Jéssica Eufrásio
postado em 10/08/2019 21:07
O crescimento dos índices de desemprego no país, que colocam 13 milhões de pessoas nessas situação, e no Distrito Federal, onde o cenário atingiu 336 mil pessoas em junho, tem levado alguns profissionais a recorrer a medidas urgentes. Nesta quarta-feira (14/8), duas irmãs chamaram atenção de quem passava pelo início da W3 Norte. Gleiciane Vilanova, 24 anos, e Irislayne Júlia Alves, 22, exibiram uma faixa no canteiro central em frente ao Setor de Rádio e Televisão Norte pedindo uma oportunidade de trabalho.
Formada em enfermagem há dois anos, Gleiciane não conseguiu um emprego até hoje. Ela conta que tentou diversas vezes, mas afirma que as empresas têm exigido longo tempo de experiência de pessoas recém-formadas. ;Fiz faculdade com o sonho de ser enfermeira, mas jogaram água fria em meu sonho. Tentei de todas as formas, participei de diversos processos seletivos em vários hospitais e só contratavam quem tinha experiência;, lamenta a jovem.
Gleiciane acrescenta que o apelo é em nome de diversas outras pessoas que se formam e não conseguem uma vaga de emprego. ;O governo abriu um leque de oportunidades para as pessoas se formarem, o que acho muito justo, mas, do lado empresarial, não houve investimento. Não deixo de achar correto o investimento na educação, mas os empresários não estão vendo o outro lado da moeda;, comenta a moradora de Planaltina.
Ao contarem para os parentes a ideia de expor uma faixa pedindo emprego, alguns familiares não levaram a proposta a sério. Quando as meninas decidiram agir, apenas a mãe delas e uma tia ficaram sabendo. As duas apoiaram a empreitada. Outros integrantes da família, no entanto, criticaram a iniciativa. ;Recebemos mensagens positivas de muita gente de fora depois que aparecemos na tevê. Em nossa família, teve gente dizendo que queríamos nos mostrar. Mas, mesmo assim, a gente lida bem com as críticas;, rebate Gleiciane.
Maleabilidade
Na mesma situação, mas graduada em engenharia civil há dois meses, Irislayne relata que a preocupação com emprego surgiu enquanto ainda estava na metade do curso. Ela conta que conseguir vagas de estágio remunerado era praticamente impossível e, mesmo tendo passado por três empresas quando era estudante, a experiência não foi suficiente para garantir uma contratação depois de formada.
Ela e a irmã percorreram oito quadras do Setor Noroeste para entregar currículos da, à época, futura engenheira civil em obras do bairro. Não houve retorno. ;Todo mundo falava a mesma coisa: que era necessário ter experiência. Trabalhei a graduação toda, fiz estágio e, quando me vi formada, não achei oportunidades por causa da experiência;, ressalta a jovem.
Para Irislayne, o problema está em um mercado de trabalho que tem expectativas altas em cima de quem acabou de terminar a faculdade. Ela acredita que as empresas ;deveriam ser mais maleáveis;. ;Sem oportunidade, as pessoas não têm nem como fazer um curso profissionalizante. Publicaram nossa foto com a faixa em um grupo e uma menina comentou que não adiantava a gente correr atrás com faixas se não procurarmos uma especialização. (Minha irmã e eu) Fizemos nossa faculdade com dificuldade. Éramos bolsistas. Pergunto como vou fazer uma especialização se não tenho nem dinheiro para pagá-la;, comenta Irislayne.
Elas contam que nesta quarta-feira (14/8), primeiro dia de exibição da mensagem, receberam ligações com propostas de entrevista e pedidos de envio de currículo. O plano das irmãs é ir para as ruas diariamente com a faixa até conseguirem emprego. Pela manhã, elas ficarão próximo ao Palácio da Alvorada e na W3 Norte; à tarde, no Setor Comercial Sul.