Walder Galvão, Sarah Peres
postado em 03/09/2019 06:00
Peritos do Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Civil devem concluir nesta terça-feira (3/9) os laudos (cadavérico, do carro e do local onde o corpo foi encontrado) referentes à morte da advogada Letícia dos Santos Curado de Melo, 26 anos, ocorrido em 23 de agosto passado. O resultado indicará se a vítima sofreu violência sexual por Marinésio dos Santos Olinto, 41, assassino confesso. A análise permitirá que o material genético dele seja cruzado com o banco de dados de mulheres violentadas e mortas na capital para apontar possíveis crimes cometidos pelo cozinheiro. Além de Letícia, ele também confirmou ter matado, em junho deste ano, a auxiliar de cozinha Genir Pereira de Sousa, 47.
Conforme informações da Polícia Civil, Marinésio é indicado como suspeito em possíveis 14 casos. Somente na tarde desta segunda-feira (2/9), três mulheres procuraram a 31; Delegacia de Polícia (Planaltina) e afirmaram que foram atacadas pelo cozinheiro. O relato mais antigo é de uma confeiteira de 39 anos, que, após sofrer uma tentativa de estupro e ameaça de morte, decidiu deixar o Distrito Federal. O caso ocorreu em 2011.
A vítima contou que estava em uma parada de ônibus de Sobradinho, aguardando o coletivo para Planaltina, onde trabalhava na época. Durante a espera, Marinésio teria passado de carro no local e afirmado ser motorista de transporte pirata. ;Entrei no veículo e tentei dar o dinheiro da passagem, mas ele não aceitou. Nesse momento, já achei estranho. Pouco tempo depois, ele começou a passar a mão em mim;, relembrou.
;Fiquei desesperada. Mas disse que faria tudo que ele quisesse e, assim, ele ficou mais tranquilo. Contudo, ele continuou passando a mão em mim, até chegar nas minhas partes íntimas;. O suspeito desviou o trajeto para Planaltina e parou o automóvel em um local deserto. ;Foi quando consegui fugir, correndo. Ele ainda puxou meu cabelo, me xingou muito e fez ameaças de morte. No entanto, consegui me desvencilhar e sair de lá;, afirmou ao Correio.
A confeiteira foi para casa e, com medo de ser atacada novamente pelo acusado, decidiu não prestar queixa na polícia. Ela se mudou para Águas Lindas de Goiás. Quando a prisão de Marinésio foi divulgada, ela procurou a 31; DP por telefone. Nesta segunda-feira (2/9), agentes da unidade a buscaram na Rodoviária do Plano Piloto, para que ela registrasse o boletim de ocorrência. ;Senti-me encorajada pelas outras mulheres que morreram e pelas que sobreviveram. Agora, só quero vê-lo pagar pelos próprios crimes. Eu poderia ter acabado igual às mulheres que foram mortas (Letícia e Genir), mas tive sorte;, disse.
Outros casos
Ainda na tarde desta segunda-feira (2/9), uma diarista de 46 anos também procurou a 31; DP. De acordo com ela, o cozinheiro tentou abusá-la na manhã de 14 de abril deste ano. ;Estava na parada de ônibus da Feira Regional de Planaltina. Moro em Arapoanga e ele passou dizendo que ia para lá. Entrei no carro, mas vi que ele estava indo para o caminho errado;, contou à reportagem. ;Ao perceber que havia algo errado, menti. Disse que era ex-presidiária por ter matado um homem e que faria isso novamente. Ele se assustou, deu ré no carro e ficou calado. Em seguida, parou e eu desci;, desabafou.
A vítima disse que Marinésio ainda pediu um beijo quando ela estava descendo do carro. ;Senti-me envergonhada com a situação. Não quis contar para ninguém até hoje. Por causa disso, faço tratamento psiquiátrico e já tentei tirar minha vida. O caso e todos os crimes imputados a ele me fizeram piorar;, lamentou.
A terceira mulher a procurar a 31; DP foi uma estudante de 21 anos, que contou ter sido atacada dentro do carro do agressor. O caso ocorreu em 2017, quando ela tinha 19 anos. Ela saiu da casa de uma amiga, no Núcleo Bandeirante, e desembarcou na Rodoviária de Planaltina, por volta das 18h. Ali, ela aguardava a condução para chegar em casa, no bairro Vale do Amanhecer, na cidade.
;Ele (Marinésio) se passou por motorista de transporte pirata e, como tinha o costume de pegar esse tipo de condução, entrei no carro dele. Mas, no trajeto, ele passou direto nas paradas e não pegou outros passageiros. Fiquei nervosa, mas não demonstrei estar desesperada. De repente, ele começou a falar que eu era muito bonita e passou a mão em mim. Entrei na onda dele porque senti que a qualquer momento ele poderia me matar;, salientou ao Correio.
Com medo, a estudante não reagiu às investidas do motorista. ;Ele não tirou a mão de mim. Para sair do automóvel, prometi que sairia com ele. Fiquei tão assustada que me mudei no outro dia, porque ele viu onde eu residia;, disse. ;Só decidi denunciar porque minha mãe me incentivou. Quero que ele fique preso o resto da vida;, finalizou a jovem.
