postado em 23/08/2019 04:07
Jurados condenaram ontem dois homens por dois feminicídios distintos ocorridos no Distrito Federal. Em um dos julgamentos, o réu recebeu a pena de 25 anos de prisão por ter matado a mulher, após jogá-la da janela do apartamento, na 415 Sul. No outro, o júriou aplicou 36 anos e nove meses de cadeia ao responsável pela morte a facadas de uma funcionária do Ministério dos Direitos Humanos.
O Tribunal do Júri de Brasília condenou Jonas Zandoná pelo feminicídio de Carla Grazielle Rodrigues Zandoná. O homem de 45 anos foi considerado culpado por jogar a mulher de 37, com quem era casado, do terceiro andar de um prédio, em 6 de agosto do ano passado. Ele cumprirá pena em regime fechado. Seus advogados não podem recorrer da decisão.
Os sete jurados decidiram pela condenação do réu com todas as qualificadoras (além de concordar que o crime teve relação com o gênero da vítima, o júri considerou que ele agiu por motivo torpe e sem dar chance de defesa à Carla). Todo o julgamento foi acompanhado por cerca de 30 pessoas, entre amigos e familiares da vítima e do réu.
Os depoimentos das testemunhas de acusação foram importantes para a sentença. ;Conforme relatos (no Tribunal do Júri de Brasília), antes do crime, a vítima e o réu tiveram uma intensa briga. Isso demonstra que a atitude do acusado foi tomada em grande ódio;, disse o juiz, ao ler a sentença. ;Também ficou constatado que o réu humilhava constantemente a vítima, demonstrando grande sadismo. Ainda, a atitude dele atinge a todos os familiares da vítima, sobretudo o filho do casal, que sofre psicologicamente com o feminicídio da mãe;, completou o magistrado.
Os familiares da vítima não comemoraram a decisão. ;Quando a vida de alguém tão querido é tirada de uma forma tão brutal, não tem nada que traga alívio. Eu o quero preso, mas isso não me satisfaz. Nada vai trazer a minha neta de volta e fazer com essa dor no coração passe;, lamentou a avó de Carla, a aposentada Francisca Coelho da Silva, 77, em lágrimas.
Testemunha
O crime aconteceu na noite de 6 de agosto. Uma testemunha, que passava sob o bloco, viu a queda de Graziele e interfonou no apartamento, perguntando se a mulher havia caído, mas Jonas desligou o aparelho e se trancou no imóvel. Graziele foi levada ainda com vida ao Hospital de Base, mas não resistiu aos ferimentos.
Quando uma equipe da Polícia Militar chegou ao local do crime, o suspeito estava trancado no apartamento e não tinha descido para prestar socorro à vítima. Ele apresentava sinais de embriaguez e foi preso em flagrante.
Carla Graziele havia denunciado Zandoná à polícia duas vezes. Em uma, ele foi preso com base na Lei Maria da Penha. Um juiz expediu uma ordem protetiva para a mulher. Vizinhos disseram que as brigas entre os dois eram frequentes, com agressões físicas, injúrias e ameaças recíprocas.
Facadas
O Tribunal do Júri de Santa Maria julgou o outro caso de feminicídio. Stefanno Jesus Souza de Amorim, 22, foi condenado por matar com cinco facadas a ex-companheira, a funcionária do Ministério dos Direitos Humanos Janaína Romão Lucio, 30. O crime ocorreu em 14 de julho de 2018. Ele, que foi capturado após ficar três dias foragido, confessou o crime no primeiro depoimento, ainda na delegacia.
Em frente aos jurados, Stefanno narrou novamente o crime, que ocorreu na casa dele, em Santa Maria, mas negou ter cometido o crime na frente das filhas do casal, que atualmente têm 5 e 4 anos. Ele não demonstrou remorso e, quando o juiz perguntou se Stefanno gostaria de se falar algo para a família da vítima, disse que não havia necessidade.
Durante julgamento, o réu olhava e ria para os familiares e amigos de Janaína, sentados no plenário. Para uma amiga da vítima, que pediu para ter o nome preservado, o objetivo de Stefanno era intimidá-los. ;É difícil ver uma pessoa que você conhece desde criança se tornar tão ruim. Ele nunca foi bom, mas o escárnio é a prova de que, em nenhum momento, houve arrependimento, nem pelas filhas dele, que estão sofrendo muito;, comentou a mulher.
As crianças moram com uma irmã de Janaína, em Santa Maria. A mudança ocorreu depois que a mãe da vítima morreu, domingo passado.