postado em 01/08/2019 04:08
Na semana passada estive em um hospital público para fazer consulta com um grande profissional, especialista com doutorado, muita experiência, consciência social da profissão e humanidade. Mas um detalhe me chamou a atenção logo na entrada.
Havia uma faixa esclarecendo aos usuários do hospital que os vigilantes não tinham qualquer responsabilidade pela falta de médicos, pelas filas, pela carência de equipamentos ou pela demora no atendimento. Eles são a parte visível do sistema precário, a indignação com o absurdo sobra para eles.
Sucessivos governos prometeram resolver o problema da saúde pública, alguns da maneira mais falastrona, mas a questão parece insanável e insolúvel. Admito que não é fácil, mas o que exaspera são as promessas falsas, fundadas exclusivamente na mentira mais deslavada. Alguns falam sem o menor conhecimento de causa e, depois, quando se deparam com a realidade dramática dos hospitais públicos, silenciam ou vão assistir a um jogo de futebol.
A esposa de um amigo fraturou o tornozelo em uma queda trivial do cotidiano. Trivial, mas de consequências delicadas, a exigir uma cirurgia muito especializada. Entraram na fila e, depois de muito esforço, conseguiram uma vaga para tratamento em hospital da rede Sarah, um dos orgulhos de Brasília e do Brasil.
Um acidente como esse tem um impacto não apenas físico, mas também psíquico, afeta a alma, leva à sensação de vulnerabilidade. Pois bem, foram os amigos para o Sarah. Mas, chegando lá, receberam um tratamento com tamanha dignidade, em todos os momentos e nos mínimos detalhes, que ficaram impactados. Não havia a pressa, o descaso e a negligência que, infelizmente, constituem, quase sempre, a rotina dos hospitais públicos.
Uma sobrinha minha trabalhou no Sarah. Ela disse que a instituição exigia que os funcionários tratassem os pacientes com atenção, educação e bom humor: ;Os pacientes podem estar mal-humorados, mas vocês precisam ter um bom humor constante;.
O meu amigo ficou tão impressionado que saiu do Sarah aos prantos, chorando as lágrimas de esguicho de que fala Nelson Rodrigues, lágrimas de alegria. Ele não acreditava que tivesse um tratamento tão atencioso, humano e digno em um país caindo aos pedaços. E se perguntava: se é possível fazer isso no Sarah, por que não se faz o mesmo em todos os hospitais do país?