postado em 10/09/2019 04:08
Instituições de ensino superior da capital do país prestam um rico serviço à terceira idade, oferecendo, gratuitamente, atividades que beneficiam o corpo, a mente e as emoções. Capacitação para inclusão digital, atividade física, roda de conversa com apoio psicológico e alfabetização são apenas alguns exemplos de tarefas que estudantes de faculdades, centros universitários e universidades colocam em prática para proveito de idosos. De acordo com Thiago Póvoa, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia do Distrito Federal (SBGG-DF), esse tipo de iniciativa é fundamental. ;São serviços muito necessários. Do ponto de vista de quem envelhece, esse estímulo é muito importante;, avalia.
O valor de iniciativas do tipo tem base em duas principais necessidades de todo ser humano, incluindo os idosos: a de manter a mente ativa, aprendendo, e a de socializar. ;O cérebro é um órgão que, assim como os músculos, sofre atrofia, perde capacidades se não for muito usado;, destaca. Segundo o geriatra, que trabalha em instituições como o Hospital Brasília e Hospital Sírio-Libanês, a convivência comunitária é outro ingrediente indispensável para a qualidade de vida dos idosos. ;Diversos estudos mostram que as pessoas com mais longevidade têm em comum a vida em comunidade;, diz. ;O acesso a essa vivência pode se dar pela família, por instituições religiosas ou outras, até projetos em grupo desenvolvidos em faculdades para promover saúde, ludicidade, atividade física, formação, disseminação de conhecimento;, comenta.
Envolvimento social
De acordo com o IBGE, a depressão é um dos males emocionais que mais atinge os idosos: os brasileiros de 60 a 64 anos representam a faixa etária com maior proporção de pessoas acometidas com a doença (11,1%), entre os 11,2 milhões de brasileiros diagnosticados com depressão. Trata-se da parcela da população com maior índice do problema. A taxa de idosos deprimidos tem aumentado ao longo dos anos, o que reforça a importância de que a população com mais de 60 anos se engaje em atividades que permitam convívio social ; caso das oferecidas por instituições de ensino.
Nesses projetos e grupos, a interação, inclusive, não é somente com outros idosos, mas também com jovens, adultos e pessoas de todas as faixas etárias, pois quem organiza e ministra as atividades são estudantes, professores e profissionais. O geriatra Thiago Póvoa analisa que o maior prejuízo aos idosos que se negam a participar de atividades do tipo é o isolamento social. ;A pessoa acaba se distanciando, seja de familiares, seja de amigos. Ao não buscar o contato com outros, deixam de ser amáveis, se isolam, se retraem e ficam sem estímulo;, pondera. ;E isso abre portas para doenças como depressão, deficit de memória, mal de Alzheimer.; Na avaliação do médico, para que os idosos passem a ser mais abertos, é importante que a sociedade se conscientize do valor deles.
;Existe uma série de limitações que são inerentes ao estado clínico do idoso. Os velhinhos até dizem que quem inventou o conceito de ;melhor idade; é um canalha. A verdade é que, sim, existem restrições, mas o que a família, os amigos, o grupo social e a sociedade devem deixar claro é que ser velho é legal;, defende. ;Tem muita atividade legal que a gente pode fazer. E o estímulo da comunidade é fundamental para isso. É preciso ter uma comunidade que goste de receber o idoso.; Thiago Póvoa argumenta que essa boa recepção deve ser encontrada em todos os idosos, das calçadas aos restaurantes, das igrejas às instituições de ensino. ;Inclusive, no que diz respeito às universidades, elas precisam ser mais abertas ao saber da terceira idade. Eles têm muito o que passar, muito a dividir.;
Longevidade em alta
O aumento da longevidade humana é uma das maiores conquistas dos avanços científicos. A expectativa de vida do brasileiro é de 76 anos, enquanto a dos brasilienses é de 78 anos. E esses números só devem crescer à medida que o país se desenvolve e aumentam os cuidados com saúde e bem-estar. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) calcula que existam cerca de 30 milhões de idosos no país ; equivalente a toda a população de nações como Angola e Gana. A quantidade de pessoas na terceira idade avança a passos largos tanto aqui quanto no mundo. A OMS estima que, até 2050, os idosos chegarão a ser 2 bilhões de pessoas em todo o mundo, equivalente a um quinto da população mundial.
