postado em 11/08/2019 04:06
Será tratado como feminicídio o caso da mulher encontrada morta na casa de parentes, no Paranoá. O suspeito é o sobrinho, Fábio Pessoa do Vale, de 38 anos, que, após cometer o crime, fugiu em uma moto e só foi encontrado na noite de sexta-feira, na rodoviária da cidade de Ouricuri, em Pernambuco, quando embarcava em um ônibus interestadual no sertão do estado nordestino. De acordo com a polícia, ele iria para a casa do avô, em Boa Viagem, no Ceará.
A delegada-chefe da 6; Delegacia de Polícia (Paranoá), Jane Klebia, foi à Ouricuri para trazer o suspeito de volta para a capital. À polícia, Fábio confessou o crime e não mostrou arrependimento. ;Ele detalhou que decidiu matar a tia na noite anterior, justificando que se enfureceu porque ela teria começado a falar mal dele após um desentendimento entre o autor e o filho da vítima;, conta Jane Klebia.
Na madrugada de quinta-feira, Fábio usou o cabo de um rodo para sufocar a tia dele, Maria Almeida do Vale, 68, enquanto ela dormia. ;Já pela manhã, na tentativa de esconder o sangue, ele colocou o capacete na cabeça da vítima e saiu de casa;, detalha. Antes de fugir da casa, ele ainda roubou R$ 200 da tia e mais R$ 600 da mãe. ;Não dá para entender tamanha barbaridade. Até a família ficou impressionada, porque eles se davam muito bem. Na noite anterior tinham jantado juntos, assistido TV juntos;, disse.
Fábio é ajudante de pedreiro e vendeu a motocicleta usada para fugir após o crime, uma Honda Titan 202 azul. Com o dinheiro, R$ 1 mil, ele saiu do Distrito Federal. Depois de ver a notícia de que o homem era suspeito de assassinato, o comprador da moto procurou a polícia para fazer a denúncia.
Com o apoio da Polícia Rodoviária Federal e da família do rapaz e da vítima, os policiais da 6;DP (Paranoá) trabalharam com a hipótese do suspeito ter ido para fora do Distrito Federal, para a casa de algum parente em outro estado. Antes de chegar ao local onde foi detido pela PRF de Pernambuco, Fábio passou pelas cidades de Floriano e Oeiras, ambas no Piauí. A polícia conseguiu descobrir o itinerário da viagem e o localizou. Ele usava o nome próprio nas bilheterias das rodoviárias.
Fábio responderá por feminicídio, já que o juiz emitiu o mandado de prisão conforme o indiciamento inicial da Polícia Civil do DF. Caso seja condenado, ele pode pegar até 30 anos de prisão. Com o objetivo de punir e, consequentemente, coibir o crime, a Polícia Civil do DF adota, desde 2017, um tipo específico de protocolo para investigação de feminicídio. Assim que uma morte violenta de mulher é identificada, a ocorrência passa a ser tratada como feminicídio. Se ao fim das investigações for descartada a hipótese, o boletim de ocorrência é alterado e passa a ser tratado como homicídio. ;O método veio para garantir que provas importantes em crimes de gênero sejam preservadas e as investigações fiquem cada vez mais qualificadas;, afirmou a corporação, em nota.
Crime
O assassinato aconteceu na manhã de quinta-feira, quando o pai, a mãe e a irmã de Fábio estavam em casa. No entanto, nenhum deles ouviu qualquer barulho ou pedido de socorro. O acusado e vítima dormiam em quartos no fundo do lote, fora da residência principal.
Por volta das 9h, a família estranhou que Maria demorava para acordar. Quando entraram no cômodo, encontraram o corpo. Fábio havia deixado a residência e, logo depois, ligou para a mãe dizendo que ;tinha feito uma besteira e acabado com a própria vida;. O corpo de Maria foi encontrado em cima da cama, com um capacete de motociclista e uma camiseta enrolada na cabeça. Além disso, ela estava vestida com uma calça e jaqueta do sobrinho. ;Ela estava muito machucada e teve parte do cabelo arrancado e jogado pelo quarto. Havia sangue nas paredes dos quartos e do banheiro;, detalhou Jane Klébia.
Maria havia chegado à casa da família na segunda-feira. Moradora de Montividiu (GO), cidade a cerca de 500 km do Plano Piloto, ela veio ao DF para colocar em dia a documentação de um veículo. Esse é o 15; feminicídio registrado este ano na capital federal.
Direitos
Com o objetivo de discutir a efetivação dos direitos das mulheres, previstos na Lei Maria da Penha, a 5; Mobilização de Mulheres de Samambaia reuniu, ontem, dezenas de mulheres que vivenciaram situações de violência doméstica e receberam atendimentos em instituições da rede local. A programação contou com palestras, oficinas, rodas de conversas, ações de saúde, apresentações artísticas, disponibilização de informações sobre os serviços da rede local (stands), atividades lúdicas, além de oficinas para crianças. O evento promoveu discussões sobre os serviços de atendimento, a importância da participação das mulheres em espaços de decisão, as diversas formas de violências, expressões da questão de gênero e controle social das políticas públicas para efetivação da cidadania.