Cidades

"Nós não temos culpa do que está acontecendo"

Família de Marinésio dos Santos Olinto revela ao Correio tristeza e surpresa com os crimes cometidos por ele e pede compreensão à população. Mãe e filha deixam a casa onde moravam, no Vale do Amanhecer, após ameaças

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 29/08/2019 04:06
Família de Marinésio dos Santos Olinto revela ao Correio tristeza e surpresa com os crimes cometidos por ele e pede compreensão à população. Mãe e filha deixam a casa onde moravam, no Vale do Amanhecer, após ameaças



Além de Letícia Curado, 26 anos, de Genir Pereira de Sousa, 47, e das outras vítimas que procuraram a polícia, Marinésio dos Santos Olinto, 41, destruiu a vida de outras duas mulheres: da companheira de 19 anos de casamento e da própria filha, de 16. Com medo das ameaças que receberam, a família abandonou o barraco de madeirite e alvenaria onde morava, nos fundos de uma casa, no Vale do Amanhecer, em Planaltina.

Vizinhos contaram que mãe e filha receberam mensagens no celular com a advertência de que o imóvel seria incendiado. ;Inclusive, chegaram a dizer que o Marinésio deveria sentir o mesmo que as outras famílias; por isso, iriam atrás da dele;, contou um conhecido da família, que preferiu não se identificar. Com medo, ambas se mudaram às pressas na noite de terça-feira. Esperaram toda a vizinhança se recolher para chamar um caminhão de mudanças. Carregaram o que podiam e partiram sem informar o destino.

Apenas um cachorro ficou para trás. O cão permaneceu solto na área externa do barraco como alternativa para fazer a segurança do lote. Vizinhos se revezaram para levar comida e água ao animal. ;Ela disse que venderia a casa, porque estava assustada e temendo pela filha;, revelou um vizinho.

Na segunda-feira, quando Marinésio indicou onde estava o corpo de Letícia e confessou o crime, ele clamou à população que sentisse raiva apenas dele e não atacassem os parentes. ;Ninguém sabia nada de nada, nem a minha família. A minha filha não deveria passar por isso. Ninguém virá mais me ver. Até entendo e peço mil desculpas;, disse o assassino confesso.
Segundo fontes ligadas à Polícia Civil, o homem confessou os crimes por medo de represália aos familiares. ;Se vocês tiverem ódio, tenham de mim. Esqueçam elas (da mulher e da filha), porque elas não merecem isso. Eu vou pagar o que eu fiz, vou me regenerar, e peço perdão a todas;, acrescentou Marinésio.

Sofrimento

Após deixar o Vale do Amanhecer, a família de Marinésio se escondeu. O Correio conseguiu localizar a mulher do cozinheiro, que, por telefone, pediu compreensão. ;Nós não temos culpa de tudo o que está acontecendo. Agora, só estamos tentando preservar as nossas vidas. Estamos sofrendo muito com tudo isso;, lamentou.

Para a filha de Marinésio, a maior dificuldade é entender as ações do cozinheiro. ;Jamais poderíamos imaginar que ele seria capaz de fazer algo assim. Mas, se ele confessou, é porque fez. Descobrir esses casos foi uma surpresa e uma tristeza muito grande para a nossa família. Ele era uma pessoa bem diferente no dia a dia. Era uma pessoa tranquila, que não passava medo;, garantiu. A adolescente, no entanto, não esconde a falta do pai: ;Estamos sofrendo com a ausência dele e com a forma com que as pessoas estão nos tratando. É uma situação muito complicada. Como podíamos imaginar uma coisa dessas?;, questionou.

Assédio

Marinésio trabalhava como funcionário terceirizado na cozinha de um supermercado, no Lago Norte. O Correio esteve no local na manhã de ontem, mas os empregados receberam a orientação de não conversar com a imprensa. Apenas um funcionário contou ter ouvido falar que Marinésio havia sido demitido de um emprego ;porque assediou uma funcionária;, mas não deu mais detalhes.

A gerência do supermercado não informou por quanto tempo Marinésio trabalhou na empresa. Procurada, a empresa terceirizada informou à reportagem que não vai se pronunciar. Em 2018, ele foi cozinheiro no Restaurante Comunitário de Sobradinho 2, onde tinha carteira assinada.

Colaborou Alan Rios

Seminário debate violência contra elas

Em 5 e 6 de setembro, o auditório do Instituto Federal de Brasília (IFB) receberá o Seminário Sobre Cultura de Violência Contra Mulheres. O evento, realizado pelo Usina de Valores, projeto do Instituto Vladimir Herzog, é aberto ao público e tem como objetivo, a partir de experiências e perspectivas diversas, esclarecer do que se trata a cultura de violência contra elas e por que é urgente trazê-la para o debate com a sociedade brasileira. O seminário é voltado para coletivos e grupos feministas locais, além de veículos da mídia alternativa. Os debates propostos vão abordar temas urgentes e atuais, como a gravidade da violência política contra mulheres; a educação como ferramenta na luta pela igualdade de gênero; e a importância do autocuidado e das redes de proteção para mulheres ativistas. Será das 9h às 20h, no IFB (610 Norte). A entrada é gratuita. Até 2 de setembro, inscrições no site usinadevalores.org.br/seminario/inscricao. Em 5 e 6 de setembro, inscrições serão no local.

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