Reconhecimento
Nesta semana, Marinésio Olinto será levado à 6; Delegacia de Polícia (Paranoá), para ser reconhecido por duas supostas vítimas. As mulheres, uma adolescente de 17 anos e uma copeira de 43, afirmaram que o cozinheiro as obrigou a entrar em um veículo vermelho. No sábado, o irmão do suspeito prestou depoimento na unidade policial e disse que tinha um automóvel nessa cor que emprestava a Marinésio eventualmente.
O cozinheiro está preso no Departamento de Polícia Especializada, no Complexo da Polícia Civil, no Parque da Cidade, desde 24 de agosto. Como é suspeito em outros inquéritos policiais, ele deverá ficar detido no local até que a Justiça converta a prisão temporária de 30 dias em preventiva ; sem data de expiração. Só então será encaminhado para o Complexo Penitenciário da Papuda.
Marinésio já prestou depoimento na Divisão de Repressão ao Sequestro (DRS) na quinta-feira passada. Apesar de ele negar o envolvimento no desaparecimento da doméstica Gisvania Pereira dos Santos, 33, ele ainda é suspeito, segundo o delegado Leandro Ritt, chefe da unidade especializada.
;Ele segue como suspeito do crime. Mas vale destacar que o perfil de atuação no desaparecimento da Gisvania não se encaixa perfeitamente no modus operendi de Marinésio. Ela não estava em uma parada de ônibus, como as outras vítimas. Contudo, não descartamos a autoria do Marinésio. Aprofundaremos nossa investigação técnica, colocando-o na cena do crime. Ele segue como uma das linhas de investigação;, garante Leandro Ritt.
Entre assassinatos e ameaças
As denunciantes
; Duas irmãs, de 18 e 21 anos, foram abordadas por Marinésio em 24 de agosto, um dia depois do assassinato de Letícia Curado. Elas saíram de uma festa e pegaram uma carona com o cozinheiro. Elas fugiram, após uma delas ameaçar quebrar o carro com uma barra de ferro que encontrou no banco de trás da Blazer. O relato foi feito na Delegacia de Polícia (Planaltina)
; Jovem de 23 anos sofreu assédio de Marinésio em 11 de agosto. Ela saltou da Blazer em movimento para se salvar. O caso é investigado pela 31; DP
; Adolescente de 17 anos alega ter sido rendida por Marinésio em 1; de abril em um carro vermelho. Ela também afirmou ter sido estuprada para agentes da 6; DP (Paranoá)
; Uma moradora de 43 anos do Paranoá relatou na 6; DP que foi estuprada e ameaçada de morte por Marinésio em 2017
; Uma confeiteira de 39 anos disse aos investigadores que, em 2011, foi atacada por Marinésio, em Sobradinho. O criminoso se passava por motorista de transporte pirata, e ofereceu o serviço para a suposta
vítima. À época, a moça ficou com medo e não registrou ocorrência. Temendo ser perseguida, se mudou para Águas Lindas de Goiás. Ontem, ela procurou a 31; DP, após divulgação do caso.
; Uma diarista de 46 anos foi supostamente atacada por Marinésio, na manhã de 14 de abril deste ano. Ela disse que mentiu ser ex-presidiária para que o cozinheiro não tentasse estuprá-la. A vítima conseguiu fugir e procurou a 31; DP ontem.
; Uma estudante de 21 anos procurou a 31; DP ontem, contou ter sido abusada por Marinésio em 2017. Na época, a vítima tinha 19 anos. Ela relatou que o cozinheiro passou a mão nela dentro do carro e, depois, a deixou ir embora. O caso ocorreu em Planaltina e, por medo, a jovem decidiu se mudar da região.
Ainda sem registro de ocorrência
; Moradora do Gama entrou em
contato com a 6; DP e foi orientada a procurar a 20; DP (Gama), mas não registrou ocorrência até o fechamento
desta edição
; Moradora de Vicente Pires entrou em contato com a 6; DP e foi orientada a procurar a 38; DP (Vicente Pires), mas não registrou ocorrência até o fechamento desta edição
; Vítima atacada em outubro de 2018. Ela sobreviveu, mas a forma de atuação do suspeito é semelhante à de Marinésio. Ela entrou em contato com a 31; DP (Planaltina) e afirmou que prestará depoimento
Reabertura de casos
; Desaparecimento da empregada doméstica Gisvania Pereira dos Santos, 33 anos, em 6 de outubro de 2018. Marinésio poderá ser indiciado como sequestrador dela. A mulher nunca apareceu, e o caso está com a Divisão de Repressão ao Sequestro (DRS)
; Morte da adolescente Carolina Macedo Santos, 15. A jovem foi encontrada morta no Lago Paranoá, em 17 de maio do ano passado. À época, policiais concluíram que a garota cometeu suicídio. Contudo, o laudo cadavérico indicou sinais de asfixia.
A vítima era amiga da filha de Marinésio e vizinha da família dele. O caso foi reaberto em
29 de agosto, pela 10; Delegacia de Polícia (Lago Sul) ; Colaborou Bruna Lima