Correio Braziliense
postado em 21/08/2019 04:07 / atualizado em 14/10/2020 12:24
Antes garantido na lista de escolas que serão administradas sob a gestão compartilhada com a Polícia Militar mesmo após a rejeição ao modelo, o Centro Educacional Gisno, na Asa Norte, está com o futuro incerto. O governador Ibaneis Rocha (MDB), o novo secretário de Educação, João Pedro Ferraz, e o Sindicato dos Professores do DF (Sinpro) reúnem-se hoje, no Palácio do Buriti, para colocar opções à mesa. Por enquanto, o colégio fica de fora da lista das cinco instituições que iniciaram a preparação para receber os militares nesse semestre.
A abertura do diálogo ocorre em meio a uma crise na educação. Primeiro chefe da pasta na gestão Ibaneis, Rafael Parente foi demitido na noite de segunda-feira após se posicionar contra a decisão do governador de ignorar os resultados de consultas públicas a professores, pais e alunos desfavoráveis à militarização. Com a baixa, o Palácio do Buriti escalou Ferraz, que, por ora, acumula os cargos de secretário de Educação e de Trabalho.
Apesar das tratativas, Ibaneis assegura que deixará a militarização do Gisno de lado apenas se o Sinpro e João Pedro Ferraz encontrarem uma solução plausível para o cenário “preocupante” da escola. O governo classifica como “muito baixo” o Índice de Educação Básica (Ideb) da instituição e como “muito alta” a reprovação média e a taxa de abandono escolar. “Se eles tiverem uma opção que tire os alunos da situação em que estão, eu topo. Quero que as crianças do Gisno tenham um futuro como o dos meus filhos”, afirmou o governador.
Ibaneis acrescentou que o problema do Sinpro é “criticar, mas não mostrar saídas”. “Parece que querem a bagunça para continuar no poder. Estamos há 20 anos sem solução”, ressaltou. Ainda assim, o chefe do Buriti disse ter confiança no novo secretário para resolver o impasse. “Ele atuou como procurador-geral do Ministério Público do Trabalho (MPT), ou seja, lidou com todos os problemas do mundo”, declarou.
Novato na área de gestão de educação pública, Ferraz diz ter “certeza absoluta” de que governo, sindicato e comunidade escolar encontrarão um denominador comum. “Isso porque o nosso interesse também é comum, que é uma boa educação e uma escola de qualidade com segurança para professores, alunos e pais”, declarou Ferraz (leia entrevista na página 18). No colégio da Asa Norte, o placar final registrou 58,49% dos votos válidos contra a gestão compartilhada.
Rosilene Corrêa, diretora do Sinpro, afirmou que a entidade não quer permanecer em um cabo de guerra com o GDF, mas destacou ter legitimidade de opinião. “Queremos uma ação de decisões mais coletivas. O governador faz questão de colocar como se fosse uma disputa com ele. Mas o Sinpro atua na defesa do que for melhor para a educação”, argumentou.
Em meio às discussões, o governador ainda não sabe quem substituirá Ferraz em uma das pastas e cogita a possibilidade de fundi-las. “Poderíamos transformá-la em Secretaria de Educação e Emprego, porque as duas coisas estão juntas. Mas isso está em análise. Não tenho pressa”, disse, após agenda pública no Conselho de Desenvolvimento Econômico.
Uma coisa, porém, está clara para Ibaneis: a necessidade de acelerar o processo de militarização em outras instituições. A ideia é criar unidades com 100% dos profissionais militares a partir de 2020. “Vamos pegar as escolas que se cadastraram no programa. Estou assinando um decreto hoje (ontem) e levando para a Secretaria de Segurança”, adiantou.
Conciliação
Além de abrir o diálogo sobre a militarização do Gisno, o governador tentou apaziguar os ânimos com distritais. Ele havia se envolvido em um bate-boca com o distrital Fábio Félix (PSol) na tarde de segunda-feira, quando visitou a Câmara Legislativa para entregar o projeto de lei que cria a Secretaria Extraordinária da Pessoa com Deficiência. O emedebista se exaltou após ter a postura criticada e ouvir um pedido de recuo: “Eu não vou discutir com você. A Câmara fique à vontade com seus esquerdistas”, disparou.
Em carta aberta divulgada ontem, Ibaneis classificou o episódio como “pequeno incidente”. “Por considerar que a ocasião era imprópria para a discussão do tema, e após diversas declarações públicas sobre a matéria, reafirmei o meu posicionamento de forma, possivelmente, inadequada, destacando que eventuais alterações na condução do assunto deveriam ser explicitadas em legislação precisa e clara”, afirmou.
O tom, entretanto, não convenceu parte dos parlamentares. “A carta, em si, é insuficiente, porque não vem acompanhada da decisão de respeitar a escolha da comunidade escolar no que diz respeito à militarização”, pontuou Fábio Félix, em plenário.
Contratação
O Palácio do Buriti nomeou, ontem, 200 professores de educação básica. Entre as áreas de atuação dos docentes estão: artes, biologia, ciências naturais, filosofia, física, geografia, história, espanhol, inglês, língua portuguesa, matemática, química, sociologia, ciências naturais. Os professores terão a carga horária de 40 horas.
Militarização em duas semanas
A presença de policiais fardados nas cinco novas escolas militarizadas ocorrerá em até duas semanas.
Essa é a expectativa do Governo do Distrito Federal (GDF) com base no que ocorreu no primeiro semestre, quando quatro colégios adotaram a gestão compartilhada entre as secretarias de Educação e Segurança Pública. A partir de agora, começam as tratativas para a implementação do modelo. A mudança ocorre de forma gradativa e envolve pelo menos três etapas. Primeiro, há o alinhamento interno entre os dois órgãos envolvidos. Nessa fase, os representantes discutem os procedimentos a serem adotados. Em um segundo momento, há a adaptação com professores e servidores, como maior rigidez no horário de entrada. Por último, começa o envolvimento com os alunos com o modelo militarizado. As escolas que se somam as outras quatro com gestão compartilhada são: Centro Educacional 1 do Itapoã (CED 1), Centro de Ensino Fundamental 19 de Taguatinga (CEF 19), CEF 407 de Samambaia, CEF 1 do Núcleo Bandeirante e Centro Educacional Condomínio Estância III, em Planaltina.
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Total de escolas militarizadas no Distrito Federal