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Pontes que cruzam o Lago Paranoá são repletas de histórias; conheça algumas

Por elas trafegam diariamente 274 mil veículos, muitas se transformaram em cartões-postais da cidade e agora muitas necessitam de cuidado e investimentos. Conheça um pouco das histórias e personagens dessas construções que ornamentam o Lago Paranoá

Bruna Lima
postado em 15/09/2019 08:00
Ponte JKSobre as terras vermelhas e um pequeno vilarejo desocupado, o cerrado virou lago, em 1959, a partir das águas represadas do rio Paranoá. Dois anos mais tarde, a travessia pelo braço do Córrego Bananal foi inaugurada. A Ponte do Bragueto permanece sendo o eixo de escoamento do trânsito da área central de Brasília à Saída Norte. Entre uma margem e outra do Lago Paranoá, hoje são seis pontes que possibilitam o fluxo diário de mais de 274 mil veículos.

Com o projeto da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), o primeiro acesso sobre as águas ao Lago Paranoá foi construído pela empresa Bragueto. À época, era comum encontrar placas com o nome das construtoras, o que acabava servindo como um identificador da obra. Há quem diga que o nome é uma homenagem a um operário pioneiro da cidade. De uma forma ou outra, este é o nome oficial registrado para a construção que, com a recente ampliação do Trevo de Triagem Norte, ganhou duas ramificações: a ponte Leste e a Oeste. Mesmo sendo a primogênita e filha única durante 14 anos, não se atribui a ela o título de ;primeira ponte;.

A referência de pioneirismo fica a cargo da Ponte das Garças. A quantidade de pássaros que pousavam nas estruturas deu nome à passagem. O que poucos sabem é que Ponte das Garças é apenas um apelido, já que o nome oficial é Ponte Presidente Médici, uma homenagem ao general-presidente, que exerceu mandato entre 30 de outubro de 1969 e 15 de março de 1974.

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Fim do isolamento

Por desembocar no Centro Comercial Gilberto Salomão, a travessia de 300m de comprimento e 18m de largura também ficou conhecida como Ponte Gilberto Salomão ou do Gilberto, para os mais íntimos. É assim que o advogado José Cupertino, 64 anos, até hoje se refere ao local. Morador de Brasília desde 1961 e frequentador do Lago Sul, antes mesmo da conexão entre as duas margens, ele conta que os encontros com os amigos que moravam do outro lado das águas ficaram mais rotineiros. ;Era uma necessidade antiga dos moradores que viviam isolados. A única entrada viável acontecia pelo balão do aeroporto, conhecido como ;Bambolê da Dona Sarah;. Era um local muito bonito, ajardinado, mas também relativamente perigoso por ser um ponto de rachas (corrida de carros);, lembra.

Além de comodidade, o acesso também trouxe valorização imobiliária para o Lago Sul. ;Os lotes eram repassados a preços simbólicos. A especulação imobiliária só cresceu depois que se viabilizou a passagem;, afirma Cupertino. A obra durou pouco mais de seis meses, sendo inaugurada em 14 de janeiro de 1974. Segundo o engenheiro projetista Walmor Zeredo, 85 anos, se trata de uma construção simples e objetiva, pensada para cumprir o desejo do então governador, Hélio Prates, de concluir o mandato sendo o responsável pela construção da primeira travessia a beneficiar os moradores do Lago Sul.

;A Ponte Costa e Silva já estava em construção, mas acabou interrompida (temporariamente). Como o problema estava difícil de resolver, a solução do governador foi fazer uma nova ponte. Topei. Foi uma correria para inaugurar, uma aventura fantástica;, conta Walmor.

Em todas as estruturas sobre o Lago, há um dedo de Walmor, que tem mais de 200 obras entre pontes e viadutos, somente na capital. Ele acompanhou a construção da Terceira Ponte e é dele o cálculo do Trevo de Triagem Norte, que inclui as duas novas pontes paralelas à do Bragueto. ;Na Segunda Ponte, eu fiz a reforma. Antes só existiam duas faixas, uma de ida e outra, de volta. Acrescentamos uma pista e fizemos as barreiras com pré-moldado, uma novidade à época;, acrescenta.

Oscar

A ponte que abriu o rol de construções sobre as águas, em 1973, para ligar a Avenida das Nações à Península Sul, antigamente era conhecida como Ponte do Oscar. Isso porque foi projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, seis anos antes de sair do papel. ;A ponte deve apenas pousar na superfície como uma andorinha tocando a água;, escreveu o criador de Brasília. Tornar realidade a idealização não foi uma tarefa fácil. Por anos, ficou paralisada, sendo concluída somente em 1976.

A obra se tornou não apenas um marco da arquitetura, mas um feito histórico. A complexidade da construção transpassa o nível das estruturas ; formada por um vão central de 200 metros e outros dois laterais de 100 metros, cada ; e recai sobre a identificação. Batizada pelo criador como Ponte Monumental, mais tarde virou Ponte Costa e Silva, segundo presidente da ditadura militar. O período em que governou ficou conhecido como ;anos de chumbo;, pela censura e repressão aos opositores.

