Ana Viriato
postado em 21/08/2019 06:00
Antes garantido na lista de escolas que serão administradas sob a gestão compartilhada com a Polícia Militar mesmo após a rejeição ao modelo, o Centro Educacional Gisno, na Asa Norte, está com o futuro incerto. O governador Ibaneis Rocha (MDB), o novo secretário de Educação, João Pedro Ferraz, e o Sindicato dos Professores do DF (Sinpro) reúnem-se nesta quarta-feira (21/8), no Palácio do Buriti, para colocar opções à mesa. Por enquanto, o colégio fica de fora da lista das cinco instituições que iniciaram a preparação para receber os militares nesse semestre.
A abertura do diálogo ocorre em meio a uma crise na educação. Primeiro chefe da pasta na gestão Ibaneis, Rafael Parente foi demitido na noite de segunda-feira após se posicionar contra a decisão do governador de ignorar os resultados de consultas públicas a professores, pais e alunos desfavoráveis à militarização. Com a baixa, o Palácio do Buriti escalou Ferraz, que, por ora, acumula os cargos de secretário de Educação e de Trabalho.
Apesar das tratativas, Ibaneis assegura que deixará a militarização do Gisno de lado apenas se o Sinpro e João Pedro Ferraz encontrarem uma solução plausível para o cenário ;preocupante; da escola. O governo classifica como ;muito baixo; o Índice de Educação Básica (Ideb) da instituição e como ;muito alta; a reprovação média e a taxa de abandono escolar. ;Se eles tiverem uma opção que tire os alunos da situação em que estão, eu topo. Quero que as crianças do Gisno tenham um futuro como o dos meus filhos;, afirmou o governador.
Ibaneis acrescentou que o problema do Sinpro é ;criticar, mas não mostrar saídas;. ;Parece que querem a bagunça para continuar no poder. Estamos há 20 anos sem solução;, ressaltou. Ainda assim, o chefe do Buriti disse ter confiança no novo secretário para resolver o impasse. ;Ele atuou como procurador-geral do Ministério Público do Trabalho (MPT), ou seja, lidou com todos os problemas do mundo;, declarou.
Novato na área de gestão de educação pública, Ferraz diz ter ;certeza absoluta; de que governo, sindicato e comunidade escolar encontrarão um denominador comum. ;Isso porque o nosso interesse também é comum, que é uma boa educação e uma escola de qualidade com segurança para professores, alunos e pais;, declarou Ferraz. No colégio da Asa Norte, o placar final registrou 58,49% dos votos válidos contra a gestão compartilhada.
Rosilene Corrêa, diretora do Sinpro, afirmou que a entidade não quer permanecer em um cabo de guerra com o GDF, mas destacou ter legitimidade de opinião. ;Queremos uma ação de decisões mais coletivas. O governador faz questão de colocar como se fosse uma disputa com ele. Mas o Sinpro atua na defesa do que for melhor para a educação;, argumentou.
Em meio às discussões, o governador ainda não sabe quem substituirá Ferraz em uma das pastas e cogita a possibilidade de fundi-las. ;Poderíamos transformá-la em Secretaria de Educação e Emprego, porque as duas coisas estão juntas. Mas isso está em análise. Não tenho pressa;, disse, após agenda pública no Conselho de Desenvolvimento Econômico.
Uma coisa, porém, está clara para Ibaneis: a necessidade de acelerar o processo de militarização em outras instituições. A ideia é criar unidades com 100% dos profissionais militares a partir de 2020. ;Vamos pegar as escolas que se cadastraram no programa. Estou assinando um decreto hoje (nesta quarta-feira ; 21/8) e levando para a Secretaria de Segurança;, adiantou.
Conciliação
Além de abrir o diálogo sobre a militarização do Gisno, o governador tentou apaziguar os ânimos com distritais. Ele havia se envolvido em um bate-boca com o distrital Fábio Félix (PSol) na tarde de segunda-feira, quando visitou a Câmara Legislativa para entregar o projeto de lei que cria a Secretaria Extraordinária da Pessoa com Deficiência. O emedebista se exaltou após ter a postura criticada e ouvir um pedido de recuo: ;Eu não vou discutir com você. A Câmara fique à vontade com seus esquerdistas;, disparou.
Em carta aberta divulgada nesta terça-feira (20/8), Ibaneis classificou o episódio como ;pequeno incidente;. ;Por considerar que a ocasião era imprópria para a discussão do tema, e após diversas declarações públicas sobre a matéria, reafirmei o meu posicionamento de forma, possivelmente, inadequada, destacando que eventuais alterações na condução do assunto deveriam ser explicitadas em legislação precisa e clara;, afirmou.
O tom, entretanto, não convenceu parte dos parlamentares. ;A carta, em si, é insuficiente, porque não vem acompanhada da decisão de respeitar a escolha da comunidade escolar no que diz respeito à militarização;, pontuou Fábio Félix, em plenário.
Contratação
O Palácio do Buriti nomeou, nesta terça-feira (20/8), 200 professores de educação básica. Entre as áreas de atuação dos docentes estão: artes, biologia, ciências naturais, filosofia, física, geografia, história, espanhol, inglês, língua portuguesa, matemática, química, sociologia, ciências naturais. Os professores terão a carga horária de 40 horas.
Militarização em duas semanas
A presença de policiais fardados nas cinco novas escolas militarizadas ocorrerá em até duas semanas.
Essa é a expectativa do Governo do Distrito Federal (GDF) com base no que ocorreu no primeiro semestre, quando quatro colégios adotaram a gestão compartilhada entre as secretarias de Educação e Segurança Pública. A partir de agora, começam as tratativas para a implementação do modelo. A mudança ocorre de forma gradativa e envolve pelo menos três etapas. Primeiro, há o alinhamento interno entre os dois órgãos envolvidos. Nessa fase, os representantes discutem os procedimentos a serem adotados. Em um segundo momento, há a adaptação com professores e servidores, como maior rigidez no horário de entrada. Por último, começa o envolvimento com os alunos com o modelo militarizado. As escolas que se somam as outras quatro com gestão compartilhada são: Centro Educacional 1 do Itapoã (CED 1), Centro de Ensino Fundamental 19 de Taguatinga (CEF 19), CEF 407 de Samambaia, CEF 1 do Núcleo Bandeirante e Centro Educacional Condomínio Estância III, em Planaltina.