Conheça iniciativas de destaque
Professores, alunos e funcionários de diversas instituições de ensino do Distrito Federal voltaram seus olhos e seus cuidados para a terceira idade
Para evitar quedas
Quem avista a quadra esportiva do Centro Olímpico da Universidade de Brasília (CO/UnB) durante o horário em que são ministradas as turmas de circuito de equilíbrio pode não se dar conta, num primeiro olhar, de que os alunos que se movimentam ali com o maior vigor já passaram dos 60 anos. À frente do grupo, está a professora Juliana Nunes de Almeida Costa, que iniciou essas aulas gratuitas em 2008, com o objetivo de aumentar a confiança e reduzir o risco de quedas. Participantes como Paulo Romano, 89 anos, e Nilza Castro, 76 anos, são só elogios para a atividade. ;Eu sinto a diferença. Antes, eu ficava sem confiança em movimentos que exigem maior equilíbrio, como subir ou descer uma escada, apanhar alguma coisa no chão ou no alto, ou até caminhar;, comemora Paulo.
Nilza é veterana na atividade do CO/UnB. ;Esta é a terceira vez que participo. Eu sempre me sinto muito bem nas aulas. Prefiro o circuito do que a academia, por ser ao ar livre, ter mais interação com outras pessoas e muita alegria. Eu sou fã número um da professora Juliana;, declara a paulista, que tem um filho e três netos. Tanto ela quanto Paulo são alunos muito assíduos, algo importante para se manter na atividade. ;Tem fila de espera, quem falta e não justifica pode perder a vaga;, observa Juliana. O sucesso da turma se dá pelo fato de o circuito envolver as três esferas necessárias ao se trabalhar com idosos. ;É preciso atuar nos aspectos bio, psico e social. Se você disser para o idoso vir aqui treinar só o físico, ele vai sair correndo;, brinca.
Desde 2008, mais de 1 mil participantes passaram pelo circuito na UnB. Educadora física pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mestre em educação física e doutora em ciências da saúde pela UnB, Juliana criou o projeto durante pesquisa de mestrado e o expandiu durante o doutorado ; quando o levou para instituições como Sesc (Serviço Social do Comércio) e Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação. Juliana mantém o projeto por pura paixão. Após terminar o doutorado, ela voltou para a UnB, como professora voluntária, sem ganhar um centavo, a fim de dar continuidade ao circuito de equilíbrio. Interessados na atividade podem entrar em contato pelo telefone 3107-2557. Turmas são abertas semestralmente no CO/UnB.
O valor do apoio psicológico
A goiana Suely Pedro Veras, 65 anos, está entre as participantes de roda de conversa entre idosos promovida por alunos e professores de psicologia do Centro Universitário Iesb. A atividade ocorre no Câmpus Oeste, em Ceilândia. ;Eu vim encaminhada por psiquiatra por sofrer de depressão;, conta Suely. Há três anos, ela começou a ter sessões de atendimento individual com estudantes de psicologia da instituição. ;Depois de dois semestres, pensei: ;estou bem, vou dar oportunidade para outros;. Então, vim para o grupo, que é muito bom;, elogia. ;O mais bacana é a experiência de vida de cada um. Tem dias em que chego aqui e penso que meu problema é o maior do mundo, mas ouvindo os outros, vejo que não é, aprendo com os outros.;
Atualmente, há duas turmas em funcionamento, cada uma com cerca de 20 participantes. Quando há lista de espera, a turma pode chegar a 25. Um grupo é às terças pela manhã; o outro, nas sextas, também pela manhã. A atividade dura duas horas. A professora de psicologia do Iesb Greici Cerqueira observa que ;o objetivo do grupo é promover a saúde a partir da sociabilidade, da formação de vínculos e do encontro desses idosos que, muitas vezes, se sentem inúteis e incapazes;. Ela destaca que há muitas situações de vida que essas pessoas não têm com quem compartilhar e elas encontram no grupo um lugar seguro para trocar ideias e desabafar. ;O grupo de idosos foi pensado, principalmente, para o desenvolvimento de vínculos e pensando em atividades que possam desenvolver depois da aposentadoria;, diz a coordenadora Hannya Herrera.
A cada semestre, formandos do Iesb conduzem a atividade. ;A gente começa os encontros fazendo uma dinâmica. Depois, sugere um assunto de discussão. É na troca e na conversação que acontece aprendizagem;, explica Maria Genuína Oliveira Batista, 57 anos, aluna do 10; semestre de psicologia. As turmas da roda de conversa são abertas a cada semestre. Confira mais informações pelo telefone 3340-3747.
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