postado em 11/09/2019 04:07
Mostra BrasíliaJamais imaginaria que Nietzsche, o meu filósofo preferido, baixaria na Estrutural. Mas é isso mesmo que acontece no premiado curta de ficção Meu amigo Nietzsche, do jovem e talentoso cineasta brasiliense Fáuston Silva. Quando estava filmando, uma senhora perguntou ao diretor se Nietzsche era o nome de algum traficante da comunidade.
Nietzsche dizia que não era um homem, mas, sim, uma dinamite. Em Meu amigo Nietzsche, numa trama engenhosa, Lucas, um garoto com desempenho escolar ruim, encontra um exemplar de Assim falava Zaratustra no Lixão, e a leitura do livro desencadeia uma revolução em sua vida e na relação com a família, com a escola e com a comunidade.
Ele se transforma em um garoto-dinamite. Lucas é tomado pelas profecias de Zaratustra de maneira semelhante ao Dom Quixote, que enlouquece ao ler as aventuras de cavalaria.
Mas Fáuston mostra o confronto dramático do menino-filósofo com a comunidade de uma maneira muito inteligente e bem-humorada. Ao proclamar que ;Deus está morto!”, por exemplo, ele passa por uma sessão de descarrego em uma igreja evangélica. Na escola, arregimenta uma legião de pequenos super-homens entre os colegas.
É, simultaneamente, um filme sobre o analfabetismo funcional, sobre o poder de transformação do conhecimento e sobre a força transfiguradora da poesia. ;Avaliar é criar; sem avaliação, a existência seria oca;, proclama o garoto-dinamite, a plenos pulmões. Sem formular nenhuma tese, Fáuston toca nos temas mais espinhosos com rara delicadeza. Ele mostra que a loucura lúcida da poesia salva da mediocridade.
Meu amigo Nietzsche colecionou uma galeria de prêmios pelo Brasil e pelo mundo. Ganhou, entre outros, o Prêmio de Melhor Filme do Público e de Melhor comédia no prestigioso Festival Internacional de Clemond-Ferrand, na França, um dos mais importantes eventos do gênero. Pois bem, o filme ganhou o Prêmio Câmara Legislativa em 2012 e, com isso, decolou uma carreira internacional de sucesso.
Este ano, sob a alegação de ;austeridade;, a Câmara Legislativa deixou de conceder o prêmio de R$ 200 mil para os filmes de Brasília no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
No entanto, ao longo do ano, a Câmara Legislativa tentou trocar a frota de cinco carros no valor de R$ 449 mil e fazer licitação no valor de R$ 552 mil para alugar cercamento contra manifestações políticas na sede da Câmara. Desistiu de ambos os projetos em razão do desgaste na imagem da instituição. Enquanto isso, o dinheiro aplicado na Mostra Brasília teve retorno.
O filme de Fáuston rodou o mundo levando e colocando o nome de Brasília no alto. Por isso, gostaria de elogiar o Banco Regional de Brasília, que resolveu patrocinar a mostra ;despatrocinada; pela Câmara Legislativa. Agora, a Mostra Brasília passa a ser Mostra Brasília BRB. É a cultura que confere dignidade a Brasília. Lavro e dou fé.