Cidades

Crônica da Cidade

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 19/08/2019 04:29
Contra tudo, o amor!

Os tempos modernos chegam com novidades que assombram. Os acontecimentos aqui, e do outro lado do mundo, ora secam a boca; ora apertam o peito; outras engulham o estômago. Às vezes, bate aquela tristeza do Jeca; uma vontade de largar tudo, desligar-se do mundo e conectar-se consigo mesmo numa vila qualquer de pescador.

De repente, a noite cai, o vento canta lá fora pela fresta da janela e os pensamentos voam. Numa ilha da Noruega ou na Praia do Espelho, na Bahia, a vida é plena, feliz e repleta de possibilidades. A barreira da língua estilhaçada no chão... Os boletos nada mais são do que confetes colorindo o ar. Restam apenas o Sol, o frio, o calor, a areia, o banho de mar, o pôr do sol e um brinde sob o luar.

O canto do vento persiste lá fora, mas as a vida é aqui e agora, com boca seca, engulho no estômago, apertos no peito, lampejos de loucura e lucidez. E contra tudo isso, há um só antídoto: o amor. O amor em todas as suas formas. O de marido e mulher, pais e filhos, entre amigos. O amor pela profissão, pela poesia e pela música. Já percebeu que em determinados dias a música pode salvar do tédio (Stand by Me, com quem quer que seja), do ataque de fúria (Paciência, do grande Lenine) ou da monotonia (O que é o que é, Gonzaguinha)?

Tem faltando muita coisa por aí nos tempos modernos. Mas o bicho gente é assim: quanto mais se espreme, mais se busca a luz. E ela está em toda a parte. Na gargalhada da criança, no abraço debaixo do chuveiro, no chamego na hora do boa noite; no café quente com pão francês e manteiga; no prato de arroz com feijão, pimenta malagueta e farinha ou no menu elaborado do restaurante que se vai uma vez no ano, geralmente após o pagamento (para muitos).

A vida, a que importa, é estar na cumplicidade de olhar; no cheiro bom de terra molhada; na contemplação da Lua cheia na varanda de casa ou da janela do apartamento; na sensação de que alma saltou do corpo quando se mergulha na cachoeira gelada; na exaustão de uma trilha no cerrado. A vida está aí e cabe a cada um extrair dela o melhor que ela pode oferecer aqui e agora. No fundo, cada um sabe o que precisa para respirar ar fresco, encher o peito e ir à luta. É preciso coragem. Porque o ontem já era e o amanhã? Bem, quem sabe como será!

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação