Cidades

A dor da despedida

Cerca de mil pessoas participaram da cerimônia de adeus à advogada assassinada na sexta-feira. Familiares e amigos destacaram a paixão da funcionária do MEC pelo direito e a dedicação dela aos estudos e à família

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 28/08/2019 04:07
Cerca de mil pessoas participaram da cerimônia de adeus à advogada assassinada na sexta-feira. Familiares e amigos destacaram a paixão da funcionária do MEC pelo direito e a dedicação dela aos estudos e à família

Mil pessoas reuniram-se, ontem, para dar adeus à Letícia Sousa Curado de Melo, 26 anos, assassinada na sexta-feira pelo cozinheiro desempregado Marinésio dos Santos Olinto, 41. Esforçada, gentil e amorosa, como é descrita por amigos e familiares, a advogada e funcionária do Ministério da Educação (MEC) teve um enterro marcado por lágrimas e homenagens no Cemitério de Planaltina. Em pouco mais de uma hora de cerimônia, os presentes falaram sobre as experiências com a mãe de um menino de 3 anos e entoaram cânticos evangélicos.

Sem conseguir falar devido à comoção, a mãe de Letícia, que pediu para não ter o nome publicado, escreveu uma carta, lida por uma tia da jovem. ;Foi o dia mais triste da minha vida;, dizia o texto, em referência à segunda-feira, data em que a Polícia Civil encontrou o corpo da advogada. O testemunho abordou uma das paixões de Letícia: o direito. Ela escolheu o curso após estagiar como menor aprendiz no Fórum do Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT), em Planaltina, narrou a carta.

Os amigos que choraram a morte de Letícia ressaltaram o jeito carinhoso e encantador da moça. O autônomo Higo José Reis, 32, lembrou do companheirismo da advogada. ;Ela era uma pessoa maravilhosa, positiva e que estava ao lado dos amigos sempre que precisavam. Não merecia isso;, afirmou.

Padrinho do filho de Letícia, o bombeiro Leandro Dias, 30, agradeceu à população pelo apoio e aos envolvidos na busca pela funcionária do MEC, que foi dada como desaparecida na sexta-feira. ;Os compartilhamentos nas redes geraram uma comoção social. A Polícia Civil esteve junto ao caso o tempo todo, trabalharam como nunca. Eles realmente compraram a briga. A família está muito agradecida por todos os gestos de carinho;, frisou.

Indignação
Além das homenagens, os amigos de Letícia mostraram indignação pela barbárie. ;Não quero ter ódio de quem fez isso. Quero que a justiça seja feita e que quem fez isso seja punido, mas o que fica é a saudade. Ela deixou um ensinamento. Vivia a vida de uma forma leve e direita, sem fazer mal a ninguém;, destacou a amiga de Letícia, a fotógrafa Aise Letícia Rodrigues, 24.

Ela conheceu Letícia no Centro de Ensino Fundamental de Planaltina 1 (CEF 1 Centrinho), quando cursaram a 5; série. Aise contou que esteve na casa da advogada e alegou que a situação com o filho da vítima ainda é delicada. ;A avó paterna falou que ele ouviu por cima, Ninguém tinha dito diretamente. Ele é muito pequeno. Estamos vendo a melhor forma de falar isso;, comentou.





Marido
Mais cedo, no início da tarde, o marido de Letícia, Kaio Fonseca Curado, 26, esteve com familiares no Instituto de Medicina Legal (IML), de onde o corpo foi liberado por volta das 14h. Abalado, o marido da advogada preferiu não dar entrevista. Primo dela, o bombeiro Rosenvelt Ferreira, 44, que acompanhava Kaio, comentou o sofrimento da família devido ao desfecho do caso. ;É um sentimento de dor muito grande. A gente procura palavras para expressar o que a família está sentindo, mas não encontra;, lamentou.

Sobre as novas vítimas que surgiram a partir da divulgação do caso, Rosenvelt disse esperar que o assassino confesso de Letícia ;pague pelos crimes que cometeu;. ;Espero que ele não fique impune. Que ele pague não só pelo que fez com a Letícia, mas também pelo que fez com a outra vítima e, talvez, venham até outros casos, como os que a polícia está investigando;, frisou.

Após a descoberta da morte da advogada, o clima em Arapoanga é de insegurança e comoção. ;Quando ficamos sabendo que ela havia entrado em um carro precisando de transporte pirata, aquilo mexeu muito com a gente. Porque ônibus no Arapoanga é muito difícil, então tem vezes que não temos escolha;, disse a comerciante Maria das Neves, 50. Ela trabalha ao lado do prédio onde morava Letícia. No edifício da jovem, uma faixa preta pendurada na varanda manifestava o luto.




"É um sentimento de dor muito grande. A gente procura palavras para expressar o que a família está sentindo, mas não encontra;
Rosenvelt Ferreria, primo de Letícia Curado


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