Cidades

Do sofrimento à esperança

Correio Braziliense
Correio Braziliense
postado em 10/09/2019 04:07
Angustiados, com baixa autoestima, arredios. Assim chegam muitos dos adolescentes atendidos pelo programa Vira Vida, idealizado pelo Conselho Nacional do Sesi. O projeto, no Gama, busca resgatar jovens da situação de vulnerabilidade, em especial os que sofreram violência sexual.

Eles são marcados por negligência, abandono, abusos ocorridos, por vezes, desde a infância. Quando se apresentam, estão fragilizados, sem autoconfiança. Passaram a vida excluídos das políticas públicas. ;É a exclusão da exclusão;, diz Cida Lima, coordenadora do projeto. ;Eles ficam sem visão de futuro. Na verdade, a visão de futuro que tinham até então era escapar (dos flagelos).;

A autodestruição é uma característica comum entre eles. ;Com alguns, a gente faz um pacto de se manterem vivos;, afirma a coordenadora. O drama é impulsionado por histórias de crueldade, como a de um menino que ,desde os 7 ou 8 anos, sofria violência sexual do pai e de inquilinos que alugavam barracos do homem no mesmo lote, no Itapuã. ;Quando chegou para nós, ele estava sem identidade. Ouvia do pai que era pior do que resto de aborto, porque o aborto deu certo;, conta Cida Lima. ;Uma pessoa assim não se percebe como gente.;

A coordenadora lembra também do martírio de um outro aluno, cuja mãe, dona de um prostíbulo, o vendia a homens para sexo. O sofrimento durou dos 7 aos 12 anos, quando ele resolveu fugir de casa. Não tinha nem a 3; série ao iniciar o projeto, aos 15 anos. E deu trabalho. ;Infringia todas as regras, mas foi ele quem primeiro sofreu violações, então, nós insistimos bastante. Quanto mais problemas dá, mais amor precisa. Se depender de nós, não perdemos nenhum menino;, assegura. O garoto concluiu o ensino médio e hoje está empregado.

Outro caso de sucesso no projeto foi o de Ana, que conta sua história na matéria de abertura desta reportagem. Ela teve a vida modificada. Cursa o segundo ano do ensino médio e trabalha como Jovem Aprendiz. Para ela, o Estado deveria ser mais atuante, com políticas públicas efetivas. ;Eu cheguei a conversar com amigas (sobre os abusos), e elas olhavam para mim e diziam: ;Eu nunca, nunca ia pensar que você tinha passado por isso;. As pessoas veem como uma coisa de outro mundo, mas não é, está acontecendo agora;, afirma. (CB)

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