postado em 24/08/2019 04:06
Tá com ciúme?
Semana passada, neste mesmo espaço, falei para a cara leitora e para o caro leitor que tentaria visitar mais os parques e as áreas verdes da cidade, numa tentativa de reduzir o estresse que recai sobre todos nós nestes tempos difíceis. Pois, na terça-feira, dia em que ganhei uma folga por ter dado plantão no fim de semana, decidi colocar o plano em prática. Desci para uma breve caminhada entre as árvores da superquadra.
Foi uma ótima ideia. E produtiva, para a minha surpresa. Além da calma que senti durante o passeio, pesquei no ar a conversa de um jovem casal que namorava e discutia ao mesmo tempo embaixo de um dos blocos. Achei a briga tão interessante que logo pensei em transformá-la na crônica da semana, o que me deixou ainda mais calmo. O sonho de todo cronista que publica aos sábados é já saber, na terça-feira, sobre o que escrever. Não acordar todo dia se perguntando qual tema abordará naquela semana dá uma paz de espírito que os não cronistas nem imaginam...
Ouvi só alguns segundos da conversa, mas deu para sacar o motivo da discórdia. A namorada se sentia pouco valorizada e duvidava que o namorado realmente gostasse dela. O motivo para as suspeitas estava ali, na palma da mão: o Instagram do garoto não trazia fotos com ela. Por isso, ela resolvera equilibrar a relação, apagando as fotos em que ele aparecia na rede social dela. Ele começava a protestar e a prometer que ia postar mais fotos dos dois juntos quando eu ; pela distância, e não por falta de curiosidade ; deixei de bisbilhotar a conversa.
Sorri, então, por constatar, pela milésima vez, que a internet só cria um novo palco para velhas questões humanas. A reivindicação por manifestações públicas de afeto existe desde muito antes de as redes sociais terem surgido. Afinal, quem gosta de namorar alguém que parece sempre preocupado em esconder o parceiro ou dar a entender que não está com ninguém? Hoje, em tempos de hiperconexão, essa manifestação tem de ocorrer não só no mundo real, mas também no virtual. Caso contrário, corremos o risco de nos sentirmos rejeitados.
Imediatamente, me lembrei de um dos funks mais legais que já ouvi: o Din din din, de Ludmilla. É aquele com os bem sacados versos ;Din din din, pode dar em cima de mim/Tá com ciúme, tá com ciúme?/Pega na mão e assume;. O Instagram, concluí, é o novo pegar na mão. Você tem uma conta na rede social, mas não posta foto da namorada? Ora, não estranhe se ela, depois, disser que não sente firmeza no seu compromisso.
Desde aquela terça, o funk de Ludmilla não sai da minha cabeça. Mas, sempre que eu o canto, faço em uma nova versão, inspirada no casal que discutia entre os pilotis: ;Tá com ciúme, tá com ciúme? Posta no Insta e assume.; Vamos, lá! Cante comigo, cara leitora, caro leitor: ;Tá com ciúme, tá com ciúme? Posta no Insta e assume.;