postado em 16/08/2019 04:07
José Carlos da Silva, músico carioca radicado em Brasília desde o início dos anos 1970, foi tão fluente e influente com seu instrumento que ficou conhecido com o nome dele: Carlinhos 7 Cordas. Reverenciado como mestre por diversas gerações do choro, Carlinhos deixou mudas as cordas do violão na madrugada de onde, quando foi vítima de uma parada cardíaca, aos 75 anos. Diagnosticado com insuficiência cardíaca e com a saúde frágil, ele havia sido internado no Instituto de Cardiologia do Distrito Federal, após um processo infeccioso, para colocação de um cateter.
Carlinhos chegou ao Distrito Federal em 1977, trazido por dois fundadores do Clube do Choro, com a missão de disseminar o violão de sete cordas na cidade, a qual dividiu com Alencar, outra lenda das sete cordas brasilienses. Enquanto Alencar aprendia o instrumento, Carlinhos, que nasceu em Itaperuna, no Rio de Janeiro, era uma referência na capital carioca. ;Aqui, não tinha violonista de sete cordas. Carlinhos veio dar um passo muito importante, não só para nós, que estávamos começando a fazer um movimento em Brasília. Hoje, deve ter uns 30 violonistas de sete cordas;, conta Lício da Flauta, um dos fundadores do Clube do Choro.
Um desses músicos foi o violonista Fernando Cesar, que lembra com carinho do mestre. ;Desde criança, sempre acompanhei a música dele. Aprendi muita coisa vendo ele tocar e ouvindo nos discos. Eu me lembro de, ainda criança, estar tocando no Clube do Choro. Quando a gente terminou de tocar, a esposa dele veio falar comigo: ;O Carlinhos gostou muito e falou que você tocou igualzinho a ele;;, recordou Fernando.
Companheiros
Grande nome do choro brasileiro, Waldir de Azevedo conheceu Carlinhos no mesmo ano em que o violonista chegou à capital. A identificação foi imediata. Carlinhos viajou ao exterior com Azevedo e gravou dois discos do músico, um dos pontos altos de sua carreira. No mesmo ano, Carlinhos conheceu Alcione, com quem se casou, teve três filhos e conviveu até o último dia de vida.
Alcione conheceu o marido em uma noite na qual ele tocava e logo engataram o namoro. Ela se recorda com carinho de outro talento de Carlinhos: ;Ele tinha uma voz muito bonita. Não era muito de cantar, mas, quando cantava, era uma voz muito bonita;.
Desde a notícia da morte, Alcione tem recebido muitas manifestações de apoio e carinho de amigos, fãs e admiradores. ;O telefone não para. Gente da Espanha, onde ele tocou. Minhas amigas do Chile. Gente da Colômbia, Rio de Janeiro, Belo Horizonte. Muita admiração pelo talento dele como compositor e musicista, reconhecido dentro e fora do Brasil;, comentou.
Compositor
Amigo de Carlinhos há mais de 30 anos, o músico Clôdo Ferreira orgulha-se de ter gravado, em 2016, duas músicas do amigo em seu álbum Homônimo. Foi só depois de muito tempo de amizade que, de uma forma natural, surgiu a parceria entre os dois, em que Clôdo colocou letra sobre duas melodias do violonista, dando origem às faixas Iluminuras e Diamantes.
;Foi uma honra para mim, e me emocionou, porque tive a chance de tê-lo comigo no lançamento. Fiquei muito abalado com essa perda. Os bons músicos, quase todos, conhecem e tocam as músicas dele. Nós tínhamos planos de continuar;, declarou o amigo.
O corpo de Carlinhos 7 Cordas será velado hoje, a partir das 8h, na capela no 6 do Campo da esperança. Em seguida, às 11h30, haverá o sepultamento.
*Estagiário sob supervisão de Renato Alves