Cidades

Um neto em Brasília

postado em 12/08/2019 04:06
Paulo Salles: pós graduçaõ na



Em Semente e Fruto, Cora Coralina escreveu sobre os filhos: ;construíram a minha resistência. Filhos, fostes pão e água do meu deserto. Sombra na minha solidão. Refúgio do meu nada. Removi pedras, quebrei as arestas da vida e plantei roseiras;. Do casamento com o advogado Cantídio Tolentino de Figueiredo Bretas, ela teve seis filhos: Cantídio, Ísis, Vicencia, Jacyntha, Eneas, Paraguaçu. A caçula, Vicencia, que mora em São Paulo, tem 92 anos e representa a família e o patrimônio da mãe.

Filho de Jacyntha, Paulo Sérgio Bretas de Almeida Salles, diretor-presidente da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa), lembra com carinho e orgulho a avó. ;Quando vim para Brasília, comecei a visitá-la com mais frequência. No retorno dela para Goiás, fui o neto com quem mais teve contato;, conta. Paulo, inclusive, morou um tempo na Casa Velha da Ponte, hoje o museu da poetisa. ;Foi uma pós-graduação na escola da vida;, define.

No dia a dia, mesmo com tantos anos, é difícil não se lembrar de algum comportamento da poetisa ou alguns dos seus dizeres. ;Ela tinha uma visão muito interessante sobre o mundo. Era uma pessoa muito informada. Sem ter rádio, televisão, era só leitura, nos jornais, nos livros, e as conversas que tinha. A casa estava sempre de portas abertas;, relembra. Entre tantas memórias, as conversas de Cora com a lavadeira do Rio Vermelho (que corta Goiás Velho), ou a mulher do governador, ou uma estudiosa, ou um jovem são recorrentes. ;Essa comunicação dela com as pessoas me marcou muito;, conta.

Sem ingenuidade, Cora tinha uma visão otimista do mundo e a vivência de quem viu a passagem de um século para o outro com todas as transformações. A avó valorizava o trabalho e o resultado do mesmo. ;Para ela, o mundo podia melhorar cada vez mais por meio do trabalho. Ela convidava as pessoas a olharem ao redor e verem que tudo que estava ali era fruto do trabalho de alguém;, detalha Paulo.

O neto reconhece que a avó escrevia, como ela dizia, para gerações que nasceriam. ;(Cora) Tinha a percepção de que a mensagem dela ultrapassaria o tempo e seguiria atual. É universal, por isso está tão ligada a fatos presentes. Ela não focava no passado e, sim, nas relações humanas, nos sentimentos. O quintal de sua casa era um universo.;



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