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HCB amplia procedimentos

Hospital da Criança de Brasília é a primeira unidade de saúde do DF autorizada a fazer transplantes de medula óssea autogênicos. Há três anos, profissionais do estabelecimento começaram a fazer treinamentos em Ribeirão Preto, São Paulo e Curitiba

Correio Braziliense
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postado em 03/08/2019 04:07
Atualmente, 96 meninos e meninas transplantadas fora do DF fazem acompanhamento na unidade brasiliense


Quem sofre de doenças como leucemia, anemia falciforme, mieloma múltiplo, tumores de testículos e neuroblastomas sabe como um transplante de medula óssea é importante para alcançar a cura. No Distrito Federal, apenas o Instituto de Cardiologia (ICDF) realiza o procedimento para adultos. Crianças que precisam da terapia recorrem a outras unidades da Federação. No entanto, isso vai mudar. Uma portaria publicada no Diário Oficial da União habilitou o Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB) a fazer transplantes de medula óssea autogênicos.

Há três anos, os profissionais de saúde do HCB começaram a fazer treinamentos em Ribeirão Preto, São Paulo e Curitiba. Diretora técnica do HCB, Isis Magalhães acredita que, ainda no segundo semestre, será possível dar início à terapia. ;Agora, precisamos acertar detalhes finais. Ainda estamos com programas de treinamento e temos um grupo de enfermagem retornando em breve;, explica.

A unidade de terapia funcionará no Bloco 2, inaugurado em julho do ano passado. Atualmente, 96 meninos e meninas transplantadas fora do DF fazem acompanhamento no local. ;Sabemos que ao menos três crianças que estão em tratamento aqui vão precisar do transplante nos próximos meses;, destaca a diretora.

Uma delas é a moradora de Ceilândia Aline Santana Santos, 9 anos. Em fevereiro, a menina foi diagnosticada com neuroblastoma em estágio avançado. A doença provocou surgimento de tumores no pescoço, coluna, medula óssea e abdômen. ;Logo nos primeiros exames, os médicos suspeitaram de que seria isso e me alertaram. Há cinco meses, começou a quimioterapia e ela está melhorando, mas ainda não é o bastante;, lamenta a dona de casa Edilma Santana Santos, 42 anos, mãe de Aline.

A notícia de que a filha poderá fazer o transplante sem sair do DF é motivo de comemoração para as duas. ;Ir para outro estado seria muito complicado. Quando ela soube da novidade, pulou toda feliz. Ela é muito apegada ao pai e irmão, e com o tempo de internação e recuperação, precisaria passar três meses longe deles;, ri Edilma. No caso de Aline, só o transplante pode garantir a cura do câncer. ;Os médicos falaram que apenas com quimioterapia e cirurgia, os tumores podem voltar, porque estão sendo produzidos na medula;, ressalta a mãe.

Desafio

A autorização para transplante autogênico vem após visita de equipe do Ministério da Saúde à instituição. Na modalidade habilitada, a medula é retirada do próprio paciente. Em seguida, passa por quimioterapia para que restem apenas células saudáveis a serem reintroduzidas no organismo. O procedimento é semelhante a uma transfusão de sangue. As células se alojam na medula óssea e lá poderão se desenvolver.

Por enquanto, seguindo normas do ministério, apenas este tipo poderá ser feito na unidade pediátrica, mas, a perspectiva é de que após dois anos (prazo mínimo estabelecido), também possa ser feito o transplante alogênico, isto é, feito a partir de células precursoras de medula óssea obtidas de doador, em geral, um irmão.

A médica Simone Franco, responsável técnica pelo serviço do transplante de medula óssea do HCB, explica que, uma vez operante, a unidade terá 10 leitos em funcionamento. ;Esta é só a pontinha do iceberg. A gente não consegue nem mensurar a importância dessa conquista. A equipe está supercontente;, comemora.

A expectativa é de que crianças de outros estados busquem atendimento no DF. ;Principalmente aquelas do Norte e Nordeste, que não vão mais precisar se deslocar até o Sul e Sudeste do país. Estamos na capital do Brasil e ter a oportunidade de fazer isso pelas nossas crianças é emocionante.;

A diretora da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea, Adriana Seber ressalta que, no Brasil, há poucos locais habilitados ao atendimento infantil. ;Há muitas diferenças do transplante pediátrico para o adulto. A criança faz principalmente para leucemia linfoide aguda, que é rara em adultos. Elas têm tolerância muito melhor. A gente consegue usar doses de quimioterapia muito mais altas;, explica. ;Os adultos são muito mais frágeis. É preciso ajustar as doses e as doenças neles são menos agressivas. A gente está falando de pessoas e corpos muito diferentes.;

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