postado em 02/09/2019 04:07
Um espaço singular, com estrutura de madeira, encravado em uma área de preservação ambiental, com traços da arquitetura modernista de Niemeyer. Essa foi a sede de governo na década de 1950: o Catetinho, primeira residência oficial do então presidente Juscelino Kubitschek em Brasília. O projeto de Oscar Niemeyer apresenta referências da época, por meio do mobiliário original. Desde fevereiro, o espaço passa por um processo de revitalização, que vai durar até setembro. ;O Catetinho tem uma importância simbólica gigantesca, então não foi à toa que o priorizamos para passar por uma restauração entre todos os equipamentos culturais;, explica Cristian Brayner, subsecretário do Patrimônio Cultural.
O processo de revitalização cumpre uma série de etapas. O primeiro passo foi reestruturar as calçadas de passeio que dão acesso à trilha e à nascente Tom Jobim. A fonte de água inspirou a composição da clássica Água de Beber, parceria de Tom e Vinícius de Moraes. A inspiração veio após os dois se hospedarem por 10 dias no Catetinho para compor a Sinfonia da Alvorada, poema sinfônico em comemoração ao primeiro aniversário de Brasília, em 1961. ;O apelido que se dava para Juscelino Kubitschek na época era de Presidente Bossa Nova, porque ele vendia muito bem o ritmo. Tinha esse ar de modernidade, nos discursos aparentava simpatia e gingado;, conta André Moura, historiador e especialista em educação patrimonial.
O jardim que abriga a estátua de Juscelino Kubitschek também foi revitalizado. ;Fizemos a poda, o corte de algumas plantas e plantamos algumas espécies nativas do cerrado;, afirma a gerente do museu, Artani Pedrosa.
Outro problema que comprometia até a segurança dos visitantes e funcionários eram as caixas de colmeias. Para isso, foi feito um processo de retirada e a captura não destrutiva das abelhas. ;Como a parede ficou com vários buraquinhos, nós fizemos a calafetação, ou seja, tampamos os buracos de todo o edifício com uma massa não ácida para conter a infestação do inseto. Foi um procedimento lento e trabalhoso, mas com sucesso;, argumenta a gerente.
Próximos passos
Quem visita o Catetinho e vai pela Rodovia BR 040, sentido Gama, tem de fazer o retorno próximo ao posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Mas, daqui a 20 dias, os visitantes terão outra opção de trajeto. Isso porque está sendo construído um novo acesso ao museu. A entrada passará a ser pelo Brasília Country Club (BCC). As placas da rodovia foram trocadas pela nova sinalização. ;Isso diminuirá cerca de 6km. Acreditamos que com essa mudança poderemos atrair mais visitantes de maneira fácil e rápida;, diz Artani.
Como maneira de aproximar mais turistas e brasilienses ao patrimônio histórico, a Secretaria de Cultura vai colocar legendas detalhando os cômodos e o acervo do prédio. ;Quando o pessoal chega aqui, fica imaginando como era naquele tempo e não tem um referencial que explique o que são os objetos e a importância deles;, argumenta o subsecretário de Patrimônio Cultural.
Além disso, em uma estrutura abandonada, funcionará um centro educativo para a comunidade em geral. O serviço promoverá ações de educação ambiental, como identificação e estudo das árvores.
Lugar de paz
A auxiliar de lavanderia Dusângela Santana, 54 anos, visitou o Catetinho pela primeira vez na última sexta-feira. Ela foi acompanhar o ex-marido, Nilton de Jesus Porto, 51, que faz tratamento em uma clínica de reabilitação. ;Nós temos uma relação de amizade e me senti no dever de vir com ele nesse passeio;, diz.
Para ela, conhecer a primeira casa do presidente Juscelino Kubitschek foi um prazer. ;Eu vim para Brasília com 8 anos, mas nunca tinha visitado esse monumento. A gente sai daqui renovada pelo clima leve e pelo verde da natureza. Estou adorando e tirando foto de tudo;, brinca.
A enfermeira Francicleide Félix de Nascimento, 40, e mais outras duas colegas guiaram a visita dos pacientes da clínica. ;Queríamos fazer um passeio diferente. A maioria deles têm mais de 50 anos e não conhece a história da capital. Então, quando os pacientes chegam aqui, a alegria é certa;, conta.
O Catetinho é um dos monumentos de Brasília mais visitados pelos turistas e pelos brasilienses, além de estudantes do ensino fundamental. Segundo a Secretaria de Cultura, em agosto deste ano, 4.526 pessoas visitaram o museu. No ano passado, o número era de 2.954, no mesmo período. Um outro percentual mostra quem visita mais. Em primeiro lugar, vêm os turistas de outras unidades da Federação (48,8%), seguidos por brasilienses (31,1%), estudantes (18,6%) e turistas internacionais (1,5%). ;Estamos muito felizes com esse aumento de público. Isso demonstra que estamos caminhando para o sucesso;, comenta Artani.
* Estagiárias sob supervisão de Severino Francisco