postado em 17/08/2019 04:07
Vontade de verde
Nunca fui um cara muito da natureza. Plantas, mato, animais me lembram mais insetos, picadas e coceiras do que relaxamento e paz de espírito. Como bem definiu a mãe de uma amiga certa vez, sempre fui um cara que, se via algo verde à direita, virava para a esquerda.
Não sei o porquê. Quando pequeno, meus pais me levavam para passeios no campo com razoável frequência. Tentavam me mostrar a delícia de comer jabuticaba direto do pé e incentivaram uns passeios a cavalo, mas a natureza e eu nunca nos entendemos. Nem de praia eu gosto tanto assim, para verem como a coisa é feia.
Mesmo assim, ando sentindo uma saudade danada de verde. Tenho sonhado com um passeio num lugar fresco, quieto, com som de folhas balançando, ao lado de alguém querido e bom de papo. Fico lembrando da última vez que encontrei uma querida amiga para colocar a conversa em dia, num sábado à tarde, no gramado do CCBB, e penso: ;Preciso mais daquilo;.
Racional que sou, comecei a buscar uma explicação. E a primeira coisa de que me lembrei foi que essa vontade de natureza se parece com a vez em que, do nada, fiquei com um desejo louco de comer tomate durante duas semanas. Tudo o que disse sobre a natureza ali em cima se aplica às verduras e aos legumes. Salada no meu prato, só por obrigação e bem pouca.
Um dia, porém, saí para almoçar salivando por várias rodelas de tomate, as quais devorei. E a cena se repetiu nos dias seguintes, até que um amigo me aconselhou a ver se eu não estava com deficiência de alguma coisa, vitamina C talvez. Relapso que sou com a saúde, continuei comendo tomate até a vontade passar, mas acreditei na explicação de que a busca pelo fruto era causada por um deficit qualquer.
A vontade de verde, então, também deve ser falta de algo, concluí. Mas do quê? Oras, relaxamento e paz de espírito. Estamos vivendo tempos difíceis e estressantes, e eu não tenho conseguido fugir deles. Fui pesquisar e descobri um estudo publicado este ano na revista especializada Frontiers in Psychology, por pesquisadores da Universidade de Michigan. Os danados descobriram o seguinte: passar 20 minutos por dia em um ambiente arborizado, mesmo no meio urbano, reduz os níveis de cortisol, o tal do hormônio do estresse.
Uau! Então, se, anos atrás, meu corpo percebeu alguma deficiência nutricional e sinalizou que eu precisava comer tomate, ele agora faz o mesmo e pede por contato com a natureza. Faz sentido, não acham? Bem, eu achei, surpreso mais uma vez com a sabedoria desse tal de organismo humano.
Terminada a autoanálise, disse para mim mesmo: sábado vou passar uma tarde em algum parque ou jardim! E aí lembrei que estarei de plantão... Mas tudo bem. Sou uma pessoa positiva, mesmo quando estressado e frustrado. Pode não ser hoje, mas farei isso logo e mais vezes, sempre que possível. E recomendo o mesmo à cara leitora e ao caro leitor que tem este belo dia de folga. Aproveitem!