Cidades

O prejuízo dos postos comunitários

Locais que antes traziam segurança para a comunidade, espaços destinados a policiais militares se transformaram em abrigo para moradores de rua e usuários de drogas. Muitos desses equipamentos foram incendiados e destruídos

postado em 12/08/2019 04:06
Locais que antes traziam segurança para a comunidade, espaços destinados a policiais militares se transformaram em abrigo para moradores de rua e usuários de drogas. Muitos desses equipamentos foram incendiados e destruídos

Criados em 2008 para trazer segurança e garantir presença ostensiva da polícia, os postos comunitários da PM se transformaram em estruturas fantasmas ao gasto de R$ 18 milhões aos cofres públicos. Nas regiões do Distrito Federal onde alguns resistem, apenas a estrutura se mantém erguida. Mas, dentro das unidades, o abandono de anos se reflete em equipamentos públicos quebrados, lixo no interior dos ambientes, restos de materiais e dejetos humanos. Sem uso, eles se tornam alvo da criminalidade. São incendiados, vandalizados, depredados e utilizados como abrigo para usuários de droga.

No Sudoeste, o posto da quadra 105 está abandonado e com a porta aberta, com acesso livre para qualquer pessoa. O interior da unidade se transformou num banheiro para moradores de rua. Na 216/416 da Asa Sul, a unidade está protegida com corrente e cadeado, restam apenas um banner da PM, uma televisão com antena e um ventilador quebrado. Já nas quadras QE 38 e QE 40 do Guará 2, os postos acabaram desativados após serem incendiados em abril e dezembro de 2014, respectivamente.



Para quem vive nessas cidades ou trabalha próximo aos postos, a sensação é de desperdício de dinheiro público. Morador do Sudoeste há 30 anos, Nelson Ribeiro, 73, se lembra que a presença dos policiais trazia segurança. ;Com a PM aqui, o criminoso pensa melhor antes de cometer um crime. Agora, além do abandono e da falta da presença deles, a estrutura fica vulnerável para quem tem má intenção;, opina.

A bancária Raquel Sales, 38 anos, trabalha bem próximo à unidade abandonada há cerca de cinco anos. ;O que era para dar segurança agora traz sensação de insegurança porque, com pouco movimento, atrai pessoas de rua e usuários de droga. É um dinheiro gasto que poderia ter sido investido em outras áreas, como na saúde;, ressalta.

Cada posto de segurança custou, em média, entre R$ 100 mil a R$ 150 mil. Eles foram instalados em 31 regiões administrativas, à época, para garantir a segurança da comunidade. Ao todo, eram 131 postos equipados com computador, telefone e torre de controle.

Autônomo e com um comércio no Sudoeste, José Mauro Barbosa, 48 anos, lamenta o abandono das unidades. ;No estado em que estão, esses postos acabam servindo de esconderijo de bandido e abrigo para moradores de rua. Não adianta em nada ter um ponto de segurança que traz mais medo do que solução;, destaca.



Fechamento

Em junho de 2015, o Comando da Polícia Militar fechou 60 postos comunitários do Distrito Federal com a justificativa de não estarem ajudando a manter a segurança da população. Na época, a corporação questionava a efetividade de se colocar uma equipe fixa na unidade, sem poder circular. Com baixo efetivo, a prioridade foi para que os policiais fizessem a chamada ronda.

Mas a aposentada Neusa Vicentini, 66 anos, discorda da justificativa: ;Se era para eles estarem circulando, cadê os policiais? Por que não se pensou nisso antes de construir as unidades;, questiona. Na opinião dela, uma estrutura abandonada causa fragilidade. ;A nossa insegurança acaba sendo maior, porque são postos sem uso e deteriorados. É um absurdo se deparar com o tamanho de dinheiro público malgasto;, acrescenta.

Taxista de um ponto em frente à estrutura policial da 216/416 Sul, Edvaldo Luiz dos Santos, 76 anos, garante que a unidade funciona. Segundo ele, diariamente, param de três a quatro carros da PM em frente ao posto, mas, na tarde de sexta-feira, durante o tempo em que a reportagem ficou no endereço, encontrou o posto fechado, sem a presença de equipes. ;Eles vêm, param a viatura de manhã, à tarde. É bom, porque inibe a presença de bandidos. Os policiais estão sempre por aqui;, afirma o motorista.




Saiba mais

Espaço da música



Em 2016, ao menos 20 estruturas de postos comunitários de segurança foram transformadas em salas de aula da Escola de Música de Brasília (EMB). A proposta partiu de uma ideia da professora de canto erudito Denise Tavares e saiu do papel após parceria entre a Secretaria de Educação do Distrito Federal, a Novacap e a PM. Além da Escola de Música, projetos sociais também receberam as unidades, como a cidade do Riacho Fundo 2, que transformou o posto em uma biblioteca pública.



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