Isa Stacciarini, Sarah Peres
postado em 30/07/2019 18:05
Após desmontar um esquema de clonagem de veículos e uso de lacres falsos, a Polícia Civil tenta descobrir se há envolvimento de servidores do Departamento de Trânsito (Detran) e de terceirizados na falsificação de placas. Investigadores também apuram a origem de todo o material. ;Os criminosos pesquisavam um carro idêntico, faziam uma placa falsa e rodavam indiscriminadamente pelo Distrito Federal até serem barrados em uma operação ou blitz;, explicou o titular da Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri), delegado André Leite.
Segundo a investigação, os criminosos copiavam placas regularizadas e as colocavam em automóveis roubados. Os envolvidos também agiam em um comércio paralelo, vendendo falsas identificações por encomenda, principalmente a partir de pedidos feitos por aplicativos de mensagem, como WhatsApp. Em operação da Corpatri, agentes cumpriram 20 mandados de busca e apreensão. Quatro pessoas foram presas e outras 16 assinaram termo circunstanciado antes de serem liberadas.
A unidade policial começou a investigar o esquema após o registro de diversas ocorrências de veículos clonados: só em 2018, foram 2.046. A ação do grupo era sofisticada. Os criminosos copiavam os dados de uma placa verdadeira e faziam, em uma prensa, a produção da falsa. O esquema era o mesmo para os lacres. Depois, as identificações eram substituídas pelas falsificadas. Os carros clonados eram usados para cometer outros crimes, revendidos para pessoas sem participação no esquema ou trocados por drogas e armas.
Clonagem pela internet
A quadrilha ainda mantinha um sistema de venda dos produtos clonados pela internet, que atendiam suspeitos de outras unidades da Federação, como Bahia e São Paulo. No entanto, identificou-se que os acusados tinham lojas físicas clandestinas no Distrito Federal para captar vítimas. Os acusados cobravam, em média R$ 250, por um kit placa, com a traseira, a dianteira e o lacre.
Agentes da Corpatri se infiltraram naquadrilha, adquirindo uma placa idêntica à do carro do delegado responsável pelo caso, Erick Sallum. ;Os policiais pediram para os suspeitos produzirem uma placa clonada com os dados do meu veículo, o que foi feito facilmente. Isso demonstra o descontrole da produção destas mercadorias ilegais, que, consequentemente, dificultam o combate a roubos e furtos no Distrito Federal;, ressaltou o investigador.
O motorista que tinha a placa clonada só sabia do golpe quando recebia uma infração de trânsito que não cometeu. Quando a multa chegava, a maioria das vítimas procurava a polícia e fazia o registro de ocorrência. ;É uma situação que não dá para prever antes da chegada de uma documentação na casa da vítima. Para evitar cair em um emplacamento falso, a dica é consultar o site do Detran,que possui uma lista de empresas credenciadas para fazer esse tipo de serviço;, frisou o delegado André Leite.
Por e-mail, o Detran-DF informou que "aguardará as investigações sobre o fato, colaborando com o que for necessário."
Mercado de falsificação de placas
Policiais cumpriram mandados de busca e apreensão em 20 lojas de integrantes da quadrilha, como em filiais ilegais de donos de autorizadas do Detran. Segundo o delegado Erick Sallum, a ação dos criminosos influenciava no crescimento do mercado de falsificação de placas. ;O Detran concede autorização para uma loja, em uma determinada região administrativa. Portanto, a venda é restrita para aquela cidade. No entanto, esses comerciantes abrem filiais em outros locais, facilitando a clonagem de placas por criminosos. Esta ação configura exploração ilegal de atividade econômica;, explicou.
Erick ainda explicou que a compra de placas e troca de lacres somente pode ser feitas pelo trâmite regular, determinado pelo órgão de trânsito. "Aqueles que adquirem essas placas e lacres irregularmente também poderão ser responsabilizados criminalmente;, acrescentou.
Ao todo, participaram da operação 90 policiais civis e 10 agentes do Detran. "Tivemos esse apoio operacional do Detran devido aos fabricantes estarem instalados próximos a postos do órgão. Eles se valiam de estarem próximos ao órgão para persuadir o cidadão de bem, que não sabia distinguir o comerciante autorizado do ilegal", detalhou o delegado André Leite.
Os presos vão responder por uso indevido de símbolos e marcas identificadoras da administração pública e exercício ilegal de exploração econômica. Se condenados, podem pegar de dois a seis anos de prisão.