Maria Baqui*
postado em 02/08/2019 09:30
Um incentivo a mais pode ser o grande responsável por mudar a realidade de alguém. O projeto Bike Geração de Renda comemora, nesta semana, um mês. A ideia da iniciativa é prover os meios necessários para que pessoas em situação de extrema vulnerabilidade social sejam reinseridas ao mercado de trabalho, por meio de entregas a domicílio.
Os materiais necessários para trabalhar como entregador são um celular e uma bicicleta em boa condição. Os itens são arrecadados a partir de campanhas de doação nas redes sociais.
O aplicativo de delivery Rappi é parceiro do Bike Geração de Renda. A equipe do aplicativo é responsável por proporcionar suporte de capacitação ao entregador, assim como por mediar o contato entre os funcionários e clientes. A empresa, além disso, fornece o material de entrega (jaqueta e mochila).
O idealizador da iniciativa, Rogério Barba, esteve em situação de rua por 30 anos. No entanto, com assistência psicossocial, venceu o vício às drogas e se tornou porta-voz da cultura, pela revista Traços. Atualmente, ele é referência em auxílio e apoio à pessoa em situação de rua em Brasília.
Barba conta que a proposta Bike Geração de Renda é estimular o trabalho e a autoconfiança dessa população. Além disso, ressalta que, um dos objetivos, é reduzir os altos índices de pobreza extrema no Distrito Federal. Ele acrescenta ainda que a medida é uma forma concreta de impedir que uma pessoa volte à situação de rua.
Os entregadores participam, antes de iniciar o primeiro dia de trabalho, de oficinas de direção defensiva. São os coletivos Bike Anjo e Roda da Paz que discutem as funções e a importância das leis de trânsito. Ao decorrer das semanas de trabalho, são realizados encontros a fim de acompanhar o desempenho dos entregadores.
Plínio do Carmo, de 39 anos, foi um dos primeiros participantes da ação e conta que esteve em situação de rua por quase três anos, trabalhando como vigia de carros. "Eu me sentia invisível quando dormia pelas calçadas. Muita gente não considera o morador de rua parte da sociedade", completa o entregador.
"Esse emprego me deu autonomia. Eu me sinto realizado, tudo mudou pra mim. Faço, em média, 10 entregas por dia. No final do mês, consigo cerca de mil reais. É o suficiente para eu pagar meu aluguel, comprar kits de higiene e me alimentar;, ressalta Plínio.
No total, sete pessoas são beneficiadas com a iniciativa. O objetivo é que, até o final de 2019, 10 tenham cadastro ativo. Luciano de Farias, de 37 anos, começou a trabalhar na quinta (1/8) e conta que, antes de conhecer a iniciativa Bike Geração de Renda, vendia doces no ônibus. Entretanto, o saldo mensal não pagava um aluguel.
;A minha visão do projeto é uma possibilidade de crescimento pessoal. Eu não tinha suporte e nem sabia por onde começar. Quando recebi a bicicleta e o celular vi que era uma chance real de mudar minha vida. Com apoio de todos e com a minha própria força de vontade, agora tenho como me levantar, me reerguer;, afirma Luciano.
* Estagiária sob a supervisão de Vinicius Nader