Jornal Correio Braziliense

Cidades

''Foi uma coisa traiçoeira'', diz delegado sobre o assassinato de professor

Estudante de 18 anos atacou o coordenador da instituição de ensino pública, em Águas Lindas de Goiás, no término das aulas matutinas, em frente a pais, estudantes e funcionários do colégio. Polícia apura a motivação do crime

Anderson da Silva Leite Monteiro, 18 anos, é apontado como o único suspeito de matar a facada Bruno Pires de Oliveira, 41, professor e coordenador do ColégioEstadual Machado de Assis (Cema), em Águas Lindas (GO). O crime ocorreu por volta das 12h15 desta sexta-feira (30/8), no momento da saída do turno da manhã. Os investigadores acreditam que o estudante premeditou o crime. ele estava foragido até o fim da noite.

Titular do Grupo de Investigação de Homicídios (GIH), o delegado Cleber Martins disse que a faca estava dentro da escola. ;Ainda vamos checar se outro estudante a emprestou;, comentou. O investigador acrescentou que não houve luta corporal. ;Foi uma coisa traiçoeira;, ressaltou. Bruno trabalhava havia um ano na instituição, por meio de contrato temporário.

Em depoimento, testemunhas contaram que o aluno do 9; ano se irritou após ouvir boatos de que seria cortado do programa esportivo Mais Educação, voltado a estudantes do 6; e 7; anos. A razão do desligamento varia, conforme relatos: indisciplina, notas baixas e problemas de saúde. O motivo do crime, no entanto, não estava confirmado, até o fechamento desta edição.

;Oficialmente, Anderson não tinha sido desligado do programa e o professor Bruno não era o responsável pelo projeto. Não teria a competência por fazer isso. Por isso, ainda não entendemos por que, ele se tornou a vítima;, observou o delegado.

Após o golpe, Anderson fugiu a pé. Bruno ainda conseguiu entrar de volta na escola, caminhar até a sala dos professores e contar aos colegas o que havia acontecido, enquanto pedia ajuda. ;Ele avisou que foi o Anderson Grandão que deu a facada. O apelido era como o aluno era conhecido;, explicou o delegado Rodrigo Mendes, plantonista da 1; Delegacia de Polícia. O coordenador recebeu atendimento no colégio e foi encaminhado ao Hospital Municipal de Águas Lindas, mas não resistiu aos ferimentos e morreu por volta das 14h.

Professores relataram que o aluno suspeito era tranquilo e nunca mostrou comportamento alterado. ;Ele não era um dos melhores estudantes, mas nunca foi agressivo. Os professores acreditam que ele tenha tido um surto psicótico;, destacou Mendes. Anderson deve ser indiciado por homicídio qualificado por motivo fútil e uso de recurso que impossibilitou a defesa da vítima. As penas variam de 12 a 30 anos de prisão.

Comoção

Professora de história do colégio, Gracielle Tavares, 38, namorava a vítima havia um ano e meio. Ao Correio, ela disse que Bruno nunca teve problemas com o suspeito do crime. ;Eu e outros professores já tivemos problemas com ele. O aluno xingava, mas ficava por isso mesmo;, contou. Na última semana, ela chamou o pai de Anderson à escola devido às constantes faltas. ;Ele (o aluno) tem problemas sérios do coração. O pai foi explicar a ausência dele devido a isso;, completou Gracielle.

A educadora soube da notícia por meio do celular. ;Bruno trabalharia meio período e viria me ver;, lamentou a professora. ;Ele nem apresentava atestado (médico). Amava aquele colégio. Só queria entender o que houve. Estou sem chão;, finalizou Gracielle.

Uniformizados, cerca de 50 alunos do Colégio Estadual Machado de Assis pediram paz, com cartazes. ;Queremos chamar a atenção do governo para a falta de segurança nas escolas de Águas Lindas;, disse o aluno Ezequias Vitor, 16. Segundo ele, o professor morto era brincalhão, e pensava no futuro dos alunos. ;Ele estava pensando em sortear uma bolsa de estudos para um aluno que está formando;. Os alunos seguiram da marginal da BR-070 até o colégio.

No muro da escola, uma faixa preta foi estendida, além de cartazes com a frase ;Não haverá aula. Motivo: Luto estampam o ambiente;. Os pais questionaram a atuação do governo local. Entre eles, Bruna Josefa, 30, mãe de uma aluna do 7; ano, que defende a militarização nas escolas. ;Os professores tinham medo dos alunos. Muitos deles já foram ameaçados;, destacou.

O Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego) publicou uma nota nas redes sociais sobre a morte do servidor. ;É lamentável. Mais uma morte trágica no ambiente escolar, que reitera a necessidade da proteção dos profissionais da Educação. É preciso agir para que vidas não mais sejam retiradas. Basta de tanta violência. A Educação pede paz;, disse a presidente da entidade, Bia de Lima.

Memória

; 2018

28 de agosto

Um adolescente de 14 anos esfaqueou outro, de 13, no Centro de Ensino Fundamental 19, na QNN 18/20, em Ceilândia. A dupla se desentendeu, e o mais velho deu facadas na região do peito e do pescoço do mais novo.

24 de setembro

Um jovem de 17 anos foi baleado duas vezes por dois jovens na Escola Classe Vila Nova, em São Sebastião. Segundo testemunhas, a discussão entre ele e os autores começou nas imediações do colégio. A vítima foi atingida no braço, peito e tórax.

3 de dezembro

Uma desavença entre duas mulheres terminou em tragédia na Escola Municipal do Pedregal, bairro do Novo Gama (GO). Jéssica Oliveira entrou na unidade de ensino e assassinou, a facadas, Fernanda Xavier, 21 anos. Ambas eram mães de alunos da instituição. A briga entre as duas começou pelas redes sociais.

; 2019

30 de abril

O professor e coordenador Julio Cesar Barroso de Sousa, 41, morreu dentro de uma escola em Valparaíso após ser baleado por um aluno. O caso ocorreu no Colégio Estadual Céu Azul. O garoto atacou a vítima após ela intervir em uma briga entre o estudante e uma professora. Depois da discussão, o jovem teria saído da escola, ameaçado o profissional e voltado armado.

A VÍTIMA

Bruno Pires de Oliveira, 41 anos

; Era formado em geografia, mas também dava aula de história.
; Atuava em contrato temporário na rede pública de ensino de Águas Lindas (GO).
; Trabalhava no Colégio Estadual Machado de Assis, onde também era coordenador.

O suspeito

Anderson da Silva Leite Monteiro, 18 anos

; Estudava no 9; ano do Colégio Estadual Machado de Assis, em Águas Lindas.
; Era considerado um aluno de bom comportamento, mas estava com notas baixas.
; Os pais participavam da educação do filho, inclusive com ida à escola.

* Estagiários sob supervisão de Renato Alves