Cidades

Crônica da Cidade

postado em 06/09/2019 04:07
Quadras 500 do Sudoeste

Estamos vivendo mais um capítulo da novela kafkiana nas quadras 500 do Sudoeste, em uma batalha judicial que se estende desde 2006. O ministro João Otávio de Noronha, do STJ, derrubou a liminar que impedia a edificação da quadra. Em seu arrazoado, o ministro alegou que impedir o empreendimento acarretaria em perda para a economia e para a ordem pública.

O Ministério Público refutou os argumentos do ministro. De fato, a obra criaria alguns empregos, mas a repercussão econômica seria restrita. Em compensação, os riscos para o meio ambiente seriam enormes.

Autorizar a expansão da área residencial do Sudoeste é uma decisão insensata. Não é preciso ser um técnico para perceber que o bairro não suporta mais nenhum crescimento. Basta constatar os engarrafamentos nos horários de pico, as mudanças no clima e os problemas de escoamento na época das chuvas. É algo que compromete a ordem pública.

E um ponto fundamental é que os estudos que fundamentam a decisão de liberar as obras em uma das últimas áreas de vegetação nativa da cidade estão completamente desatualizados. Eles são de 2010. De lá para cá, muitas mudanças ocorreram.

No entanto, mesmo sem qualquer aferição científica mais rigorosa, é possível perceber claramente a ausência de sensatez da decisão de tocar o empreendimento. Se o projeto for levado adiante, serão mais 3 mil carros em circulação, segundo o cálculo de especialistas.

O regime de chuvas, o escoamento da água, o movimento de veículos e o efeito do clima precisam ser reavaliados. Não adianta se preocupar apenas com as queimadas da Amazônia. Nós temos problemas que afetarão imediatamente nossa qualidade de vida e podem ser evitados.

É espantoso que o Instituto Brasília Ambiental (Ibram) tenha aprovado a expansão do Sudoeste, um projeto com problemas graves, que saltam aos olhos de qualquer cidadão. Nós estamos sofrendo, cotidianamente, os efeitos de mudança do clima, das alterações no regime das chuvas, das inundações em prédios, entre outros. Nesse contexto, propor a expansão de um bairro é apostar no caos. Quem vai nos proteger?

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