Para manter as lembranças da mãe, o militar mostra para a criança fotos e vídeos da família. ;Estou tentando blindá-lo o máximo possível;, revela. Diante da dor, ele evita falar em superação. ;Estou pegando o resto de força que tenho para passar ao meu filho e para levantar da cama.;
Kaio e Letícia se casaram em agosto de 2017. Após o crime, o viúvo usou as redes sociais para publicar fotografias do casamento, celebração em que Letícia aparece sorridente, usando uma saia azul para a cerimônia civil. Na postagem, escreveu: ;A gente queria crescer a família. Quando você concordou, me deixou repleto de alegria. Você era tudo para mim. Apesar das confusões, nós sabíamos do nosso amor incondicional. Passamos por cima de tudo e de todos para ficarmos juntos;, declarou-se.
Para Kaio, é complicado falar em justiça. Em vez disso, o militar prefere se apegar à fé. ;A gente tem de pensar assim para não se agarrar à raiva e ao ódio e acabar se afundando cada vez mais;, explica. Da mulher, ele elogia a personalidade forte. ;Letícia era uma menina de paz. Um pouco turrona, mas tinha coração bom e era especial para todo mundo;, detalha.
Depois das ameaças sofridas pela filha e pela mulher de Marinésio, Kaio se manifestou contra a perseguição às duas, afirmando que elas também são vítimas. ;O único culpado é o preso. Toda a família veio falar comigo. Eu senti e vi sinceridade nos olhos deles. A filha nem conseguiu falar. O pai, um senhor de mais de 70 anos, tentou ajoelhar pedindo perdão;, afirmou.
Agora, ele espera que o assassinato da esposa não se torne apenas estatística. ;Eu vou lutar para não deixar que isso seja esquecido. Letícia tem de ser eterna nesse caso de força e luta para as mulheres;, ressaltou. ;Para as guerreiras que sobreviveram na mão desse cara, digo para terem força e tentar levar para a frente, porque ao menos elas ainda têm a vida.;
Semelhanças
A ferida começa a fechar para os parentes da auxiliar de cozinha Genir Pereira Sousa, 47, assassinada em junho ; Marinésio confessou o crime. Abalado, o filho dela, o padeiro Leonardo Araújo, 29, conta que vive o momento mais difícil da vida. ;Foram dois meses e 10 dias de espera. Por um lado, é um alívio, mas, por outro, há revolta e raiva;, lamentou.
Após a prisão pelo homicídio de Letícia, o cozinheiro contou à polícia que ele e Genir tiveram relação sexual consensual, informação refutada pelo filho da vítima. ;O depoimento dele foi mentiroso. Todo mundo que a conheceu ouviu dela: ;Se alguém tentasse me estuprar, eu preferia morrer;. Eu disse isso na delegacia;, relembrou.
Mãe e filho moravam no Arapoanga, bairro de Planaltina. ;Fazíamos tudo juntos. Aos fins de semana, íamos ao Paranoá, onde ela tinha mais conhecidos;, recordou. ;A minha mãe era dedicada aos amigos, à família e ao trabalho. Ficou 15 anos na pizzaria da patroa. Era uma pessoa extraordinária e, todos os dias, sentimos falta dela.;
Agora, ele procura acompanhamento psicológico e cogita mudar de endereço. ;Não consigo mais ficar em casa desde o dia que a minha mãe sumiu. Eu não durmo aqui, mas na casa da minha tia. Cada canto (da residência) me lembra dela.; Segundo Leonardo, todo o drama está sendo revivido. ;Eu estava de férias no Piauí, quando soube do caso da Letícia e voltei em seguida. A minha irmã foi à delegacia e disse que havia semelhanças. Eu tive em mente que era o mesmo autor, e isso se confirmou;, afirmou.
Para outras mulheres que também sofreram abusos de Marinésio ou de outros agressores, Leonardo faz um apelo: ;Elas precisam ir à delegacia. A gente pensa que nunca vai acontecer com a nossa família, mas, infelizmente, acontece;. De acordo com o padeiro, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) ofereceu ajuda no caso da mãe. ;Quanto mais pressionarmos, mais rápido será o julgamento, e ele paga pelo crime;, avaliou.