Cidades

Crônica da Cidade

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 01/09/2019 04:07
Viver em condomínio

Uma amiga me pediu para falar como se vive nos condomínios horizontais. Começarei pelo em que resido. É fronteiriço a uma mata e impõe uma convivência cotidiana com os bichos. Acordar com o canto dos pássaros é um dos privilégios.

Parece uma orquestra comandada por Claudio Santoro com os sons melódicos, grasnantes e ciciantes. Todo o mato canta quando os pássaros resolvem trinar. Surgem sons de múltiplos lados e buracos. A variedade de aves depende da multiplicidade de árvores. Eles são atraídos pelas que fornecem alimentos. Quanto mais a gente olha, mais surgem pássaros.

Em nosso território, aparecem o saí-azul, o tucano, a andorinha-pequena-de-casa, o beija-flor-tesoura, o gavião-de-cauda-curta, o anu-branco, o fim-fim, o periquitão-maracanã, entre outros.

Os macaquinhos-pregos são outra atração. De repente, a gente percebe um alvoroço aéreo. São eles chegando. Têm mais habilidade do que os acrobatas do Cirque du Soleil. Certa vez, vi um macaco caminhar em cima de uma cerca de arame farpado, sem olhar para baixo e sem sofrer nenhum arranhão.

Não sou paranoico, mas gosto de silêncio, e esta é mais uma qualidade dos condomínios. Embora, de vez em quando, alguém faça uma festa de arromba de virar a madrugada. Gosto de tranquilidade para mergulhar em longas leituras.

O nosso condomínio contou com a sorte de ter ecologistas bravos na defesa do meio ambiente. Já teve Everett Lee, americano que soltava palavras cabeludas com sotaque carregado: ;PQP!” E, agora, temos a Shirley, bióloga competente, que nos educa sobre o meio ambiente.

Cultivar plantas é outra dádiva. Elas alegram a casa. Por isso, muitos viveiros se instalam na região. Não conheço todos os condomínios, mas tenho curiosidade e flanei por alguns de diferentes topografias: planos, montanhosos ou instalados em regiões de vales.

Alguns são bem equipados para o lazer, permitem caminhadas, malhação e piadas. A tranquilidade convive com uma vida social intensa, se o morador quiser. As festas de são-joão são ótimas. Fui a uma em outro condomínio num arraiá grande em que ninguém pagava nada para comer.

Levei meu sogro para conhecer um terreno em um condomínio situado em local alto, pontilhado de montanhas. Sertanejo bravo de Itapipoca, no Ceará, engenheiro agrônomo e topógrafo, ele só gostava de planuras.

Permaneceu em um silêncio tenso e enigmático o tempo todo. Mas eu não tenho medo de franqueza e, mesmo alertado para evitar perguntas, indaguei o que achava do lote: ;Maravilhoso, principalmente porque não vou morar aqui. Eu sou lá cabrito para morar em montanha;.

Vejam só como é a vida. Eu gosto de montanha e habito um vale. Mas morar em condomínio é muito bom para quem gosta de recolhimento, arejamento, passarinhos, tranquilidade e plantas: ;Todas as plantas fazem parte de uma organização que os religiosos chamam de Deus;, ensina Burle Marx.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação