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Crianças e adolescentes da Casa Azul vivem dia de sonho com maestro

Crianças e adolescentes da Casa Azul têm a oportunidade de conhecer e ouvir histórias e dicas do maestro João Carlos Martins, um dos maiores nomes da música brasileira

ROBERTA PINHEIRO
Roberta Pinheiro
postado em 10/08/2019 07:00
O maestro esteve com 250 crianças e adolescentes que participam das oficinas de instrumentos de sopro, flauta, percussão e escaletaPara certas definições, palavras não existem ou são insuficientes. Descrever um momento ou um encontro transcende as linhas do dicionário. Nesses casos, o caminho se abre para as notas musicais, as melodias e as composições transmitirem sentimentos. ;Coração a mil;, define a adolescente Larissa Fernandes, 14 anos. No dia em que conheceu o famoso maestro João Carlos Martins, ela não soube verbalizar o que estava sentindo.

Larissa integra o projeto de musicalização da Casa Azul Felipe Augusto, entidade que proporciona, no contraturno escolar, oficinas de artes, teatro, dança, música, informática, atividades esportivas, orientação pedagógica e capacitação profissional. Nesta sexta-feira (9/8), a instituição recebeu a visita do ;velho maestro;, como gosta de se definir João Carlos.

Na ocasião, ele conheceu as dependências e também o trabalho desenvolvido na área musical. Desde o início do ano, a Casa Azul faz parte do Orquestrando o Brasil, plataforma para disseminação de conteúdo, oferecendo capacitação para regentes e músicos, além de ser uma ferramenta para a troca de conhecimento. Projeto, realizado em parceria com a Fundação Banco do Brasil, Sesi e Fiesp, que o pianista brasileiro toca com total dedicação e pretende deixar como legado.

Degraus

A emoção inexplicável de Larissa e das 250 crianças e adolescentes que participam das oficinas de instrumentos de sopro, flauta, percussão e escaleta cativaram o maestro. ;Achei incrível! A Casa Azul é um exemplo para a região e para o Brasil. Eles demonstram o que significa um projeto social. Agora, nós vamos trabalhar, vem a parte do progresso. Cada semana tem um degrau acima do degrau da semana passada. Eu continuo subindo os degraus, não sei até quando, mas todo músico tem que saber que, no dia seguinte, ele tem que tentar subir um degrau;, comentou Martins.

Após assistir a algumas apresentações e reger alguns grupos, o maestro surpreendeu a todos com um convite: tocar, no ano que vem, junto com ele no Theatro Municipal de São Paulo. ;Se eu fiquei emocionada, imagina o que passou na cabeça dessas crianças!”, ressaltou a presidente da instituição, Daise Lourenço Moisés.

Para ela, além da parte musical e do poder da música como instrumento de inclusão, a vida do pianista brasileiro é um exemplo. ;As superações como ele teve, como eu tive, as crianças daqui também têm que aprender a superar as suas dificuldades, as suas vulnerabilidades. Isso só acontece quando eles veem uma perspectiva de vida melhor e a música tem esse papel. Ela faz com que as pessoas possam externar todos os seus sentimentos;, afirmou Daise.

Espetacular

Enquanto as notas tomavam conta do ginásio organizado para receber o ilustre convidado, a emoção dos presentes se manifestava nas lágrimas. ;Ele é um exemplo de força, de determinação. Por metade ou menos do que ele passou em toda a vida, muitos desistiriam. A música é um dos meios que toca mais fácil e que faz abrandar o coração de muitos desses jovens. Eles passam por situações muito difíceis e ainda têm brilho nos olhos;, conta a assistente social Jani Beltramini. Ela não conseguiu conter a comoção ao ver Martins e os educandos tocando juntos.

No olhar de cada um dos jovens músicos, prevaleceram a concentração e a vontade de fazer um belo espetáculo. Afinal, o ;espetacular; maestro, como definiram os alunos, não merecia menos. Aquele que os seduziu pela grandiosidade também precisava ser conquistado e, não restam dúvidas de que foi. Ao final da visita, depois de muitas fotos, Martins recebeu uma carta escrita à mão, em uma folha de caderno. ;Era uma menina dizendo que o sonho dela é tocar em uma orquestra, para que ela pudesse ter uma oportunidade. E o Orquestrando o Brasil vai avaliar o caso dela;, prometeu.

;A oportunidade dessas crianças participarem do Orquestrando o Brasil é uma esperança que renasce. A gente já tinha uma orquestra e esse trabalho, mas uma coisa é você trabalhar para um grupo pequeno e outra é ser reconhecido, inclusive, a nível nacional;, avaliou Daise. O contato com a música e, sobretudo, com a flauta esclareceu, para Larissa, qual profissão ela gostaria de seguir. ;Sei que quando crescer, vou ser professora de música. Uma profissão que não sabia, mas me descobri aqui. Quero levar esse aprendizado e esse amor pela música;, contou a jovem.

Para saber mais

Talento e martírio

Aos 8 anos, João Carlos Martins revelou maestria na execução das obras de Sebastian Bach no piano. Aos 79 anos, são mais de seis décadas dedicadas à música clássica. Seu nome também invoca um conhecido relato de superação, que inclui acidentes, complicações osteomusculares nos membros superiores e 24 cirurgias neurológicas. A última, inclusive, amenizou dores no braço esquerdo, mas limitou, de forma definitiva, os movimentos nos dedos da mão. Para o piano, o músico agradeceu os anos de companheirismo e guardou os ensinamentos e as conquistas. Aposentou-se e seguiu para a regência.

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