postado em 04/09/2019 04:07
A Universidade de Brasília (UnB) depende do desbloqueio, ainda em setembro, dos mais de R$ 48,5 milhões da verba federal para continuar funcionando. Mesmo após a liberação de 7% do recurso, na última segunda-feira, na prática, parte desse montante continua retido por falta de crédito. Enquanto a expectativa da colaboração do Ministério da Educação (MEC) para o fim do contingenciamento não se concretiza, a comunidade acadêmica vive um momento de incerteza e apreensão.
Como a maior parte do corte de 30% no repasse à UnB ; previsto pela Lei Orçamentária de 2019 ; afeta a área de manutenção, para poder garantir serviços como limpeza e vigilância e impedir que água e luz fossem cortados, a instituição precisou remanejar verbas de outras áreas. Com isso, houve drástica redução nos repasses as 27 unidades acadêmicas, além de suspensão na aquisição de livros, materiais institucionais e de laboratórios.
Nos laboratórios frequentados pela estudante de graduação de química Letícia Silveira, 39 anos, falta utensílios básicos para o desenvolvimento de pesquisas e projetos de iniciação científica. ;Muitos laboratórios estão sem reagente, os anfiteatros sucateados. Isso, para nós, é catastrófico. Há cinco anos, quando entrei, tínhamos uma universidade que sobrevivia a muito custo e agora está ficando cada vez mais impossível;, reclama Letícia.
A graduanda pretendia avançar na carreira acadêmica, mas com a atual situação, vê o sonho cada vez mais distante. ;Nem me iludo, as bolsas estão sendo cortadas. Quem tem condição, está indo para fora do país, pois não querem ficar em um local em que desprezam o desenvolvimento do conhecimento;, diz Letícia.
Além do bloqueio do MEC, outros cortes, por parte do Ministério da Ciência e Tecnologia e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), resultaram na suspensão de bolsas de pós-graduação e de pesquisas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Remanejamento
Para que a conta feche, a decana de Planejamento, Orçamento e Avaliação Institucional, Denise Imbroisi, não vê outra saída senão a liberação dos
R$ 48,5 milhões até o fim do mês. ;Estamos fazendo uma verdadeira ginástica orçamentária, trabalhando com datas de vencimento e postergando pagamento de recursos, avaliando, inclusive, a necessidade de se pagar multas. Chegamos ao limite e contamos a compreensão do governo. Não há mais condições de nos mantermos sem o dinheiro cujo uso já é planejado desde o ano anterior;, afirma.
O esforço da equipe está em não deixar com que a universidade decline, diz Denise Imbroisi. ;Nosso objetivo é manter o ensino e pesquisa de excelência e nossa obrigação como servidores é colocar todo o empenho para que isso aconteça. Há todo um esforço de sensibilização para mostrar a importância que se tem a academia bem qualificada para a construção do futuro;.
As articulações para manter serviços básicos da UnB em funcionamento são notadas pela caloura do curso de ciências contábeis Ana Carolina Lima, 19 anos. ;A impressão que nós tínhamos antes de as aulas começarem é de que a UnB não funcionaria neste semestre. Vejo a força de vontade dos professores em se virarem e não deixarem cair a qualidade de ensino. Sabemos que o prejuízo maior são nas iniciações científicas e isso nos deixa com um sentimento de incerteza. Espero que os governantes acordem para isso;, opina a estudante.
A Universidade de Brasília está no 15; lugar entre as instituições de ensino superior da América Latina, de acordo o Times Higher Education (THE). Em 2018, ingressou pela primeira vez nos rankings das melhores universidades criadas entre os anos de 1945 e 1966 e também dos países emergentes.