Cidades

Dor na despedida de Pedrolina

Corpo da assistente social encontrada morta à beira do Lago Paranoá, após ser atacada por João Marcos Vassalo, foi enterrado, ontem, em Taguatinga. Amigos e familiares cobraram ações mais efetivas em defesa da mulher

postado em 06/09/2019 04:07
Em meio à tristeza, parentes e amigos reagiram à violência contra a mulher
O sonho de Pedrolina Silva, 50 anos, de combater a violência contra mulheres negras foi sepultado ontem com ela. Moradora do Paranoá Park, Lina morreu dois anos após se formar em serviço social, com um trabalho de conclusão de curso (TCC) justamente sobre a vulnerabilidade social de mulheres afrodescendentes. Funcionária de uma farmácia na Comercial Norte, Taguatinga, ela será lembrada também pelo espírito guerreiro, de não desistir nunca. Em um dos poucos dias de descanso, no domingo passado, ela marcou de ir a um clube com a amiga, mas foi seguida pelo vizinho João Marcos Vassalo, 20, que a estuprou e matou ; de acordo com as próprias palavras do acusado. O corpo foi sepultado no cemitério de Taguatinga. Na cerimônia, amigos e familiares lembraram da insegurança que ela sentia por conta de João Marcos.

Marinalva Alves, 42, conheceu Pedrolina na infância e ouviu reclamações da vítima sobre o autor do assassinato. ;Ela tinha comentado várias vezes que ele era um homem estranho, que a assediava o tempo todo, seguindo e falando coisas sem sentido para ela. Lembro-me que a Lina disse até que teve que mudar o caminho do trabalho, porque encontrava com ele sempre que saia de casa;, relatou. Marinalva também lamentou o triste fim de uma amiga que estava conquistando suas metas. A vítima de João Marcos havia começado a pagar sua faculdade, que terminou em 2017 com auxílio do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), e planejava uma pós-graduação. ;Lina sempre lutou muito para conseguir as coisas e estava em uma boa fase da vida;, disse.

O sepultamento de Pedrolina contou com manifestações de mulheres contra a violência de gênero. Uma faixa produzida pela família exibia a frase ;Parem de nos matar!”. A assistente social Ana Paula dos Santos, 38, estudou com Lina e demonstrou o medo que sente. ;Nós viemos para prestar homenagens, mas também pedir pelos nossos direitos. O que aconteceu com ela, pode ocorrer comigo ou qualquer outra. Precisamos de segurança para andar nas ruas sem medo de não voltar para casa;, desabafou. Jaleane Batista, 27, também estudou com a vítima. ;Fomos colegas de classe durante quatro anos e, no nosso curso, ela sempre abordou muito essas questões sociais da violência, sobre os nossos direitos e como as injustiças precisam mudar urgentemente;.

Deputado distrital, Fábio Félix contou que lecionou para Lina na Universidade Católica de Brasília. ;Era uma aluna excelente, muito dedicada. Precisamos entender que é preciso trabalhar a violência contra a mulher em todas as políticas públicas. Ir aos lugares mais vulneráveis e criar um mapa de risco para levar mais policiamento a esses locais, por exemplo. Mas também deve-se lembrar que o trabalho preventivo é o transformador e tem que ser feito na educação;.

Família pede justiça
Pedrolina deixou irmãos, mãe e um filho. Ela não era mais casada, mas familiares do ex-marido estiveram no sepultamento, como a cunhada Claudemira Lima, 36. ;Todos os parentes estão abalados, querendo justiça. O filho está traumatizado, em choque, sem conseguir entender o que aconteceu, e a mãe passou muito mal no enterro, só conseguia chorar;, contou Claudemira. O assassino pode responder pelos crimes de feminicídio, estupro e roubo, mas a investigação ainda não foi finalizada pela 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul).

;Estamos buscando testemunhas para saber detalhes do vínculo do João Marcos com Pedrolina e, assim, confirmar o caso como feminicídio ou assassinato;, informou a delegada Bruna Eiras. O preso passou por audiência de custódia, ontem, e a prisão em flagrante foi convertida para preventiva, o que significa que ele ficará preso por período indeterminado até o julgamento definitivo. Outro crime que pode pesar na condenação do acusado é uma tentativa de estupro cometida por ele com outra vítima, na terça-feira. A delegada também disse que as investigações podem ligar João Marcos a outros possíveis crimes, que serão investigados.





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