postado em 13/08/2019 04:07
Aulas de jornalismo, gastronomia, agrofloresta, educação financeira, empreendedorismo e mais. A grade de disciplinas, que parece ser de uma universidade, foi implementada em uma escola pública do Distrito Federal. Alunos de ensino médio do Centro Educacional do Lago têm à disposição 55 matérias optativas para cursar no contraturno escolar, que são divididas em quatro grandes áreas: preparação para ensino superior, mercado de trabalho, arte/esporte/lazer e serviço social/protagonismo/liderança. A ideia partiu de diálogos entre direção, coordenação, professores e estudantes. Há aulas ministradas pelos próprios alunos.
Guilherme Ribeiro, 16 anos, está à frente de uma turma. Cursando o segundo ano do ensino médio, ele estuda pela manhã e, à tarde, ensina elementos da cultura hip hop na instituição. ;A ideia surgiu quando eu estava conversando com meus amigos e o projeto deu certo, foi bem apoiado. Abrimos 15 vagas e 40 pessoas se inscreveram;, conta.
O aluno fez planejamento de aulas, detalhando os conteúdos que trabalharia, para mostrar que o ensino acrescentaria à instituição. ;Vamos trabalhar grafite, break dance, mixagem de som e rima, para que isso diminua o preconceito com essa cultura. Algumas pessoas acham que isso é vagabundagem, mas envolve arte, sociedade e muitas outras coisas;, ensina.
O projeto de disciplinas optativas só tem sucesso porque promove uma participação ativa dos alunos e professores, segundo o coordenador pedagógico do centro educacional, Vitor Valdez. ;Sempre fizemos uma leitura das necessidades da escola e dos interesses dos alunos para criar as disciplinas. Tudo vem de um tempo de avaliação, questionamentos sobre o que funciona, o que a comunidade precisa e o que motiva os estudantes, por exemplo;, conta.
A proposta se preocupa com o envolvimento entre escola e comunidade e leva profissionais de fora para atividades. ;Temos um policial militar que dá aulas de jiu jitsu, um servidor da secretaria (de Educação) que dá oficina de gastronomia, um psicólogo que faz atividades com um grupo de alunos, e por aí vai;, detalha Valdez.
Universidade
A metodologia da instituição do Lago Sul tem como objetivo preparar os alunos para diferentes caminhos possíveis. Aulas de preparação para o Programa de Avaliação Seriada (PAS) e para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) auxiliam quem deseja entrar em universidades públicas, enquanto disciplinas de liderança e empreendedorismo incentivam aqueles que desejam abrir o próprio negócio e matérias como teatro, iniciação musical e canto inspiram os talentos artísticos, para citar alguns exemplos. Os professores se orgulham, ainda, de oferecer aulas de libras, protagonismo juvenil, ciência bilíngue e inteligência emocional, que preparam para a vida, independentemente da escolha de carreira dos estudantes.
No último ano do ensino médio, Mallena Kerpel, 16, diz que a escola conseguiu aproveitar o período integral para fornecer a ajuda necessária a quem está com dúvidas sobre o futuro. ;Principalmente, no ensino médio, que é a fase em que a gente tem que decidir o que vamos fazer para o resto da nossa vida, essas atividades são muito importantes. Tem gente que pensa, por exemplo, em cursar direito, mas participa de uma disciplina diferente e acaba percebendo que se encaixa melhor nela. Isso é muito bom para que a gente conheça nosso perfil e descubra que caminho quer seguir;, comenta a aluna.
Para diminuir as dúvidas sobre o que fazer no próximo ano e ainda sair da escola com conhecimentos extras, Mallena se inscreveu em diferentes disciplinas. ;Escolhi cursar química e física e, na prática, vôlei, skate, filosofia, arte e jornalismo;, enumerou. Uma das que mais a animam é a de jornalismo. ;Gostei muito da proposta da matéria, que é apresentar a história do jornal, como ele foi criado e por quem, e fazer com que a gente conheça a importância dos textos jornalísticos. Isso auxilia nossos conhecimentos de mundo e ainda ajuda nos preparando para as redações do PAS, Enem e em interpretações de texto;, acrescenta.
A diversidade de opções gera outro tipo de resultado positivo: os alunos passam a preferir estar no colégio durante o contraturmo escolar do que em outros lugares. ;Além de ser muito importante para a nossa carreira, essas aulas são boas porque são diferentes daquelas que já estamos acostumados, de português, matemática, física... Se a gente tivesse essas disciplinas no período integral, ia ficar muito pesado, ninguém ia gostar de ir para a escola, como acontece hoje;, opina Fernando Evangelista, 17.
O diretor do Centro Educacional do Lago, Fabian Garzon, lembra que, quando foram abertos as inscrições para as disciplinas, a escola recebeu 150 matrículas on-line nos primeiros cinco minutos. Até professores se interessaram em participar das aulas. ;O primeiro ano do período integral foi muito difícil, porque estávamos acostumados a trabalhar com metodologias tradicionais, antigas, de só passar informações. Mas, agora, trabalhamos em um sistema muito mais participativo, em que os alunos trazem muito conteúdo para dentro da escola e há trocas de conhecimentos com os educadores;, afirmou.
"O primeiro ano do período integral foi muito difícil, porque estávamos acostumados a trabalhar com metodologias tradicionais, antigas, de só passar informações. Mas agora trabalhamos em um sistema muito mais participativo, em que os alunos trazem muito conteúdo para dentro da escola e há trocas de conhecimentos com os educadores;
Fabian Garzon, diretor do Centro Educacional do Lago
"Sempre fizemos uma leitura das necessidades da escola e dos interesses dos alunos para criar as disciplinas. Tudo vem de um tempo de avaliação, questionamentos sobre o que funciona, o que a comunidade precisa e o que motiva os estudantes, por exemplo;
Vitor Valdez, coordenador pedagógico do Centro Educacional do Lago