
2010 130 dias sem chuva

Reservatórios estão cheios

Apesar dos quase 60 dias sem chuva, os dois principais reservatórios que abastecem a rede de água do Distrito Federal seguem cheios. Até nesta sexta-feira (26/7), a Barragem do Descoberto estava com 96,5% da capacidade, enquanto a de Santa Maria tinha 98,5%. A previsão da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do DF (Adasa) é de que até o fim da estiagem, os valores cheguem a 46% e 69% respectivamente.

Contudo, o superintendente de Recursos Hídricos da Adasa, Gustavo Carneiro, acredita que os resultados possam ser mais otimistas. ;A gente está percebendo que o volume observado está bem descolado do previsto. É provável que a gente chegue na época mais crítica em setembro, com volume bem superior a esse valor;, afirma Carneiro.

Mesmo com baixo risco de racionamento para este ano, Gustavo Carneiro lembra ser importante que a população se mantenha consciente. ;Devemos ter em mente que, apesar de ter sido um ano mais favorável em termos de chuva, quando comparamos com os últimos três, a sociedade e os setores produtivos precisam lembrar que é uma situação sem volta;, alerta.

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