Cidades

O adeus a Lilian Cristina

Corpo da 20ª vítima de feminicídio do DF foi enterrado ontem. Na última quinta-feira, ela foi assassinada pelo ex com uma facada no coração

postado em 15/09/2019 04:07
Familiares usaram camisetas com as frases %u201Csaudades eternas%u201D e %u201Cpare de nos matar%u201D

Apenas duas flores restaram no ipê amarelo do cemitério de Sobradinho. O colorido das pétalas esperou para receber, sob a sombra da árvore, o corpo de Lilian Cristina da Silva, 25 anos, 20; vítima de feminicídio no Distrito Federal em 2019. Ela foi enterrada na tarde de ontem, em um dia com sol escaldante e lágrimas dos vários amigos e familiares, que usavam camisetas com as frases ;saudades eternas; e ;pare de nos matar;.

Na última quinta-feira, uma facada no coração, dada pelo ex-namorado, tirou a vida da jovem conhecida por todos pela alegria. Lillian foi assassinada pelo ex-namorado Jhonnatan Neto, 36 anos, dentro de casa, no Paranoá. Ciúmes teriam motivado o crime. Na ocasião, ele encontrou a mulher em casa com o atual companheiro e, com ódio, desferiu a facada no coração da vítima.

Mãe de cinco crianças, ela se dividia entre os estudos em uma escola para jovens e adultos, e o trabalho. Os mais velhos, um menino de 9 anos e uma menina de 6, sabem do acontecido. Segundo a avó, Damiana da Silva, 48 anos, o neto, por compreender melhor a situação, foi quem mais se emocionou. ;Primeiro, ele só deixou escorrer uma lágrima. Depois, foi para a casa de um vizinho e chorou como um condenado;, lembra.

Ele e a irmã já eram criados pela mãe de Lilian. A jovem cuidava apenas da caçula, uma menina de pouco mais de 1 ano. As outras duas crianças moram com o pai e a avó paterna. ;Ela estava se reerguendo, estudando para trabalhar, conseguir uma vida melhor e pegar os meninos de volta. Por causa de um cara que não sabe reconhecer que em mulher não se bate, eu enterro a minha filha;, emociona-se Damiana.

A mãe lembra que chegou a conhecer o assassino da filha. ;Ela levou em casa para apresentar, mas disse a ela que não tinha ido com a cara dele. Senti que tinha alguma coisa errada;, recorda. ;Quando nos vimos de novo, eles já tinham terminado e eu falei para dormir com um olho aberto e outro, fechado;, completa. Logo após o crime, Damiana acionou o Conselho Tutelar e agora está cuidando do bebê, além dos outros dois netos.
Justiça

A família de Lilian quer justiça. Os pais não poupam palavras para falar da dedicação da moça, que sonhava ser cabeleireira profissional. Atendia em casa, fazendo cabelos e unhas, e, no tempo livre, estudava para ser maquiadora. Na chácara onde morava, fazia serviços gerais. Quando precisava de alguma ajuda, recorria ao pai, Adão Nunes, 50 anos. ;Minha filha só queria ser feliz. Já fazia tempo que ela não queria saber dele [o ex], mas ele ficava na cola dela;, acrescenta.

Por decisão da família, não houve velório. Antes do sepultamento, os familiares se reuniram em círculo ao redor do caixão e, de mãos dadas, fizeram uma oração. ;Todo mundo tem direito de ter liberdade. Se fosse Deus que tivesse levado, a gente iria entender, mas desse jeito, não;, diz o pai, desconsolado.

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