Em 2012, um coletivo de arte urbana fez uma modificação na placa e rebatizou a ponte de Bezerra da Silva, um sambista pernambucano. A ação visava chamar a atenção para a homenagem de um presidente não eleito democraticamente e responsável pela instauração do AI-5.

Em 2015, o nome foi oficialmente trocado para Honestino Guimarães, líder estudantil morto durante o regime militar. A Justiça, no entanto, revogou a lei. A mais recente intervenção quanto à nomenclatura da ponte faz jus ao palco democrático que se tornou a arquitetura. Um grupo de feministas fixou uma faixa em tributo à Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro assassinada em 14 de julho de 2018, após sair de um debate com jovens negras, na Lapa (RJ).

Reflexão

O conjunto da obra, com os aspectos políticos, artísticos e naturais, é o que faz da Segunda Ponte ; mais uma das nomenclaturas atribuídas ao local ; a que mais inspira o poeta Nicolas Behr. ;É a mais charmosa delas. Me provoca um sentimento estético que inspira e é, de fato, monumental, totalmente harmônica com Brasília, diferente da ponte JK, que, na minha opinião, compete com a cidade, acaba sendo metida demais;, brinca.

Inaugurada em 2002, a Ponte Juscelino Kubitschek, também conhecida como Ponte JK ou Terceira Ponte, também fez o exagero refletir nos cifrões. A estrutura de 1,2 quilômetro de comprimento e 40 metros de altura ostenta o título de mais bela ponte do mundo ; o projeto de Alexandre Chan recebeu o prêmio Gustave Lindenthal Medal na Conferência Internacional de Pontes, em 2003 ; e chegou a custar R$ 186 milhões, quase cinco vezes mais do que a estimativa inicial. Pela acusação de desvio de dinheiro público destinado à área de saúde do DF, a passagem também foi ironicamente chamada como de Ponte dos Remédios, à época das denúncias do Ministério Público.

;Não deixa de ter a importância turística e funcional nem de embelezar a capital aos olhos de muitos;, pondera Nicolas Behr. Para o poeta, há apenas um problema que assola todas as pontes. ;Ainda temos uma ditadura. Ela que afasta o olhar mais poético e que, muitas vezes, é a única solução devido à falta de alternativas de mobilidade urbana. Vivemos a ditadura do trânsito e não tem ponte que sustente.;

Intervenção

Os 12 artigos, 10 parágrafos e sete itens do Ato Institucional n; 5 davam ao presidente, à época o general Costa e Silva, poderes para cassar mandatos eletivos, suspender direitos políticos, demitir ou aposentar juízes e outros funcionários públicos, suspender habeas corpus em crimes contra a segurança nacional, legislar por decreto e julgar crimes políticos em tribunais militares.

Necessidade de manutenção

A queda do viaduto no Eixão Sul, em fevereiro de 2018, acendeu o alerta sobre os riscos e necessidades de intervenções em outras obras. As pontes do Bragueto, Costa e Silva e das Garças entraram no rol das 12 estruturas que deveriam passar por reparos urgentes, segundo relatório do Tribunal de Contas do DF.

Em junho, outras duas travessias (Leste e Oeste) na Saída Norte substituíram completamente o trânsito da Ponte do Bragueto, construção que apresentava buracos, erosões, rachaduras e infiltrações. As pontes paralelas fazem parte das obras do Trevo de Triagem Norte, rebatizado, por meio de decreto, como Complexo Joaquim Roriz, em setembro de 2018.

A remodelação da Ponte do Bragueto, iniciada em junho, é a última fase da obra do complexo, que inclui, ainda, a implantação de pistas marginais, ciclovia e 13 viadutos. De acordo com o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF), a previsão para a finalização das obras é março de 2020.

Os reparos e manutenções das outras três passagens sobre o Lago Paranoá são de responsabilidade da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap). A primeira a passar por intervenções foi a Ponte das Garças.

Em março de 2018, a empresa efetuou trabalhos de recuperação dos guarda-corpos, laje do canteiro central, drenagem e capa asfáltica. Recentemente, foram realizadas vistorias com inspeção subaquática, quando se constatou que seria preciso fazer manutenções corretivas e preventivas nos pilares centrais. ;A Novacap está desenvolvendo projeto básico de recuperação estrutural para contratação de obra com elaboração de projeto executivo, a ser finalizado até 2020;, informa, por meio de nota oficial.

Quanto à Ponte Costa e Silva, estudos também apontaram a necessidade de manutenções, além de revitalização do guarda-corpo, iluminação e do revestimento asfáltico. A licitação para executar as demandas deve ser aberta entre outubro e dezembro e está estimada em R$ 10 milhões.

A Ponte JK também passará por reforço, recuperação estrutural e revitalização, incluindo repintura dos arcos e recapeamento asfáltico. O processo licitatório, no entanto, foi interrompido no ano passado e, por isso, o projeto passa por uma atualização orçamentária. A estimativa é que o novo edital seja liberado em outubro, com estimativa de gastar R$ 30 milhões com as obras.

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