Alan Rios
postado em 02/08/2019 06:00
A série histórica de acidentes de trânsito com mortes no Distrito Federal traz dados preocupantes para motociclistas. Apenas no primeiro semestre do ano, 44 morreram nas vias da capital, 30,5% das vítimas em acidentes fatais. Neste século, o pior índice de um ano inteiro ocorreu em 2017, quando 26,37% das colisões vitimaram motociclistas. Só os pedestres morrem mais do que condutores de motos. Os dados são do Departamento de Trânsito (Detran-DF).Apaixonado por moto, Audinei Freire gostava da liberdade de dirigir sem pegar engarrafamentos nem precisar sair de casa horas antes do trabalho, como pedreiro. ;Nós dois tínhamos acabado de ter uma filha, em 2015, quando recebi a notícia de que um carro tinha batido nele e o meu marido não tinha resistido;, lembra a viúva, a técnica de enfermagem Luciene de Carvalho, 21 anos. Audinei tinha 18.
O bebê do casal tinha oito meses quando o pai morreu. ;Depois do nascimento dela, pedi muito para que ele comprasse um carro e a gente pudesse ficar mais tranquilo, até porque o Audinei já tinha caído e se machucado, mas a moto era uma praticidade grande que ele tinha, por morar em Santo Antônio do Descoberto (GO) e trabalhar no Lago Norte, na Asa Sul e em outras cidades de Brasília;, conta Luciene.
Para a técnica de enfermagem, atitudes de conscientização poderiam diminuir de forma considerável o número de acidentes. ;Parece que os motoristas dos carros têm raiva dos motoqueiros e vice-versa. Mas, no trânsito, não pode ser assim, tem que existir respeito e cuidado com o outro condutor;, defende.
Um pedido recorrente dos motociclistas são faixas exclusivas, de acordo com Luiz Carlos Galvão, presidente do Sindicato dos Motociclistas Profissionais do DF (Sindmoto-DF). ;Há anos temos essa reivindicação, mas todos os que já foram responsáveis pela mobilidade do DF prometeram projetos que não saíram do papel;, lamenta. Algo que vem dando certo e poderia ser ampliado, na visão de Luiz, são os bolsões para motoqueiros na frente dos carros, em semáforos. ;Isso impede que a gente fique parado nos corredores e deixa o trânsito mais seguro e fluido;, afirma.
Trabalho arriscado
O número de motoristas que usam o próprio veículo para trabalhar aumentou com o surgimento de empresas de transporte por aplicativo. Motociclistas que fazem entrega de comidas e outros produtos, por exemplo, são constantemente vistos no trânsito sem cumprir as especificações necessárias para o serviço. De acordo com o Artigo n; 139 do Código Brasileiro de Trânsito, que fala sobre o motofrete, é necessária uma autorização do Detran para o transporte remunerado de mercadorias. ;Muita gente sem emprego recorre a esse meio, sem as condições necessárias para isso, o que acaba aumentando a estatística de mortes. Para realizar entrega, o motociclista deve cumprir regras, como ter mais de dois anos de habilitação, mas tem muita gente que nem tem carteira dirigindo, porque não há fiscalização necessária;, opina Galvão Luiz.O diretor de Educação de Trânsito do Detran-DF, Marcelo Granja, reconhece o problema. ;O crescimento de entregas por aplicativos tem feito com que a gente pense em novas estratégias de conscientização e fiscalização. Há normas de segurança que são colocadas para preservar a vida do motociclista. A moto tem que ter um registro específico e o entregador deve ter curso necessário, por exemplo;, observa.
Marcelo também cita que a forma como são transportados os produtos causa vários acidentes, pois muitos motociclistas usam mochilas de grande peso, em vez do baú acoplado à moto. ;Isso desequilibra o condutor, causa derrapagens e acidentes graves. Fazemos bons trabalhos de conscientização em múltiplos setores, tanto que temos obtido bons resultados com pedestres e outros motoristas, mas ampliaremos ainda mais as fiscalizações com os motociclistas.;
O que diz a lei
; Segundo o Artigo n; 139 do Código de Trânsito, ;as motocicletas e motonetas destinadas ao transporte remunerado de mercadorias ; motofrete ; somente poderão circular nas vias com autorização emitida pelo órgão ou entidade executiva de trânsito dos Estados e do DF (Incluído pela Lei n; 12.009, de 2009);. No DF, a autorização é obtida no Curso de Formação para Motofrete. O interessado deve ter mais de 21 anos; ser habilitado, no mínimo, há dois anos na Categoria A; não estar cumprindo penalidade de suspensão ou cassação do direito de dirigir, bem como não estar impedido judicialmente de exercer o direito de dirigir; ter realizado o Curso de Formação para Motofrete.Fatalidade
Confira as vítimas de acidentes com morte no primeiro semestre de 2019:
Pedestres: 55
Motociclistas: 44
Passageiros: 18
Ciclistas: 10
Demais condutores: 10
Idade das vítimas
Até 9 anos: 3
De 10 a 19 anos: 3
De 20 a 29 anos: 25
De 30 a 39 anos: 38
De 40 a 49 anos: 27
De 50 a 59 anos: 24
60 anos ou mais: 21
Não informada: 3
Batida fatal em Santa Maria
Um motociclista de 31 anos morreu após colidir com um caminhão Santa Maria, às 7h30 desta quarta-feira (31/7), na DF-290, no Polo JK. Duas viaturas e oito militares foram acionados para participar do atendimento, mas Igor Pereira de Jesus morreu na hora. O motorista do caminhão, de 40 anos, não se feriu e prestou depoimento à Polícia Civil. Uma perícia realizada no local vai determinar a causa do acidente. A motocicleta colidiu contra o parachoque traseiro do caminhão.